segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

DONS DO ESPÍRITO SANTO NA CONTEMPORANEIDADE


Eraldo Luis Pagani Gasparini

Infelizmente muitas vezes fazemos escolhas que não agradam a ninguém, ficamos em um ponto que julgamos ser o mais equilibrado e descobrimos que conseguimos a antipatia e a inimizade de ambas as partes que queríamos reconciliar. Em relação aos dons espirituais tenho uma posição que não agrada nem a pentecostais, nem a tradicionais.
Não sou teólogo, sou um cristão leigo, sou pós-graduado em História das Religiões e já fui professor de História da Igreja em algumas instituições teológicas. É a partir desse conhecimento que construí a minha posição sobre essa questão pneumatológica. Não vou entrar na questão exegética, porque já houveram muitas abordagens nessa área.
Sobre a questão dos dons espirituais, através da minha formação em História, descobri que há mais questões ideológicas do que teológicas envolvidas. Quando houve a Reforma Protestante no século XVI houve uma grande discussão envolvendo qual igreja seria a verdadeira, a católica ou a protestante, pois na época imperava ainda o pensamento “EXTRA ECCLESIAM NULLA SALVATIO” (traduzido do latim: Fora da Igreja, Não há salvação). Já que a Igreja é a detentora dos meios de salvação, qual é a verdadeira?
Os católicos diziam que eram eles, pois eles tinham a tradição, a sucessão apostólica. Os protestantes diziam que eram eles, pois para eles a igreja católica havia apostatado da fé e eles que seguiam o Evangelho (daí evangélicos). Os católicos contestavam os protestantes dizendo: onde estão os sinais, os milagres para atestar suas palavras?
E os reformadores não tinham sinal algum, eram todos homens de cátedra, acadêmicos, como Lutero, doutor em teologia ou Calvino formado em direito. Eram homens que pensavam, analisavam e concluiram diante da leitura das Escrituras Sagradas que a Igreja da época havia se desviado dos ideais da Igreja Primitiva. João Calvino não expulsava demônios, Martinho Lutero não orava em línguas, Ulrich Zwingli não tinha o dom de curar, mas manejava bem uma espada.
Lutero vai afirmar:
- “É melhor a Verdade sem milagres do que a mentira, ainda que faça chover milagres”.
E em outra parte Lutero vai dizer:
- “Fiz uma aliança com Deus: que Ele não me mande visões, nem sonhos, nem mesmo anjos. Estou satisfeito com o dom das Escrituras Sagradas que me dão instrução abundante e tudo o que preciso conhecer tanto para esta vida quanto para a que há de vir”.
Calvino vai escrever:
“Por exigirem de nós milagres, agem de má fé. Ora, não estamos a forjar algum evangelho novo; ao contrário, retemos aquele mesmo à confirmação de cuja verdade servem todos os milagres que outrora operaram Cristo como os Apóstolos”.
Assim os Reformadores passaram a pregar que os dons espirituais e milagres cessaram com a morte do último apóstolo e com o fechamento do cânon da Escrituras. Foi essa maneira que eles acharam para defender a fé evangélica, negando a contemporaneidade de milagres e afirmando que os milagres que ocorriam na Igreja Católica eram frutos da superstição e do maligno, já que embasados na idolatria e no uso de relíquias.
Foi dessa disputa, desse entrevero ideológico que surgiu a doutrina do cessamento dos dons espirituais e milagres, dai cessacionionismo. Foram por motivos ideológicos que os reformadores creram no cessar dos dons espirituais e milagres, com a finalidade de defender a verdade do evangelho. Pois o cerne do pensamento permanece: é melhor a Verdade sem milagres do que a mentira com milagres.
Como Disse Jesus:
“Se o seu olho direito o fizer pecar, arranque-o e lance-o fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ser todo ele lançado no inferno. E se a sua mão direita o fizer pecar, corte-a e lance-a fora. É melhor perder uma parte do seu corpo do que ir todo ele para o inferno” (Mateus 5:28-29).
Ou em outras palavras, é melhor entrar aleijado no céu e do que inteiro no inferno.
Contudo isso não tira o fato de que Deus é Deus, Ele é soberano. Deus faz o que quer, aonde quer e quando quer. Se Ele quiser fazer milagres, quem somos nós para impedi-lo? Também não coaduna com a imutabilidade Deus, Ele não muda. Não podemos com o pretexto de preservar uma verdade, negar ou negligenciar outra. Estaremos sendo contraditórios, incoerentes doutrinariamente, pois se dizemos que Deus é soberano e imutável como poderemos dizer que Ele deixou de fazer milagres?
Assim entendo e defendo que os milagres e dons do Espírito Santo são para a atualidade, aliás Deus nunca deixou de operar milagres e distribuir dons porque os homens disseram que cessaram. Estão ai os missionários com relatos extraordinários para mostrar o contrário. Além do mais os Pais da Igreja, os Teólogos da Patrística, mencionam que em sua época haviam cristãos que exerciam dons espirituais, basta examinar os escritos de Tertuliano, de Orígenes, Irineu de Lion, Justino Mártir. Quem se debruçar sobre os textos deles verá que nos séculos II e III  ainda haviam crentes que manifestavam dons espirituais. Ora se havia dons espirituais é porque eles não cessaram com a morte do último apóstolo. Se os Protestantes reformados querem ser herdeiros da patrística, então eles devem rever mui humildemente suas posições. Eu já o fiz, por isso me tornei agostiniano e deixei de ser calvinista, já que Calvino era agostiniano. Eliminei o intermediário.
Creio que os protestantes históricos com sua erudição e eloquência deviam sim era fazer uma teologia dos milagres e dons espirituais, construir um corpo de doutrinas sobre o tema para que se evitassem os abusos e erros e conduzissem a Igreja de Cristo a uma prática mais saudável.

