segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A FÉ PROTESTANTE NO PERÍODO COLONIAL

Eraldo Luis Pagani Gaparini

O Brasil como colônia de um país católico, também era oficialmente católico. Tanto era assim que nenhuma pessoa poderia estabelecer-se no Brasil se professasse outra fé. Embora isso não fosse problema para as nações indígenas, já que há muito tempo estavam estabelecidas aqui e professassem outra fé (ou nenhuma). Mas, o fato de o natural da terra, o indígena, não ter a fé católica fez dele alvo das investidas portuguesas, que através dos jesuítas buscaram catequiza-lo.
Gilberto Freire comenta:

“O perigo não estava no estrangeiro, nem no indivíduo disgênico ou cacogênico, mas no herege. Soubesse rezar o Padre-Nosso e a Ave-Maria, dizer o Creio-em-Deus-Padre, fazer o Pelo-Sinal–da-Santa-Cruz e o estranho era bem vindo no Brasil colonial. O frade ia a bordo indagar da ortodoxia do indivíduo como hoje se indaga da sua saúde e da sua raça” [1] (FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 2. ed. Rio de Janeiro: Schimidt, 1936, p. 29).
Embora, mesmo com a proibição, a fé protestante fez suas incursões em terras brasileiras no período colonial. Isto se deu inicialmente com as invasões francesas e posteriormente com as invasões holandesas.


Mapa da Baía de Guanabara no século XVI.

A FRANÇA ANTÁRTICA

Os franceses contestando a posse das terras recém “descobertas” somente para espanhóis e portugueses, também quiseram seu quinhão na América. E assim, ainda no século XVI, a França tenta fundar colônias no Brasil. Dentro dessas tentativas, vamos nos ater a primeira que foi a formação da França Antártica, pois é nela que aparece pela primeira vez a presença da fé protestante no Brasil.
Oficial da marinha francesa, Nicolau Durand de Villegaignon, teve a iniciativa de fundar uma colônia no Brasil e obteve, para isto, o apoio dos huguenotes, partido protestante da nobreza francesa, na pessoa de seu líder o Almirante Gaspar de Coligny que conseguiu patrocínio do rei Henrique II. Tendo partido do porto de Havre com três navios, chega na Baía de Guanabara e estabelece na ilha de Serigipe (atual Villegaignon) uma colônia francesa, a França Antártica. Os colonos constroem uma fortificação que recebe o nome de Forte Coligny. Villegaignon era católico e suas intenções eram estritamente comerciais e seu objetivo principal era a exploração de pau-brasil através dos índios, embora a colônia fosse destinada a abrigar os protestantes fugitivos das perseguições religiosas na Europa.
A colônia francesa era formada por homens de todos os tipos: membros da nobreza, padres, artesões, soldados, agricultores, criminosos arrebanhados nas prisões, quer protestantes quer católicos. Uma das propostas da colônia era que houvesse tolerância religiosa.
Porém, Villegaignon era um homem de caráter autoritário e logo estabeleceu uma disciplina rígida, proibindo a relação entre os colonos franceses e as mulheres indígenas. Imaginem um bando de homens no fim do mundo sem mulheres e vendo, ao alcance das mãos, um monte de índias nuas. É para abalar o bom humor de qualquer um. Logo em seguida problemas de ordem administrativa e de cunho religioso começaram a abalar a unidade da colônia.
Em março de 1557, chegou uma segunda leva de colonos protestantes oriundos da cidade de Genebra, uma república cuja religião oficial era protestante, estes vieram sob a intervenção de Coligny e de Calvino (um dos líderes da Reforma). Nela haviam 12 pastores comissionados por Calvino. Em 10 de março de 1557 foi celebrado o primeiro culto protestante no Brasil.
Não tardou e surgiram sérias divergências religiosas entre Villegaignon e os protestantes calvinistas. Por seu caráter, ele não conseguia aceitar as pessoas que tinham idéias próprias e não se submetiam à sua autoridade. Na colônia, que foi formada para ser um abrigo a fé protestante, surgiu a perseguição religiosa. E em outubro de 1557, os protestantes foram obrigados a sair da ilha e se retiraram para o continente, onde permaneceram num lugar denominado La Briqueterie (Olaria) aguardando uma embarcação que os levasse de volta a França. Tendo retornado em fevereiro de 1558, eles relataram suas experiências chamando Villegaignon de o “Caim da América”.
Em 1560, os portugueses atacaram a colônia que resistiu até 1565, quando foi derrotada e os seus habitantes dispersos. Os portugueses fundaram a cidade do Rio de Janeiro. Os franceses que haviam se refugiado nas regiões circunvizinhas foram expulsos definitivamente em 1567. Terminou assim a França Antártica.


Fonte: The Bridgeman Art Library/KEYSTONE.
 Ilha de Serigipe sob ataque da Armada Portuguesa, 1560
 
 
 
Referências Bibliográficas:
ALMANAQUE ABRIL 2005. ano 31. São Paulo: Editora Abril, 2005.
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1988.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 2. ed. Rio de Janeiro: Schimidt, 1936.