Reflexões Teológicas sobre o Apostolado na realidade brasileira
ERALDO LUIS PAGANI GASPARINI
Diante da realidade que se constrói no meio evangélico brasileiro, achei por bem fazer uma reflexão teológica maior sobre o ministério de Apóstolo. Já havia escrito anteriormente sobre isso. Acredito que a mesma não agradará nenhuma das partes, quer ao ramo tradicional quer ao ramo neopentecostal, contudo fiz essa reflexão após um exaustivo estudo não só do Novo Testamento, mas também da História da Igreja. E talvez quem sabe ajudar a Igreja de Cristo estabelecida no Brasil a ter uma teologia mais sadia. Que Deus tenha misericórdia de nós!
A palavra
apóstolo significa “enviado”, num certo sentido todos os crentes em Cristo são
apóstolos já que são “enviados” para serem testemunhas de Cristo e pregarem o
evangelho. É por isso que no Credo Niceno-Constantinopolitano a Igreja é chamada de
apostólica, já que Cristo a envia ao mundo como sua representante. Mas no
tocante a ser um apóstolo, a ter o título, a autoridade, o cargo, isso de fato
parou de ser empregado pela Igreja de Cristo após a morte do apóstolo João. A
Igreja Cristã Primitiva[1]
nunca mais empregou esse título a quaisquer dos líderes que posteriormente
vieram.
No sentido
Neo-testamentário de ser um apóstolo tal qual foram os primeiros discípulos de
Cristo, no qual a Igreja esta alicerçada sobre as suas doutrinas (cf. Efésios
2:20), ninguém na atualidade tem autoridade para isso.
Mas
postreriormente a Igreja de Cristo passou a empregar o título de missionário
que é um sinônimo de apóstolo, mas sem a mesma autoridade. A palavra
Missionário vem do latim MISSIONARIUS, “aquele que é mandado realizar
uma tarefa”, de MISSIO, “ato de enviar”, de MITTERE, “enviar”. No
sentido ministerial, de serviço a Deus, o termo missionário substitui muito bem
o termo apóstolo, sem gerar nenhuma celeuma ou discussões teológicas acaloradas.
Há um conflito
entre protestantes históricos e neopentecostais por causa do termo apóstolo. Os
protestantes históricos devido ao postulado de Sola Scriptura entendem
que o canon do Novo Testamento foi fechado (o que é corretíssimo) e que por
isso o ministério de apóstolo também terminou, já que a Igreja está firmada
sobre a doutrina dos apóstolos. Ora por essa lógica se há apóstolos, as
Escrituras Sagradas ainda continuam sendo escritas já que ainda há apóstolos. E
a grande preocupação dos protestantes históricos é que foi o fato de a Igreja
ter negligenciado as Escrituras Sagradas que a fez apostatar da fé, fazendo que
ela incorporasse vários elementos pagãos. O zelo dos protestantes históricos é
correto e prudente.
Contudo a Bíblia
cita outros apóstolos como Barnabé (Atos 13:2-4; 14:14), Andrônico e Júnias
(Romanos 16:4) e Epafrodito (Filipenses 2:25). Conforme o texto de Atos aponta
tais apóstolos seriam “Apóstolos do Espírito Santo”, ou sejam, seriam apóstolos
de uma outra categoria diferente dos “Apóstolos de Cristo”. Tais apóstolos
teriam a mesma função, mas não a mesma autoridade. É por isso que não há
nenhuma Epístola de Barnabé ou de Adrônico ou Epafrodito na Bíblia. É isso que
defendeu um dos historiadores reformados A. M. Renwick, professor de História
da Igreja na Faculdade da Igreja Livre
da Escócia, em seu livro A Igreja Cristã e sua História (1958).
E é nesse ponto
que digo a Igreja sempre teve apóstolos, não de Cristo, mas do Espírito Santo,
não com a mesma autoridade, mas com a mesma função, a de serem arautos de
Cristo e proclamarem o evangelho. Tais apóstolos hoje são chamados de MISSIONÁRIOS.
Se admitirmos isso, preservaremos o postulado de Sola Scriptura.
Os
neopentecostais podem usar o título de apóstolo, mas não da maneira que o
fazem, colocando-o no topo de uma cadeia hierárquica. Isso não é bíblico. Estão
distorcendo o real sentido de um apóstolo do Espírito Santo, que é o de
proclamador de boas novas àqueles que não a ouviram. Reivindicar o título de
apóstolo em nossos dias, como eram os apóstolos de Cristo, é compreender
erradamente o ensino bíblico.
E assim concluo
a minha reflexão, esperando na Graça de Deus que tais palavras possam
contribuir para uma Igreja Evangélica mais saudável no Brasil.