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

MEU DIPLOMA DE HISTÓRIA

Eraldo Luis Pagani Gasparini


Decidi contar uma história pessoal, como me formei em História. Essa é uma história tragicômica, contando agora damos boas risadas, mas na época a situação foi bem tensa.
Bom, na época eu residia na cidade de Rio Verde de Mato Grosso, que apesar do nome fica no Mato Grosso do Sul e não tem nada a ver com sua homônima Rio Verde em Goiás. Rio de Verde de M.T. fica na região norte do Mato Grosso do Sul próximo a cidade de Coxim. Em 2001, a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) resolveu abrir uma extensão, um campus na cidade de Coxim e disponibilizando 2 cursos, um de letras e um de história, ambos de licenciatura plena.
Então resolvi me inscrever e fazer o vestibular para o curso de história, passei e comecei a fazer o curso. E é ai que começa a aventura. Junto comigo passaram mais três pessoas para o curso de história e mais três para o curso de letras. Todos eram da cidade de Rio Verde de M.T. que dista 50 km de Coxim e tínhamos que ir de ônibus de segunda a sexta, pois os cursos eram presenciais. Saíamos as 18:00 hr para chegarmos as 19:15 na UFMS,  pois o ônibus tinha que deixar antes os alunos em duas outras faculdades, e retornávamos a Rio Verde por volta das 23:45 hr.
Então é dessas viagens de ônibus que vou contar brevemente, porque elas dão um livro. A rodovia que une Rio Verde de M.T. a Coxim é a BR 163, conhecida no trecho entre Jaraguari e Cáceres no Mato Grosso como "rodovia da morte". Entre Rio Verde de M.T. e Coxim havia um trecho de menos de 1 km que num período de 5 anos registrou 25 mortes. Os familiares das vitimas em protesto fizeram uma paralisação  e fincaram 25 cruzes a beira da rodovia no trecho perigoso. Assim passávamos  5 dias da semana vendo aquelas cruzes fincadas a margem da rodovia nos lembrando que poderíamos ser os próximos. E de fato vimos muitos acidentes: no primeiro mês na entrada de Coxim, vimos um motoqueiro morto estirado no chão com sua moto do lado e a Policia fazendo bloqueio esperando a ambulância vir pegar o corpo.
No outro ano, ficamos parados na rodovia cerca de 30 minutos porque uma carreta carregada de soja havia tombado na pista, esparramando a carga. Numa noite, não me lembro quando, retornávamos para a nossa cidade quando em certo trecho vimos os carros da policia rodoviária com suas luzes ligadas para avisar de um acidente na pista, dois carros haviam sofrido colisão frontal e estavam pegando fogo, os dois motoristas morreram carbonizados.
Em outra ocasião um caminhão frigorifico bateu em outro caminhão e tombou ao lado da pista, esparramando pelo acostamento sua carga de frangos congelados. Uma parte da carga a população levou, mas a maior parte da carga ficou esparramada ao lado da rodovia, a carne apodreceu e ficou lá se decompondo ao compasso da natureza. Durante cerca de mais ou menos seis meses ficamos sentindo o fedor da carne em decomposição quando passávamos pelo trecho.
Mas também sofremos os nossos acidentes no ônibus. Certa vez uma pedra solta do asfalto, devido ao grande tráfico de veículos pesados, foi arremessado contra o nosso ônibus e quebrou o vidro do mesmo. Nada aconteceu a nós e ao motorista e seguimos viagem rumo a Coxim. Na volta começou a chover e lembro-me do motorista pegando a jaqueta e o capacete de um dos alunos que tinha moto e vestindo-o para dirigir de volta a cidade de Rio Verde de M.T.
Imaginem a cena: um ônibus sem para-brisa, com um motorista vestindo um capacete dirigindo este ônibus debaixo da chuva.
Mas o mais espetacular foi o acidente com a vaca. O motorista depois de deixar todos os alunos em suas devidas faculdades resolveu ir calibrar os pneus do ônibus num posto na rodovia, já que a rodovia cruzava parte da cidade. Calibrado os pneus, ele adentrou de novo a rodovia para ir na faculdade mais próxima e esperar os alunos. Quando ainda estava na rodovia, uma vaca cruzou a pista de noite e foi abalroada  por uma carreta e arremessada contra o ônibus que bateu nela. A vaca ao bater no ônibus além de quebrar o farol esquerdo e parte da frente do ônibus, defecou e soltou todas as suas fezes na lateral do ônibus. Ou seja o ônibus ficou todo lambuzado de merda de vaca na lateral esquerda. E desta maneira voltamos para as nossas casas, num ônibus com o farol quebrado e lambuzado de merda. Não é necessário dizer que algumas pessoas passaram mal e vomitaram no ônibus para complicar a situação. Hilário, né?!?
Hoje a gente lembra e ri, mas no dia a coisa foi muito desagradável.
Entre as muitas coisas que enfrentamos também foi o ônibus, o transporte de alunos, ter sido usado para questões políticas. Tivemos duras batalhas por causa disso, que causaram atritos entre os grupos de alunos. Mas por fim conseguimos superar isso e nos formar.


Recebemos os canudos de diploma vazios. Somente 2 anos depois em fevereiro de 2007 que eu viria a  receber o meu diploma.


Em 12 de agosto de 2005 foi a nossa formatura no curso de História da UFMS Campus de Coxim, mas só vim a receber o meu diploma em fevereiro de 2007, quando já havia retornado a residir em Campo Grande - MS.
Eu poderia dizer mais coisas, mas acho que aquilo que eu e meus colegas passamos nas viagens do ônibus mostra como é difícil obter um nível superior em certas localidades do Brasil.

domingo, 8 de dezembro de 2019

MINISTÉRIO DE APÓSTOLO – PARTE II

Reflexões Teológicas sobre o Apostolado na realidade brasileira



ERALDO LUIS PAGANI GASPARINI


Diante da realidade que se constrói no meio evangélico brasileiro, achei por bem fazer uma reflexão teológica maior sobre o ministério de Apóstolo. Já havia escrito anteriormente sobre isso. Acredito que a mesma não agradará nenhuma das partes, quer ao ramo tradicional quer ao ramo neopentecostal, contudo fiz essa reflexão após um exaustivo estudo não só do Novo Testamento, mas também da História da Igreja. E talvez quem sabe ajudar a Igreja de Cristo estabelecida no Brasil a ter uma teologia mais sadia. Que Deus tenha misericórdia de nós!


A palavra apóstolo significa “enviado”, num certo sentido todos os crentes em Cristo são apóstolos já que são “enviados” para serem testemunhas de Cristo e pregarem o evangelho. É por isso que no Credo Niceno-Constantinopolitano a Igreja é chamada de apostólica, já que Cristo a envia ao mundo como sua representante. Mas no tocante a ser um apóstolo, a ter o título, a autoridade, o cargo, isso de fato parou de ser empregado pela Igreja de Cristo após a morte do apóstolo João. A Igreja Cristã Primitiva[1] nunca mais empregou esse título a quaisquer dos líderes que posteriormente vieram.
No sentido Neo-testamentário de ser um apóstolo tal qual foram os primeiros discípulos de Cristo, no qual a Igreja esta alicerçada sobre as suas doutrinas (cf. Efésios 2:20), ninguém na atualidade tem autoridade para isso.
Mas postreriormente a Igreja de Cristo passou a empregar o título de missionário que é um sinônimo de apóstolo, mas sem a mesma autoridade. A palavra Missionário vem do latim MISSIONARIUS, “aquele que é mandado realizar uma tarefa”, de MISSIO, “ato de enviar”, de MITTERE, “enviar”. No sentido ministerial, de serviço a Deus, o termo missionário substitui muito bem o termo apóstolo, sem gerar nenhuma celeuma ou discussões teológicas acaloradas.
Há um conflito entre protestantes históricos e neopentecostais por causa do termo apóstolo. Os protestantes históricos devido ao postulado de Sola Scriptura entendem que o canon do Novo Testamento foi fechado (o que é corretíssimo) e que por isso o ministério de apóstolo também terminou, já que a Igreja está firmada sobre a doutrina dos apóstolos. Ora por essa lógica se há apóstolos, as Escrituras Sagradas ainda continuam sendo escritas já que ainda há apóstolos. E a grande preocupação dos protestantes históricos é que foi o fato de a Igreja ter negligenciado as Escrituras Sagradas que a fez apostatar da fé, fazendo que ela incorporasse vários elementos pagãos. O zelo dos protestantes históricos é correto e prudente.
Contudo a Bíblia cita outros apóstolos como Barnabé (Atos 13:2-4; 14:14), Andrônico e Júnias (Romanos 16:4) e Epafrodito (Filipenses 2:25). Conforme o texto de Atos aponta tais apóstolos seriam “Apóstolos do Espírito Santo”, ou sejam, seriam apóstolos de uma outra categoria diferente dos “Apóstolos de Cristo”. Tais apóstolos teriam a mesma função, mas não a mesma autoridade. É por isso que não há nenhuma Epístola de Barnabé ou de Adrônico ou Epafrodito na Bíblia. É isso que defendeu um dos historiadores reformados A. M. Renwick, professor de História da Igreja na  Faculdade da Igreja Livre da Escócia, em seu livro A Igreja Cristã e sua História (1958).
E é nesse ponto que digo a Igreja sempre teve apóstolos, não de Cristo, mas do Espírito Santo, não com a mesma autoridade, mas com a mesma função, a de serem arautos de Cristo e proclamarem o evangelho. Tais apóstolos hoje são chamados de MISSIONÁRIOS. Se admitirmos isso, preservaremos o postulado de Sola Scriptura.
Os neopentecostais podem usar o título de apóstolo, mas não da maneira que o fazem, colocando-o no topo de uma cadeia hierárquica. Isso não é bíblico. Estão distorcendo o real sentido de um apóstolo do Espírito Santo, que é o de proclamador de boas novas àqueles que não a ouviram. Reivindicar o título de apóstolo em nossos dias, como eram os apóstolos de Cristo, é compreender erradamente o ensino bíblico.
E assim concluo a minha reflexão, esperando na Graça de Deus que tais palavras possam contribuir para uma Igreja Evangélica mais saudável no Brasil.




