quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

ANTICRISTIANISMO - Parte I


Da Antiguidade a Contemporaneidade


Eraldo Luis P. Gasparini


Por Anticristianismo define-se a doutrina contrária ao cristianismo; ao movimento político, filosófico e/ou religioso que visa fazer frente às instituições religiosas e políticas cristãs.
O Cristianismo desde o seu nascedouro provocou acirrada oposição dos seus detratores, desde a mera oposição verbal até a prisão, imposição de castigos físicos e a morte. Começando pelos judeus que os consideravam blasfemadores, passando pelos gregos que os consideravam perturbadores da paz, até os romanos que os acusavam de traidores do império.


O primeiro anticristo da história e o mais famoso foi o imperador romano Nero que fez a primeira perseguição contra os cristãos, acusando-os de terem colocado fogo em Roma, nesta perseguição foram mortos os apóstolos Paulo e Pedro. Logo em seguida veio o imperador Domiciano que se auto declarou divino e instaurou uma perseguição aos cristãos da ásia (atual Turquia), tendo feito o apóstolo João ser exilado na ilha de Patmos, onde este escreveu o apocalipse. A partir daí inúmeros imperadores romanos deflagaram alguma perseguição sistemática aos cristãos. Foi a época dos mártires, dos cristãos jogados aos leões nas arenas dos circos romanos ou queimados vivos em espetáculos, época que a Igreja foi para as catacumbas fazer as escondidas suas reuniões de adoração e culto. Nesse período a pior perseguição foi a lançada pelo imperador Décio no ano 250 d.C., está perseguição foi por todo o império romano e usou do aspecto econômico, todos aqueles que quisessem comercializar, comprar ou vender produtos deveriam ter o “libelus real” que era concedido apenas aqueles que fossem ao templo oficial do império romano e queimasse incenso aos deuses de Roma e declarassem fidelidade ao imperador. Foi a perseguição mais parecida com aquela retratada no Apocalipse. 
O anticristianismo atuou pela última vez no ano 303 d.C. com o imperador Diocleciano e durou até 311 com Galério. Somente em 313 d.C. acabou a perseguição aos cristãos com o Édito de Milão por Constantino. 

Quando tudo parecia acabado e a paz parecia ter chegado, eis que surgem os bárbaros e desencadeiam nova perseguição aos cristãos. Os povos que habitavam além das fronteiras romanas, os godos, ostrogodos, vândalos, alanos, pressionados pelos hunos invadiram o império romano e por fim provocaram a sua queda em 476 d.C. Para os pagãos que julgavam Roma a “cidade eterna” isso era o fim do mundo. Os povos bárbaros eram nômades e praticavam o saque, sendo assim eles invadiam as cidades e regiões e saqueavam tudo o que viam pela frente, pessoas, casas, templos, palácios e faziam muitos de seus capturados escravos. Muitos cristãos foram feitos escravos, a lei e a ordem foram varridas do mapa, por isso para muitos cristãos o fim do mundo também chegará e estes viam os bárbaros como agentes do anticristo. Contudo a Igreja evangelizou os bárbaros e os ganharam para Cristo e no ano 800 d.C. através de um rei bárbaro cristão, Carlos Magno, se ergueu o Sacro Império Romano-Germânico.

Mas…
A História não para e eis que surge um novo povo saindo do mar, vindo do norte, saqueando mosteiros e igrejas próximas da praia são os Vikings. Um povo que matava seus adversários e transformava seus crânios em taças para beberem hidromel. Em 793 eles invadem e saqueiam o Mosteiro de Lindisfarne na Inglaterra. Por terem uma carranca esculpida na proa de seus barcos e virem do mar os cristãos identificaram os vikings como a “..besta que emerge do mar” do apocalipse. Por muitos anos os mosteiros e igrejas foram os principais alvos do ataque dos vikings, sendo eles pagãos e fazendo as vezes sacrifícios humanos aos seus deuses, eles também foram identificados como agentes do anticristo e do juízo de Deus sobre a terra. "Da fúria dos nórdicos, livrai-nos Senhor"! - assim oravam os cristãos da época. 


Também na mesma época dos Vikings tem a expansão do Império Islâmico que alcança a península ibérica e as ilhas de Córsega, Sardenha e Sicília. Os muçulmanos, em alguns lugares do norte da África oprimidos pelo Império Bizantino, foram recebidos como libertadores, mas passado algum tempo os muçulmanos começaram a cobrar tributo dos cristãos para que pudessem exercer sua fé e a restringir a ocupação de cargos públicos. Os cristãos medievais viram nas ações dos muçulmanos e no discurso religioso uma atitude anticristã e interpretaram Maomé como sendo o falso profeta do apocalipse. Isso culminou com as Cruzadas, uma tentativa frustrada e mal sucedida de libertar a Terra Santa, a palestina, do domínio muçulmano.


No século XV a partir do Renascimento, o campo de batalha contra o cristianismo saiu do campo físico e passou para o campo intelectual e filosófico. Destaca-se nesta época Giordano Bruno. Embora o mesmo fosse um frade dominicano, a sua postura foi o de um intelectual anticristão, não só por contestar a Igreja de sua época, mas também por contestar a própria pessoa de Jesus Cristo. Seu livro “Spaccio de la Bestia Trionfante” era um ataque à religião e mostrava o panteísmo do seu autor.

Porém, nessa esfera, o anticristianismo foi marcante entre os filósofos Iluministas do Século XVIII. Os filósofos iluministas acreditavam que o progresso humano poderia ser ilimitado, desde que o mesmo, se libertasse das tolices, ignorância, superstições e misticismo e se guiassem pela razão. Os filósofos Diderot, Voltaire e outros, atacavam francamente as instituições católicas, bem como muitas doutrinas cristãs, inclusive aquelas também abraçadas pelos protestantes. As idéias iluministas foram levadas a cabo durante a Revolução Francesa e uma das consequências foi a execução de cerca de  1 mil padres franceses.


A religião cristã tem sido a religião mais perseguida da história, quer por regimes políticos, governos, países, intelectuais, grupos organizados ou pessoas. Muitos erros e crimes dos quais a fé cristã é acusada são verdadeiros, mas outras coisas não passam de víeis ideológicos e não levam em consideração as inúmeras contribuições alcançadas por ela. Mas quando se quer difamar um inimigo ressaltam-se os seus vícios e minimizam as suas virtudes. E hoje mais do que nunca, pois assentando nas cadeiras da ONU estão inúmeros secretários, planejadores, articuladores imbuídos de um forte espírito anticristão, principalmente aqueles que ocupam o Conselho dos Direitos Humanos.