terça-feira, 5 de abril de 2011

SOBRE SANTO AGOSTINHO

Eraldo Luis Pagani Gasparini
“Cambaleando a fé, o amor, por sua vez, enfraquecer-se-á. Pois diminuir a fé necessariamente é diminuir também o amor. Realmente, ninguém pode amar o que não crê que exista. Ao contrário, se ao mesmo tempo, ele crê e ama, fazendo o bem e conformando-se aos preceitos e bons costumes, sente nascer em si a esperança de chegar ao que ama” (Santo Agostinho in: A Doutrina Cristã).
Descobri esse irmão mais velho em Cristo na maturidade, aos meus 39 anos de idade. E não poderia ser em outra época, pois só agora tenho mente para entender e coração aberto para ouvi-lo. Agostinho, o Bispo de Hipona no norte da África, canonizado pela Igreja Católica Apostólica Romana; reverenciado pelos Protestantes, já que Lutero foi um monge agostiniano e Calvino construiu seu pensamento teológico baseado nele. Esse irmão mais velho fez me ver coisas na fé cristã que eu não tinha visto e entender complexidades que eu achava difícil alcançar. E me fez perceber que eu não estou só nas minhas indagações sobre Deus, a vida e o universo. E que só pensar, racionalizar não me leva a nada, só me faz manco enquanto ser humano, é necessário sentir também. É necessário amar, ter esperança, acreditar no imponderável.
Em determinado ponto de sua obra A Doutrina Cristã, Santo Agostinho vai discorrer sobre os Princípios Básicos de Exegese e ele vai acentuar que o Amor é a plenitude das Escrituras. Ele ensina que temos que interpretar o texto bíblico a partir do amor. Sem o amor não podemos ter uma fé verdadeira e a nossa esperança é vã. Onde há a fé, há o amor, havendo amor e fé há esperança.
É preciso crer para amar, pois só crendo temos a esperança de encontrar a Quem amamos. Quando encontrarmos a Quem amamos, a nossa espera terá acabado e não precisaremos mais crer, pois estaremos face a face diante do nosso Amor. Por isso o amor é maior, pois ele continuará quando não mais precisarmos de fé e de esperança.  
“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz” (Santo Agostinho in: Confissões).