Notas:                                                              

[1]     Por Igreja Cristã Primitiva me refiro aquela dos 4 primeiros séculos da era cristã.



sábado, 26 de outubro de 2019

BATMAN 80 ANOS



Eraldo Luis P. Gasparini


Neste ano de 2019, Batman, o personagem das histórias em quadrinhos, faz 80 anos e achei interessante escrever sobre isso.
-       Mas o que um personagem de HQ's tem a ver com a História, com a fé cristã, pois é disso que esse blog trata??
Bem, o Batman é fruto de uma sociedade cristã-protestante, ou que pelo menos foi assim no passado. Assim como Super-Homem representa Cristo que vem para salvar a humanidade, o Batman é o Anjo Vingador que vem para punir o culpado, o criminoso. A polícia, a justiça humana, a sociedade pode falhar, mas nenhum criminoso pode escapar do "martelo da justiça" do Batman.
Como o psicólogo Carl Jung demonstrou o consciente coletivo de uma sociedade se manifesta através dos seus mitos e lendas. E o Batman é um arquétipo, é a manifestação da "justiça divina" sobre o mal de acordo com o imaginário da sociedade norte-americana do início do século XX.
Naquela época, a década de 30 do século XX, os Estados Unidos enfrentavam os "gangsters" como Lucky Luciano, John Dillinger, Babe Face Nelson, Al Capone, eles cometiam seus crimes em plena luz do dia, disputavam território com outros gangsters, feriam e matavam inocentes nesta luta, chantageavam os pequenos comerciantes, corrompiam a polícia e os políticos, deixando o cidadão comum entregue à própria sorte.
Mas eis que surge um justiceiro, um vingador mascarado, um igual a eles que também foi vítima desses criminosos, mas que decidiu agir. Os criminosos se escondem nas sombras, mas ele veste as próprias sombras para puni-los, ele é o Cavaleiro das Trevas. Ele os caça, os descobre e os pune, mas ele não os mata, antes os leva a justiça para pagar por seus crimes, porque o que ele quer não é a vingança, mas a justiça, a certeza de que o mal será punido e a vítima justiçada. Ele é o BATMAN!
E o Batman representa isto a certeza de que o mal não ficará impune. De que Deus enviará o seu Anjo Vingador para justiçar o vitimado.
E assim o personagem de ficção Batman completa seus 80 anos na sua incansável empreitada de combater o crime e levar a justiça.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

SACERDÓCIO DE TODOS OS CRENTES


Uma reflexão para os dias atuais




Eraldo Luis Pagani Gasparini



Vou começar essa reflexão na ordem inversa, ao invés de começar contando o passado e continuando até os dias de hoje, farei o contrário.
Hoje, na atualidade (início do século XXI) as igrejas evangélicas no Brasil são extremamente hierarquizadas, há uma clara divisão em “povo da igreja”, “obreiros do Senhor” e “ungidos do Senhor”.
Nesta divisão dentro das igrejas evangélicas, tem os “ungidos do Senhor” que são a autoridade espiritual, os líderes do rebanho que devem ser obedecidos e não podem ser questionados; os “obreiros” que são aqueles separados do rebanho porque tem alguma aptidão (cantam bem, leem corretamente o texto bíblico, são carismáticos) e trabalham para executar as ordens dos seus líderes espirituais; por último o povo da igreja que não tem conhecimento da Bíblia, que vão a igreja somente atrás de bençãos, que não tem noção da graça de Deus e do evangelho redentor, que são literalmente como gado.
O povo brasileiro desde a época da colônia tem uma visão paternalista (ou maternalista), ele confia o seu destino, a sua vida, a alguém que seja poderoso, que o possa proteger, que possa cuidar dele. O povo brasileiro tem o hábito de conferir a outro a tutelagem de sua vida. Os termos “padrinho”, “pistolão”, estão relacionados a essa visão de mundo, onde alguém consegue um emprego ou “cargo” não por sua competência, mas pelas relações de poder e influência que tem. E essa cultura brasileira passou para os rincões evangélicos.
Mas essa cultura é remanescente da cultura portuguesa, que adotou isso da Igreja Católica Apostólica Romana que durante a Idade Média desenvolveu esse pensamento da Autoridade Eclesiática e da Tutelagem do povo. Na Idade Média havia uma clara separação em clero (sacerdotes) e laicato (leigos), somente o clero poderia ministrar a Palavra e os sacramentos, deixando os leigos em completa dependência ao mesmo.
E é nesse ponto que colocamos a Doutrina do Sacerdócio de Todos os Crentes estabelecidas pelos Reformadores Protestantes no século XVI.
Quando Martinho Lutero leu a Bíblia ele percebeu que tais estruturas hierárquicas não existiam na Bíblia, que Jesus Cristo havia provido livre acesso a presença de Deus, que não precisamos de nenhum intermediário humano para chegarmos a Ele. Todos os cristãos, todos os crentes em Cristo, são sacerdotes, todos tem a oportunidade de propagar as boas notícias do Evangelho.
Assim sendo não há nenhuma diferenciação entre o pastor e a ovelha, na verdade todos os crentes tem um dom, todos os crentes tem um ministério (um serviço) a prestar. Martinho Lutero teve essa percepção lendo a passagem de I Pedro 2:1-10, onde fala que todos os crentes são sacerdócio real.
Em A Liberdade do Cristão, Martinho Lutero escreveu:

De posse da primogenitura e de todas as suas honras e dignidade, Cristo divide-a com todos os cristãos para que por meio da fé todos possam ser também reis e sacerdotes com Cristo, tal como diz o apóstolo Pedro em I Pe 2:9 (…) Somos sacerdotes; isto é muito mais que ser reis, porque o sacerdócio nos torna dignos de aparecer diante de Deus e rogar pelos outros”.

Todo cristão é sacerdote de alguém, e somos todos sacerdotes uns dos outros. Isso valeu para a Igreja primitiva, valeu para os reformadores e deve valer para nós, igreja do tempo presente.


quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO


Eraldo Luis Pagani Gasparini


O ponto de vista sobre o ministério de Apóstolo é exclusivamente meu e formou-se através do debate e diálogo com os dois lados: os que defendem o ministério de apóstolo na atualidade e os que dizem que o ministério de apóstolo se findou.
Os que defendem que o ministério de apóstolo é para os dias atuais fazem parte de uma perspectiva que crê que Deus está restaurando a Sua Igreja. Começando com a Reforma Protestante, Deus foi restaurando a verdade e hoje Ele está restaurando também os ministérios que haviam na Igreja primitiva como pastores, evangelistas, doutores, mestres e apóstolos.

