quinta-feira, 19 de setembro de 2019

O MINISTÉRIO DE APÓSTOLO


Eraldo Luis Pagani Gasparini


O ponto de vista sobre o ministério de Apóstolo é exclusivamente meu e formou-se através do debate e diálogo com os dois lados: os que defendem o ministério de apóstolo na atualidade e os que dizem que o ministério de apóstolo se findou.
Os que defendem que o ministério de apóstolo é para os dias atuais fazem parte de uma perspectiva que crê que Deus está restaurando a Sua Igreja. Começando com a Reforma Protestante, Deus foi restaurando a verdade e hoje Ele está restaurando também os ministérios que haviam na Igreja primitiva como pastores, evangelistas, doutores, mestres e apóstolos.

Os que dizem que se findou, dizem que o ministério de apóstolo só poderia ser de alguém que viu pessoalmente a Jesus e foi Sua testemunha e que quando morreu o último apóstolo, no caso o apóstolo João, esse ministério especial se findou no seio da igreja.

De fato, enquanto historiador, depois do apóstolo João, não vemos na História da Igreja Primitiva ninguém mais usar o título de apóstolo, vemos os líderes da igreja primitiva sendo chamados de bispos, presbíteros, mestres, padres, mas ninguém mais é chamado de apóstolo a partir do início do II século depois de Cristo.

Todavia temos o emprego da palavra Missionário no meio da igreja. 

A palavra Missionário e Apóstolo são sinônimos uma está em latim e a outra está em grego. A palavra Missionário vem do Latim MISSIONARIUS, “aquele que é mandado realizar uma tarefa”, de MISSIO, “ato de enviar”, de MITTERE, “enviar”. Historicamente falando sempre houve apóstolos na igreja, só que com o nome de missionário.

Ou seja, por muitos anos as Igrejas Protestantes Históricas tiveram apóstolos, mas os chamavam de missionários, assim o missionário Ashbel Green Simoton que trouxe a Igreja Presbiteriana ao Brasil poderia muito bem ser chamado de “Apóstolo” Ashbel Green Symonthon. No meu entender apóstolo é só um dos muitos ministérios do Novo Testamento como pastor, mestre, evangelista, ou seja, é só uma forma de servir a Deus. 

Em minha analise percebo que houve um excesso de zelo por parte dos tradicionais e um preciosismo por parte dos neo pentecostais. Uns pecaram por excesso de zelo para que o princípio Sola Scriptura não fosse corrompido e outros pecaram por dar ao termo apóstolo um valor maior do que ele tem, colocando-o no topo da hierarquia; o que tal não existe.

Sob esse aspecto a igreja evangélica no Brasil, em especial o ramo neo pentecostal, se apropriou da palavra apóstolo para designar um cargo elevado sobre todos os outros. Hoje há uma cadeia hierárquica na igreja evangélica tal qual há na Igreja Católica Romana. No lugar do frade se tem o presbítero, no lugar do padre se tem o pastor, o bispo é o mesmo para os dois, por fim tem o Papa e sua contraparte evangélica o “apóstolo”. Na verdade os evangélicos brasileiros criaram o posto de Papa que é o “Patriarca” ou “Patriarca Apostólico” (Patriarca e Papa são sinônimos, ambos significam “Pai”). 

Na minha modesta opinião, penso que o termo ou título apóstolo não deve ser usado pela Igreja Cristã da atualidade, pelas seguintes razões:
1) de reverência aos primeiros apóstolos, pois assim como na NBA (liga de basquete norte-americana) se aposenta o número da camisa de um grande jogador, assim também em honra a aqueles não devemos mais usar o título de apóstolo;
2) por uma questão de coerência histórica, pois se a Igreja Cristã primitiva não mais o empregou não há necessidade de o faze-lo;
3) pode-se muito bem continuar usando o termo missionário que é equivalente e não gera nenhuma celeuma;
4) temos as Escrituras Sagradas, que devem ser a nossa regra de fé e prática a quem devemos consultar sempre para obtermos orientação espiritual para nossas vidas.
O que os evangélicos no Brasil fizeram foi dar dois passos para trás, restauraram as estruturas católico-romana no meio evangélico, hierarquizaram novamente a igreja, reergueram tudo aquilo que a Reforma Protestante lutou para derrubar, aniquilaram o princípio bíblico do sacerdócio de todos os crentes.
Enfim os evangélicos no Brasil se tornaram uma Igreja Evangélica Católica Romano-Brasileira: 
- “Habemus Papam” (Temos Papa).