Os que dizem que se findou, dizem que o ministério de apóstolo só poderia ser de alguém que viu pessoalmente a Jesus e foi Sua testemunha e que quando morreu o último apóstolo, no caso o apóstolo João, esse ministério especial se findou no seio da igreja.

De fato, enquanto historiador, depois do apóstolo João, não vemos na História da Igreja Primitiva ninguém mais usar o título de apóstolo, vemos os líderes da igreja primitiva sendo chamados de bispos, presbíteros, mestres, padres, mas ninguém mais é chamado de apóstolo a partir do início do II século depois de Cristo.

Todavia temos o emprego da palavra Missionário no meio da igreja. 

A palavra Missionário e Apóstolo são sinônimos uma está em latim e a outra está em grego. A palavra Missionário vem do Latim MISSIONARIUS, “aquele que é mandado realizar uma tarefa”, de MISSIO, “ato de enviar”, de MITTERE, “enviar”. Historicamente falando sempre houve apóstolos na igreja, só que com o nome de missionário.

Ou seja, por muitos anos as Igrejas Protestantes Históricas tiveram apóstolos, mas os chamavam de missionários, assim o missionário Ashbel Green Simoton que trouxe a Igreja Presbiteriana ao Brasil poderia muito bem ser chamado de “Apóstolo” Ashbel Green Symonthon. No meu entender apóstolo é só um dos muitos ministérios do Novo Testamento como pastor, mestre, evangelista, ou seja, é só uma forma de servir a Deus. 

Em minha analise percebo que houve um excesso de zelo por parte dos tradicionais e um preciosismo por parte dos neo pentecostais. Uns pecaram por excesso de zelo para que o princípio Sola Scriptura não fosse corrompido e outros pecaram por dar ao termo apóstolo um valor maior do que ele tem, colocando-o no topo da hierarquia; o que tal não existe.

Sob esse aspecto a igreja evangélica no Brasil, em especial o ramo neo pentecostal, se apropriou da palavra apóstolo para designar um cargo elevado sobre todos os outros. Hoje há uma cadeia hierárquica na igreja evangélica tal qual há na Igreja Católica Romana. No lugar do frade se tem o presbítero, no lugar do padre se tem o pastor, o bispo é o mesmo para os dois, por fim tem o Papa e sua contraparte evangélica o “apóstolo”. Na verdade os evangélicos brasileiros criaram o posto de Papa que é o “Patriarca” ou “Patriarca Apostólico” (Patriarca e Papa são sinônimos, ambos significam “Pai”). 

Na minha modesta opinião, penso que o termo ou título apóstolo não deve ser usado pela Igreja Cristã da atualidade, pelas seguintes razões:
1) de reverência aos primeiros apóstolos, pois assim como na NBA (liga de basquete norte-americana) se aposenta o número da camisa de um grande jogador, assim também em honra a aqueles não devemos mais usar o título de apóstolo;
2) por uma questão de coerência histórica, pois se a Igreja Cristã primitiva não mais o empregou não há necessidade de o faze-lo;
3) pode-se muito bem continuar usando o termo missionário que é equivalente e não gera nenhuma celeuma;
4) temos as Escrituras Sagradas, que devem ser a nossa regra de fé e prática a quem devemos consultar sempre para obtermos orientação espiritual para nossas vidas.
O que os evangélicos no Brasil fizeram foi dar dois passos para trás, restauraram as estruturas católico-romana no meio evangélico, hierarquizaram novamente a igreja, reergueram tudo aquilo que a Reforma Protestante lutou para derrubar, aniquilaram o princípio bíblico do sacerdócio de todos os crentes.
Enfim os evangélicos no Brasil se tornaram uma Igreja Evangélica Católica Romano-Brasileira: 
- “Habemus Papam” (Temos Papa). 


sexta-feira, 30 de agosto de 2019

OS DESIGREJADOS




Os desigrejados foram definidos como aqueles cristãos evangélicos que abandonaram a igreja institucional ou as igrejas institucionais, mas não deixaram de crer e nem abandonaram a Cristo:  Sem a igreja, mas com Cristo”. Tem uma parte dos desigrejados que só saíram da igreja institucional, enquanto outro grupo além de sair se tornou militante contra as igrejas institucionais.
Vou tratar do primeiro grupo porque tenho muitos conhecidos que fazem parte dele e devo dizer que a própria igreja institucional propiciou as ferramentas para que os mesmos assim se comportassem.
Muitas igrejas adotaram o G12, o M12, a célula, a igreja nos lares como método de evangelismo, porém esse método por fim acabou dando suporte para que esses membros questionassem a necessidade das igrejas institucionais:
- Ora se a igreja primitiva se reunia nas casas, por que temos que ir em templos?  Por que não podemos cultuar só nas casas?
Assim eles entenderam que não era preciso uma “igreja”, uma instituição, bastava um local para se reunirem, fosse uma casa, um consultório, um apartamento ou uma garagem.
Muitos desses desigrejados se viram decepcionados com a liderança de suas denominações, muitos sofreram abuso espiritual por parte de seus líderes. Líderes que alegando serem uma “cobertura espiritual”, “autoridade espiritual”, “ungidos do Senhor” foram além de suas atribuições como guias do rebanho e passaram a interferir ostensivamente na vida de seus membros, sugando-lhes o tempo, as finanças. Pondo sobre os ombros deles uma carga que não podiam carregar, fazendo com que se desgastassem física e emocionalmente para obterem novos membros, fazendo-os se fatigarem para promover o “ministério”. Líderes pastorais que exigem “submissão” de seus membros e os ameaçam com maldição, por serem “rebeldes”, quando não cumprem as determinações dos mesmos. Deixaram de ser guias para serem dominadores do rebanho de Deus.
Convém aqui colocar o desserviço que a doutrina da prosperidade fez as Igrejas institucionais sérias. Essa heresia que adentrou nos rincões evangélicos descaracterizou a fé cristã verdadeira, transformou o evangelho em produto, a igreja em comércio, o pastor em gerente e o crente em cliente. Muitos buscando sua satisfação pessoal creram na mensagem da teologia da prosperidade e foram enganados, pois o evangelho, a fé cristã verdadeira não é isso. Se há algo que de fato lançou a igreja institucional em descrédito foi a teologia da prosperidade.
Os desigrejados são um sintoma de um mal maior que permeia as igrejas institucionais no Brasil. Eles são fruto de um evangelho sem a Graça, de uma igreja sem amor, de um cristianismo sem Cristo.
É óbvio que a análise de só umas das partes seria tendenciosa, os desigrejados por sua vez são um sintoma da pós-modernidade, onde A Verdade foi morta, onde cada um tem a sua verdade. Então se a “verdade” de uma pessoa é contrariada pela da instituição, ela simplesmente condena a instituição e a abandona. Ao invés de fazer uma autoanálise e reconsiderar suas ideias ou praticar a tolerância, as pessoas simplesmente abandonam a igreja porque foram contrariadas, porque a coisa não saiu  do jeito que ela queria.
Também é sintoma do individualismo que norteia as relações pós-modernas, onde cada um olha somente para si e não enxerga o outro. Já cantava aquela quadrinha musical:
- “ado, ado, cada um no seu quadrado; ema, ema, cada um com seus problemas”.
As relações são voláteis, são momentâneas, para realizar interesses comuns; não há compromisso entre as partes.

Os desigrejados se esquecem que muito do que temos é devido a igreja institucional, como a Escola Bíblica Dominical onde aprendemos sobre a Bíblia e as suas doutrinas; como as faculdades e seminários teológicos; como as editoras de livros cristãos (muito do conhecimento que os desigrejados tem veio das igrejas instituídas).
Poderia citar também as escolas confessionais; as creches; as casas de recuperação a viciados; os projetos sociais; tudo isso obtido graças ao engajamento e ação de boas instituições eclesiásticas.
Citando o questionamento do pastor presbiteriano Rev. Augustus Nicodemus, será que “ …os desigrejados não estão jogando fora o bebê junto com a água suja da banheira? ”



(Clique na imagem para ampliá-la).


Lendo um livro de John Stott intitulado Cristianismo Básico, percebi que essa demanda também aconteceu na Inglaterra, porém na década de 1950. Ali ele demonstra que os ingleses estavam fazendo as mesmas críticas e abandonando as igrejas instituídas, como resultado os cultos foram se esvaziando e as igrejas também, tanto que no ano de 1991 cerca de 1.015 templos da Igreja Anglicana foram vendidos para uma rede de boates, redes de academias de ginásticas e outras coisas mais. No final a geração posterior de desigrejados não tinha mais vínculo nenhum com nada ou ninguém, o que resultou no aumento de secularizados e sem religião na Inglaterra.
Temos que fazer uma autoanálise enquanto desigrejados e igrejas institucionais e chegarmos a um denominador comum, porque caso contrário será a derrocada da fé cristã evangélica no Brasil.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

OS ATEUS


(Reflexões sobre o ateísmo feitas por um Cristão)




* P.S. : Se você é um ateu não perca seu tempo lendo, você com certeza não irá concordar. 😀



Eu, enquanto especialista em História das Religiões, aprendi que o ateísmo é uma forma de crença, de religiosidade. Pois, ao contrário do agnóstico que sempre duvida, quer da existência quer da não existência em Deus, o ateu tem CERTEZA de que Deus não existe. Ora, a certeza é uma convicção, é um estado de espírito caracterizado pela crença de que se está na posse da verdade. Assim sendo o ateísmo é uma espécie de fé.
O ateu pessimista acredita que Deus não existe, que o homem é um produto do acaso, a própria existência humana está fadada a extinção, que não há razão ou sentido na vida e que portanto não há o que se fazer para o mundo melhorar, como dizia o escritor português e ateu José Saramago: “Não sou pessimista, o mundo é que é péssimo”.
O ateu otimista também acredita que Deus não existe, mas o ateu otimista crê no potencial humano, crê que o ser humano pode fazer grande coisas e que para isso ele precisa se livrar da religião, pois esta cega o pensamento, a inteligência e limita o ser humano. O ateu otimista no final das contas tem fé na humanidade e na ciência. O ateu otimista crê que a humanidade através da ciência alcançará o seu pleno potencial e transformará o mundo e a própria humanidade. De uma certa maneira o ateu otimista tem aquele sentimento luciferiano (relacionado ao anjo Lúcifer) de querer ser um deus.
Por mais que se queira negar, ou que os ateus neguem, todos os seres humanos precisam de ter uma fé, uma convicção, para continuar adiante. Os seres humanos precisam ter algo que os faça levantar da cama, algo que os motive a seguir adiante, algo que seja maior do que ele mesmo, algo que seja superior a ele e dê um sentido a sua existência, ainda que seja combater a existência de Deus.
E se Deus não existe, não há porque combater a Sua existência. Combater algo que não existe é uma tarefa quixotesca (de Dom Quixote que via nos moinhos de vento gigantes a serem combatidos), é perseguir uma quimera (ser monstruoso que não existe). Não há porque combater algo que não existe, pois se algo não existe de fato, os fatos se sobreporão sobre a realidade.
Contudo…
Enfim, todos nós precisamos de algo para crer, ainda que seja crer que esse “Algo” não exista.

quarta-feira, 17 de abril de 2019

UM MUNDO ANTICRISTÃO


“Alguém diz:
- Sou judeu! - E ninguém se comove.
Se diz:
- Sou romano! – Ninguém treme.
Se diz:
- Sou grego; bárbaro; escravo; liberto - ninguém se agita.
Mas se diz:
- Sou Cristão! – O mundo inteiro estremece”.
Texto egípcio de autor desconhecido datado do ano 200 d.C.



Durante os últimos 3 séculos, o XVIII, XIX e o XX, o ocidente e a fé cristã foram hegemônicos no mundo. No começo do século XX, na sua primeira década, o cristianismo contava com 34% da população mundial, era a maior religião do mundo somado suas três vertentes principais: Católica, Ortodoxa e Protestante. A maioria dos países pensavam de uma forma cristã ou influenciados por ela. Mas isto é passado.
Atualmente (2019) a religião cristã está sofrendo um retrocesso, tanto internamente como externamente, de acordo com o relatório do instituto de pesquisa americano Pew Research Center o percentual de cristãos caiu para 31% (dados de 2017). Países onde a população era de maioria cristã, hoje se confessam de maioria ateus ou sem religião como é o caso da Suécia e a República Tcheca. O Islamismo cresce graças a alta natalidade das famílias islâmicas. A ONU através do Conselho de Direitos Humanos incentiva políticas anticristãs.
Rumamos para um mundo anticristão. Mas antes de mais nada, eu devo afirmar que de acordo com a própria fé cristã exposta nos textos do Novo Testamento, o mundo sempre foi anticristão.
No Evangelho de João, Jesus falando aos discípulos afirma:

“Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim” (João 15:18).

Ou seja, antes de odiar aos cristãos e o cristianismo o mundo odiou o próprio Cristo. E esse ódio passou aos primeiros discípulos, os apóstolos, isso já começou na antiguidade com os judeus, com os gregos, os romanos, os bárbaros e etc... Sempre em algum momento da história houve manifestação de ódio aos cristãos e ao cristianismo.

Amados, não estranheis o fogo ardente que surge no meio de vós, destinado a provar-vos, como se alguma coisa extraordinária vos estivesse acontecendo; pelo contrário, alegrai-vos na medida em que sois coparticipantes dos sofrimentos de Cristo, para que também, na revelação de sua glória, vos alegreis exultando (I Pedro 4:12-13).

Não é para o cristão autentico se surpreender, se alarmar, estranhar o fato de ser perseguido por sua fé neste mundo, isto faz parte de ser cristão. Porque se participamos com Ele em seus sofrimentos, também participaremos com Ele em sua glória.

Sabemos que somos de Deus e que o mundo inteiro jaz no Maligno (I João 5:19).

O apóstolo João alertava aos crentes de seu tempo que o mundo inteiro estava e está debaixo do poder do diabo.
Todavia os cristãos de certo modo abraçaram ao hedonismo, o pensamento segundo qual diz que a busca da felicidade e o prazer é a finalidade da vida. A Teologia da Prosperidade que permeia o meio evangélico brasileiro é um exemplo disso. Isto deixou os cristãos, em especial o evangélico brasileiro, despreparado para a oposição que há de enfrentar futuramente e que já se manifesta tenuamente nos dias de hoje.
Nós cristãos temos que entender que nada de bom surge do mundo, ainda que tenha a aparência de bom. No final das contas o que está no mundo, nos faz é ficar distantes de Deus.

Não ameis o mundo, nem as coisas que no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele. Porque tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas procede do mundo. Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente(I João 2:15-17).

Infiéis, não compreendeis que a amizade do mundo é inimiga de Deus? Aquele, pois, que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus (Tiago 4:4).

O mundo que está aí com os seus sistemas de valores, pensamentos e coisas é inimigo de Deus, o mundo é anticristão.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

A ONU e a instrumentalização dos movimentos Feministas e LGBT




De acordo com um cálculo da Global Footprint Network o número ideal para se atingir o equilíbrio ambiental do planeta Terra seria de 4,3 bilhões de habitantes, ou em outras palavras, a população máxima da Terra para que haja sustentabilidade deve ser de 4,3 bilhões de pessoas. O grande temor da ONU é a explosão demográfica, que o número de pessoas na Terra seja tão grande que não possibilite a alimentação e o fornecimento de água da população gerando poluição, conflitos, guerras e instabilidade econômica.
Atualmente (2019) a população do Planeta Terra ultrapassa os 7,5 bilhões de habitantes. Assim sendo pelo cálculo da Global Footprint Network a população teria que diminuir em 3,2 bilhões de habitantes. E como fazer isto?
Muito bem, a ONU desenvolve e incentiva pelo mundo inteiro o controle familiar através de organismos como a UNFPA (Fundo das Nações Unidas para Atividades Populacionais), bem como através de políticas e movimentos sociais. Uma das ações que ela desenvolve é incentivar os movimentos LGBT e Feministas que na verdade estão sendo instrumentalizados pela ONU para conter o crescimento populacional. Perceba que através do movimento feminista, as mulheres estão deixando de efetuar a sua principal função biológica e natural: procriar. Porque hoje a principal demanda das mulheres (pelo menos no mundo ocidental) é investir em suas carreiras profissionais. As mulheres estudam, se formam, buscam uma posição no mercado de trabalho e uma ascensão no mesmo. Fazendo isto elas deixam a maternidade de lado e quando decidem ter filhos, procuram ter um ou no máximo dois filhos, para que os mesmos não atrapalhem a sua carreira profissional.
Da mesma forma o movimento LGBT etá sendo instrumentalizado para diminuir a prole. Quando se formam casais homossexuais, a procriação fica limitada. Casais homossexuais formados por homens geralmente adotam uma criança e casais homossexuais formados por mulheres geralmente somente uma engravida, embora haja exceções o número de filhos fica limitado em casais homossexuais, assim a reprodução é contida e se evita a explosão demográfica.

Mas para que isso ocorra é necessário uma revolução dos costumes e sejam subvertidas as ordens até então vigentes. E o grande mantenedor da ordem moral e dos costumes é a religião. No caso do mundo ocidental esta é a religião cristã em suas vertentes católica e protestante. Assim sendo o cristianismo se tornou o grande obstáculo das políticas de controle demográfico da ONU. A ONU através do Conselho de Direitos Humanos implementou o “politicamente correto” e taxou como “discurso de ódio” todos aqueles que se posicionam contrários aos “direitos” das mulheres e dos homossexuais. Não é por acaso que a população nativa européia (os brancos caucasianos) esteja envelhecida, pois adotando essa ideologia da ONU há mais velhos do que crianças na Europa e a população em alguns países europeus está decaindo causando inclusive problemas com a previdência e aposentadoria. E também não é por acaso que a Europa seja hoje considerada uma região pós-cristã.
Mas além da ONU, quem instrumentaliza os movimentos sociais são os grande magnatas das finanças como George Soros. Nascido na Hungria, o multi-bilionário George Soros criou uma imensa rede de organizações e grupos de esquerda com intuito de transformar o mundo. De acordo com muitos críticos, George Soros é um ateu com complexo messiânico. Mas não é somente ele, há outros magnatas envolvidos que financiam e apoiam os movimentos feministas e LGBT, como Ted Turner (fundador do canal de notícias CNN), fundações Ford, os irmãos Rockefeller, Ruder Finn Inc., Carnegie, Modi e Greenville.
Mas por que magnatas do capitalismo apoiam movimentos de esquerda?
A razão é simples, muitos destes movimentos de esquerda não são necessariamente contra o capitalismo de George Soros, mas contra valores e princípios conservadores, base da civilização ocidental, que representam obviamente uma resistência aos anseios globalistas das famílias Soros, Rockfeller, Ford e outras. Ou seja, a fé cristã atrapalha os negócios e os lucros.
E desta maneira os movimentos LGBT e feminista estão sendo instrumentalizados (usados) pela ONU e os magnatas capitalistas para atingirem os seus objetivos de contenção da população global e expansão econômica e no meio disto a religião cristã tem sido o principal alvo de ataques.

quinta-feira, 21 de março de 2019

A Royal Air Force, C. S. Lewis e o livro Cristianismo Puro e Simples


Era uma vez ...
A Mãe de Todas as Guerras, assim ficou apelidada a Segunda Guerra Mundial após o seu término e contabilizado o número de suas vítimas: cerca de 55 a 60 milhões aproximadamente.
Esse conflito teve inúmeros episódios e histórias que repercutem até hoje e uma dessas histórias está relacionada a um livro chamado Cristianismo Puro e Simples, escrito pelo famoso escritor C. S. Lewis (o autor das Crônicas de Nárnia) e a Royal Air Force (RAF).
Em 1939, a Alemanha nazista de Adolf Hitler invadiu a Polônia, começou a Segunda Guerra Mundial e lançou o mundo em chamas. Como parte de seu plano de conquistar a Europa, ele resolveu atacar a Grã-Bretanha e em 16 de julho de 1940, o ditador alemão Adolf Hitler ordenou a preparação da chamada Operação Leão Marinho, que consistia na invasão da Grã-Bretanha com forças anfíbias e paraquedistas. Mas antes que uma invasão com infantaria pudesse ser autorizada, era crucial que a Luftwaffe, a Força Aérea Alemã, conquistasse a superioridade aérea sobre os céus britânicos e para esta tarefa Hitler chamou o seu Marechal Herman Göring, comandante-em-chefe da Força Aérea Alemã. O Marechal Herman Göring prometeu a Hitler uma vitória rápida e esmagadora em pouco tempo.
Em defesa da Grã-Bretanha levantou-se a Royal Air Force (RAF) e uma grande batalha nos céus britânicos foi travada entre as duas forças aéreas entre julho de 1940 e maio de 1941, essa batalha aérea ficou conhecida como A Batalha da Grã-Bretanha. Depois de meses de combate aéreo, os britânicos ganharam a batalha e os alemães desistiram de invadir a Grã-Bretanha. Essa vitória foi considerada o ponto de virada da guerra a favor dos aliados. Na defesa aérea do Reino Unido, somente entre o período de 10 de julho a 31 de outubro de 1940, foram contabilizados 544 militares mortos, entre os quais além dos 402 aviadores britânicos, havia também 5 belgas, 7 tchecos, 29 poloneses, 3 canadenses e 3 neozelandeses.
O primeiro ministro britânico Winston Churchill, em referência a RAF e seus jovens pilotos, declarou a frase que se tornou célebre:
- "Nunca, no campo dos conflitos humanos, tantos deveram tanto a tão poucos".


Cartaz da época sobre a R.A.F. com a frase de Winston Churchill.

Ainda rapaz, C. S. Lewis serviu nas pavorosas trincheiras da Primeira Guerra Mundial e, em 1940, quando as bombas começaram a cair sobre a Inglaterra, se alistou como oficial da vigilância antiaérea e passou a dar palestras para os soldados da RAF, homens que sabiam, com quase toda a certeza, que seriam dados como mortos ou desaparecidos depois de apenas treze missões de bombardeio. A situação deles incitou Lewis a falar sobre os problemas do sofrimento, da dor e do mal. Estes trabalhos resultaram no convite da emissora inglesa BBC para que ele fizesse uma série de programas de rádio sobre a fé cristã. Ministradas de 1942 a 1944, estas conferências radiofônicas foram mais tarde reunidas no livro que conhecemos hoje como Cristianismo puro e simples.
Este livro, portanto, não foi feito de especulações filosóficas acadêmicas. É, isto sim, um trabalho de literatura oral dirigido a um povo em guerra. Quão insólito devia ser ligar o rádio — que a toda hora dava notícias de mortes e de uma destruição indescritível — e ouvir um homem falar, de forma inteligente, bem-humorada e profunda, sobre o comportamento digno e humano, sobre a conduta leal e sobre a importância da distinção entre o certo e o errado. Chamado pela BBC para explicar aos seus conterrâneos no que os cristãos acreditavam, C. S. Lewis lançou-se à tarefa como se ela fosse a coisa mais fácil do mundo, mas também a mais importante.

Lewis em sua escrivaninha. Foto de agosto de 1960.


C. S. Lewis não estava pregando para atrair membros para sua igreja, ele estava falando de como é a vida sob a perspectiva da fé cristã, em contraste com a vida fora da fé cristã. O sentido do termo “cristão” deve ser descritivo e não um simples elogio. No sentido profundo, não podemos julgar quem é realmente cristão e quem não é. Você pode ser um não-cristão cheio de qualidades, ou um cristão com poucas qualidades. O que importa é estar disposto a compreender o sentido da fé cristã para sua vida e  vive-la de modo consistente. E assim da necessidade espiritual dos soldados da RAF, surgiram as palestras de rádio de C. S. Lewis que se tornaram o livro Cristianismo Puro e Simples.

O livro publicado no Brasil pela Martins Fontes.


quarta-feira, 6 de março de 2019

UM VELHO POEMA DE NÁRNIA

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"O mal será bem quando Aslam chegar,
Ao seu rugido, a dor fugirá,
Nos seus dentes, o inverno morrerá,
Na sua juba, a flor há de voltar".



(Narrado pelo Sr. Castor a Pedro, Suzana e Lúcia).

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

ANTICRISTIANISMO - Parte II


Atualmente


Eraldo Luis P. Gasparini

Vimos na Parte I que o anticristianismo esteve presente desde o nascedouro da fé cristã, primeiro os judeus, depois os gregos, os romanos, os bárbaros até o fim da idade moderna com o movimento iluminista.

O anticristianismo atual tem seu início no século XIX com vários movimentos filosóficos, entre os quais o positivismo. O positivismo, herdeiro do iluminismo, foi uma corrente filosófica surgida na França, sua principal ideia era de que o conhecimento científico devia ser reconhecido como o único conhecimento verdadeiro. O pensamento positivista está impresso na bandeira brasileira com o lema: “ordem e progresso”. Assim qualquer conhecimento teológico ou religioso devia ser contestado e bastando ao homem a si mesmo. Dentro do campo filosófico também temos as idéias de Karl Marx que escreveu que a “religião é o ópio do povo” e Nietzche, o filósofo que matou Deus (pelo menos filosoficamente). Nietzche escreveu um livro intitulado (- quem diria?!?) “O Anticristo”, em que ataca veementemente os valores e morais cristãs.

O comunismo, uma ideologia político-econômica alicerçada em Karl Marx, também era anticristã e impulsionou várias revoluções pelo mundo, como a soviética, chinesa, cubana e etc.. Aonde o comunismo venceu as igrejas cristãs foram perseguidas e muitas foram fechadas. A Missão Portas Abertas foi fundada pelo holandês “Irmão André” em 1955 para dar apoio aos cristãos perseguidos atrás da “cortina de ferro”.

Bandas de Heavy Metal a partir dos anos de 1970 passaram a atacar a fé cristã e algumas até a cultuar Satanás em suas apresentações, entre elas se destacam o AC/DC, Ozzy Osborne, Black Sabath, a cantora Madonna, mas talvez o mais polêmico seja o roqueiro Marilyn Manson que declara categoricamente ser o próprio anticristo e lançou um álbum intitulado “Anticristo Superstar”.

Após a derrocada do Comunismo no início da década de 1990, pensou-se que acabaria a perseguição ao cristianismo e aos cristãos, na verdade ela só mudou de forma. Os movimentos sociais, especialmente o LGBT e o Feminista abraçaram o ideário anticristão. Em suas passeatas os símbolos de vertentes do cristianismo são profanados. Recentemente, no natal de 2017, uma ativista feminista do Grupo Femen tentou roubar a estátua do menino Jesus de um presépio no Vaticano.

O cientista Richard Dawkins, biólogo e professor da Universidade de Oxford se declara um ateu militante e entre seus escritos destaca-se “Deus um delírio”.

Ficou constatado pelas suas ações que a ONU (Organização das Nações Unidas) também abraçou uma política contra o Cristianismo. Essa denúncia é feita de forma séria e investigativa por duas autoras italianas, Eugenia Roccella e Lucetta Scaraffia em seu livro “Contra o Cristianismo - A ONU e União Européia como Nova Ideologia”. Eugenia Rocella é jornalista, escritora e deputada no Parlamento italiano pelo Nuovo Centro Destra, enquanto que Scaraffia é professora de história contemporânea na Universidade La Sapienza de Roma. Em linhas gerais a ONU quer colocar a Declaração do Direitos Humanos como uma espécie de religião laica para assim garantir o progresso e a paz mundial, desta maneira todas as religiões são vistas como as piores inimigas dos direitos humanos, sem exceções e sem diferenças. Dentro desta política a empresa cinematográfica aderiu a agenda ideológica da ONU e na maioria dos filmes de Holywood o cristianismo é atacado duramente. Os padres são retratados como maus, opressores, conspiradores; os pastores retratados como manipuladores gananciosos, charlatões. Em sua contrapartida religiões como a bruxaria, feitiçaria e a magia são exaltadas como as grandes defensoras secretas da humanidade.


Livro que  denúncia a política anticristã da ONU.


O Anticristianismo na atualidade está mais ativo do que nunca com a adesão de artistas, cientistas, intelectuais, políticos, magnatas da economia, organizações, movimentos sociais. A Europa é atualmente considerada pelos especialistas em religião como uma área pós-cristã. Grandes catedrais, construídas para a glória de Deus, foram transformadas em bibliotecas, museus, pistas de skate, academias de ginástica e até boates. Pela primeira vez nota-se um movimento mundial contra o cristianismo.

Será esse o prenúncio do fim do mundo, da volta de Jesus? Será o reinado do Anticristo na Terra? Será este o Apocalipse as portas? 

Não sei dizer, nem posso afirmar, porque muitos outros antes de mim anunciaram categoricamente que o fim do mundo havia chegado e erraram feio. O que posso dizer e afirmar é que estamos rumando para uma sociedade mundial que é contra os preceitos, valores e instituições cristãs, ou seja, anticristã. Mas o que posso dizer é que toda vez quando anunciam o fim do cristianismo, o fim da fé cristã sempre lembro das palavras de C. S. Lewis no seu livro Cristianismo Puro e Simples: 

“Sem dúvida, o mundo exterior pensa o contrário. Pensa que estamos morrendo de velhice. Mas não é a primeira vez que esse pensamento lhe ocorre. Já lhe ocorreu pensar que o cristianismo estava morrendo por causa das perseguições externas, da corrupção interna, da ascensão do islamismo, da ascensão das ciências físicas, do surgimento dos grandes movimentos revolucionários anticristãos. Em cada um desses casos, porém, o mundo se decepcionou”.

E assim penso eu também!




quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

ANTICRISTIANISMO - Parte I


Da Antiguidade a Contemporaneidade


Eraldo Luis P. Gasparini


Por Anticristianismo define-se a doutrina contrária ao cristianismo; ao movimento político, filosófico e/ou religioso que visa fazer frente às instituições religiosas e políticas cristãs.
O Cristianismo desde o seu nascedouro provocou acirrada oposição dos seus detratores, desde a mera oposição verbal até a prisão, imposição de castigos físicos e a morte. Começando pelos judeus que os consideravam blasfemadores, passando pelos gregos que os consideravam perturbadores da paz, até os romanos que os acusavam de traidores do império.


O primeiro anticristo da história e o mais famoso foi o imperador romano Nero que fez a primeira perseguição contra os cristãos, acusando-os de terem colocado fogo em Roma, nesta perseguição foram mortos os apóstolos Paulo e Pedro. Logo em seguida veio o imperador Domiciano que se auto declarou divino e instaurou uma perseguição aos cristãos da ásia (atual Turquia), tendo feito o apóstolo João ser exilado na ilha de Patmos, onde este escreveu o apocalipse. A partir daí inúmeros imperadores romanos deflagaram alguma perseguição sistemática aos cristãos. Foi a época dos mártires, dos cristãos jogados aos leões nas arenas dos circos romanos ou queimados vivos em espetáculos, época que a Igreja foi para as catacumbas fazer as escondidas suas reuniões de adoração e culto. Nesse período a pior perseguição foi a lançada pelo imperador Décio no ano 250 d.C., está perseguição foi por todo o império romano e usou do aspecto econômico, todos aqueles que quisessem comercializar, comprar ou vender produtos deveriam ter o “libelus real” que era concedido apenas aqueles que fossem ao templo oficial do império romano e queimasse incenso aos deuses de Roma e declarassem fidelidade ao imperador. Foi a perseguição mais parecida com aquela retratada no Apocalipse. 
O anticristianismo atuou pela última vez no ano 303 d.C. com o imperador Diocleciano e durou até 311 com Galério. Somente em 313 d.C. acabou a perseguição aos cristãos com o Édito de Milão por Constantino. 

Quando tudo parecia acabado e a paz parecia ter chegado, eis que surgem os bárbaros e desencadeiam nova perseguição aos cristãos. Os povos que habitavam além das fronteiras romanas, os godos, ostrogodos, vândalos, alanos, pressionados pelos hunos invadiram o império romano e por fim provocaram a sua queda em 476 d.C. Para os pagãos que julgavam Roma a “cidade eterna” isso era o fim do mundo. Os povos bárbaros eram nômades e praticavam o saque, sendo assim eles invadiam as cidades e regiões e saqueavam tudo o que viam pela frente, pessoas, casas, templos, palácios e faziam muitos de seus capturados escravos. Muitos cristãos foram feitos escravos, a lei e a ordem foram varridas do mapa, por isso para muitos cristãos o fim do mundo também chegará e estes viam os bárbaros como agentes do anticristo. Contudo a Igreja evangelizou os bárbaros e os ganharam para Cristo e no ano 800 d.C. através de um rei bárbaro cristão, Carlos Magno, se ergueu o Sacro Império Romano-Germânico.

Mas…
A História não para e eis que surge um novo povo saindo do mar, vindo do norte, saqueando mosteiros e igrejas próximas da praia são os Vikings. Um povo que matava seus adversários e transformava seus crânios em taças para beberem hidromel. Em 793 eles invadem e saqueiam o Mosteiro de Lindisfarne na Inglaterra. Por terem uma carranca esculpida na proa de seus barcos e virem do mar os cristãos identificaram os vikings como a “..besta que emerge do mar” do apocalipse. Por muitos anos os mosteiros e igrejas foram os principais alvos do ataque dos vikings, sendo eles pagãos e fazendo as vezes sacrifícios humanos aos seus deuses, eles também foram identificados como agentes do anticristo e do juízo de Deus sobre a terra. "Da fúria dos nórdicos, livrai-nos Senhor"! - assim oravam os cristãos da época. 


Também na mesma época dos Vikings tem a expansão do Império Islâmico que alcança a península ibérica e as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília. Os muçulmanos, em alguns lugares do norte da África oprimidos pelo Império Bizantino, foram recebidos como libertadores, mas passado algum tempo os muçulmanos começaram a cobrar tributo dos cristãos para que pudessem exercer sua fé e a restringir a ocupação de cargos públicos. Os cristãos medievais viram nas ações dos muçulmanos e no discurso religioso uma atitude anticristã e interpretaram Maomé como sendo o falso profeta do apocalipse. Isso culminou com as Cruzadas, uma tentativa frustrada e mal sucedida de libertar a Terra Santa, a palestina, do domínio muçulmano.


No século XV a partir do Renascimento, o campo de batalha contra o cristianismo saiu do campo físico e passou para o campo intelectual e filosófico. Destaca-se nesta época Giordano Bruno. Embora o mesmo fosse um frade dominicano, a sua postura foi o de um intelectual anticristão, não só por contestar a Igreja de sua época, mas também por contestar a própria pessoa de Jesus Cristo. Seu livro “Spaccio de la Bestia Trionfante” era um ataque à religião e mostrava o panteísmo do seu autor.

Porém, nessa esfera, o anticristianismo foi marcante entre os filósofos Iluministas do Século XVIII. Os filósofos iluministas acreditavam que o progresso humano poderia ser ilimitado, desde que o mesmo, se libertasse das tolices, ignorância, superstições e misticismo e se guiassem pela razão. Os filósofos Diderot, Voltaire e outros, atacavam francamente as instituições católicas, bem como muitas doutrinas cristãs, inclusive aquelas também abraçadas pelos protestantes. As idéias iluministas foram levadas a cabo durante a Revolução Francesa e uma das consequências foi a execução de cerca de  1 mil padres franceses.


A religião cristã tem sido a religião mais perseguida da história, quer por regimes políticos, governos, países, intelectuais, grupos organizados ou pessoas. Muitos erros e crimes dos quais a fé cristã é acusada são verdadeiros, mas outras coisas não passam de víeis ideológicos e não levam em consideração as inúmeras contribuições alcançadas por ela. Mas quando se quer difamar um inimigo ressaltam-se os seus vícios e minimizam as suas virtudes. E hoje mais do que nunca, pois assentando nas cadeiras da ONU estão inúmeros secretários, planejadores, articuladores imbuídos de um forte espírito anticristão, principalmente aqueles que ocupam o Conselho dos Direitos Humanos.