domingo, 18 de dezembro de 2011

NATAL, DATA DE COMEMORAÇÃO DO NASCIMENTO DE CRISTO OU ÉPOCA DE SUÍCIDIO?

Nos Estados Unidos da América a época de maior indice de suícidio é o natal,  o que recentemente soube é que também é a data com maior indice de suícidio no Brasil. A Ponte Golden Gate, em San Francisco, na Califórnia é o lugar de maior indice de suícidio nessa época do ano. A pergunta que não quer calar é por que? Não é esta a data de celebrar o amor, a família, a fraternidade entre as pessoas?
Pois é, esta é resposta adequada o Natal é para celebrar o amor, mas como se vivemos numa sociedade egoísta onde cada um só se importa consigo mesmo? É para celebrar a família, mas como se metade dos casamentos acabam em menos de cinco anos e os filhos ficam divididos entre a casa do pai e a mãe? É para celebrar a fraternidade entre as pessoas, mas como se as pessoas abandonaram a casa do Pai?
O Natal é para celebrar o nascimento de Cristo e nos fazer lembrar que Deus Pai enviou o seu único filho para que todo aquele que nEle crêe não morra, mas tnha a vida eterna. É para celebrarmos o exemplo de Jesus que sendo Deus a si mesmo se esvaziou tomou a forma humana e habitou entre nós cheio de graça e de verdade, falando, ensinando, vivendo, dando exemplo de como devemos ser.
O Natal começa pela fé, crermos que Jesus veio a mundo, morreu, ressuscitou e subiu aos céus de onde ha de vir para julgar os vivos e os mortos. E no entanto o Natal foi esvaziado desse sentido, no lugar colocaram um velhinho gordo e bonachão que tem a função de fazer as pessoas gastarem mais dinheiro com compras. Como se comprar um presente preenche-se a falta de amor, reconhecimento e carinho. Aliás, nesse mundo tudo se compra até a felicidade que pode vir num frasco de anti-depressivo ou ansiolitico, numa blusa de marca, num carro do ano, numa viagem ao estrangeiro.
No Natal pode faltar presentes, pode faltar a ceia farta na mesa, pode faltar inumeras coisas de ordem material, mas não pode faltar a fé em Jesus.
Neste natal diga não ao Papai Noel, diga não aos presentes, diga não aos enfeites, diga não as árvores de natal, mas diga sim a Jesus e a sua boa nova de salvação:

Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite.
E um anjo do Senhor desceu aonde eles estavam, e a glória do Senhor brilhou ao redor deles; e ficaram tomados de grande temor.
O anjo, porém, lhes disse: Não temais; eis aqui vos trago boa-nova de grande alegria, que o será para todo o povo:
é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor.
 E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada em manjedoura.
E, subitamente, apareceu com o anjo uma multidão da milícia celestial, louvando a Deus e dizendo:
Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a quem ele quer bem (Lucas 2:8-14).

Feliz comemoração de nascimento de Jesus Cristo!!!





quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O MARTÍRIO DE UM CRISTÃO EVANGÉLICO NA ALEMANHA NAZISTA

Os mártires cristãos estão por todas as partes e em todas as épocas, na época do Império Romano dos séculos primeiros e também em pleno século XX na Alemanha dominada por Hitler. Muitos assistiram ao filme Operação Valquíria, com o astro de Hollywood Tom Cruise, onde conta à história de um fracassado atentado a bomba contra Adolf Hitler. O que poucos sabem é que havia uma rede de resistência contra o nazismo formada por vários cidadãos alemães, incluindo um pastor luterano chamado Dietrich Bonhoeffer.

Bonhoeffer foi um dos mentores e signatários da Declaração de Barmen, quando em 1934 diversos pastores luteranos e reformados, formaram a Bekennende Kirche, Igreja Confessante, rejeitando desafiadoramente o nazismo: "Jesus Cristo, e não homem algum ou o Estado, é o nosso único Salvador".
Em 1933 as Igrejas Protestantes na Alemanha foram forçadas a entrarem para a Igreja Protestante do Reich e apoiar a ideologia Nazista. A Igreja Confessante foi criada em setembro do mesmo ano como um grupo clandestino da resistência alemã. Em 1934 a Declaração Teológica de Barmen, escrita primariamente por Karl Barth com o apoio de outros pastores e congregações da Igreja Confessante, foi ratificada no Sínodo de Barmen, reafirmando que a Igreja Protestante Alemã não era um órgão do Estado, com o propósito de reforçar o Nazismo, mas um grupo sujeito apenas a Jesus Cristo e seu Evangelho.
O movimento foi posto na ilegalidade e em Abril de 1943 Bonhoeffer foi preso por ajudar judeus a fugirem para a Suíça. Levado de uma prisão para outra, em 9 de Abril de 1945, três semanas antes que as tropas aliadas libertassem o campo, foi enforcado, junto com seu irmão Klaus e 2 de seus cunhados.
Sua obra mais famosa, escrita no período de ascensão do nazismo foi "Discipulado" (Nachfolge) na qual desenvolve a polêmica acerca da teologia da graça, fundamento da obra de Martinho Lutero. Nesse livro ele opõe-se a prática dos cristãos da época que viviam um cristianismo sem a renúncia pessoal e barateavam a graça de Deus:


"A graça barata é a inimiga mortal de nossa igreja. Lutamos hoje pela graça de grande valor. A graça barata é a pregação do perdão sem exigir arrependimento, batismo sem disciplina na igreja, comunhão sem confissão, absolvição sem confissão pessoal. A graça barata é graça sem discipulado, sem a cruz, sem Jesus Cristo, vivo e encarnado…
A graça de grande valor é o tesouro escondido no campo, pelo qual o homem vai alegremente e vende tudo o que tem. É a pérola de grande valor que, para comprá-la, o negociante vendeu tudo o que tinha (...)
Tal graça é custosa porque ela nos chama para seguir, e é graça porque nos chama pra seguir Jesus Cristo. É de grande valor porque custa ao homem sua vida e é graça porque dá ao homem a única vida verdadeira”



Dietrich Bonhoeffer poderia ter feito como a maioria dos cristãos de seu tempo ante ao nazismo: se calar. Mas preferiu se posicionar contra a maldade e a injustiça de um governo tirânico. Ele não deixou que a graça de Deus fosse barata em sua vida, mas sim preciosa.

Para saber mais sobre Bonhoeffer acesse:
http://www.sociedadebonhoeffer.org.br.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

A RELIGIÃO “CULT”


Recentemente li o comentário de um colega propedeuta sobre a atual conjuntura da religião no Brasil, ele escreveu que ser evangélico era ser ignorante, ser católico era ser um retrógrado conservador e que ser budista era “cult”, estar na moda. Bom isso no meio acadêmico, porque entre a população o budismo representa menos de 1% da população brasileira.
O que acontece então?
Na atual conjuntura da pós-modernidade vivemos uma realidade fluída, a verdade não é tão verdadeira, a única certeza que há é a dúvida e por aí vai. No meio acadêmico com a premissa aristotélica da dúvida sistemática é difícil aceitar uma verdade definitiva, premissa essa do Cristianismo. O Cristianismo se considera A VERDADE e essa premissa é inaceitável no meio acadêmico. Assim entre os letrados se tornou moda ser budista.
Mas o budismo não é uma religião???
Sim, porém a sua doutrina pode ser adaptada a qualquer outro sistema religioso ou de  filosofia de vida, até mesmo ao ateísmo.
A essência da doutrina budista diz que a vida é sofrimento, o sofrimento vem do desejo, suprimindo o desejo desfaz-se o sofrimento. Para se desfazer o sofrimento é necessário seguir o Caminho Óctuplo, que consiste em:
1.Visão Correta
2. Pensamento Correto
3. Fala Correta
4. Ação Correta
5. Meio de Vida Correto
6. Esforço Correto
7. Atenção Correta
8. Meditação Correta
Essa doutrina pode se adaptar facilmente a qualquer sistema de crenças, tanto é assim que no sudeste da Ásia se adaptou as religiões politeístas que por lá já existiam. Buda, que nunca se declarou um deus, é tratado como uma divindade no panteão existente da região. E no mundo pós-moderno ocidental, ele oferece um sistema filosófico de vida que dispensa a necessidade de um Ser Supremo e de verdades inabaláveis.  A sua visão de mundo pode ser vista em produções cinematográficas de Holywood como Star Wars, Matrix e os filmes do gênero Kung Fu.
Assim com sua doutrina o budismo oferece um sistema de crenças conveniente às necessidades da cultura pós-moderna. É como uma jangada de certeza em um mar de dúvidas, não serve para longas jornadas, mas pelo menos flutua.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

LIDERANÇA FEMININA NA IGREJA PROTESTANTE


Eraldo Lui P. Gasparini

Achei por bem dar o meu parecer sobre a liderança feminina na Igreja Protestante, já que faço parte de uma Igreja Protestante Histórica, a Presbiteriana. O meu parecer trata única e exclusivamente da realidade na qual estou inserido, já que na prática as Igrejas Evangélicas pentecostais e neopentecostais já instituíram pastoras e bispas. Todavia não quer dizer que não sirva de reflexão para esses segmentos.
Primeiramente quero lembrar as palavras de Jesus no evangelho de Lucas, que o maior de todos será o menor de todos:

“Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior. Mas Jesus lhes disse: Os reis dos povos dominam sobre eles, e os que exercem autoridade são chamados benfeitores.
Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve” (Lucas 22:24-26).

A grande questão que envolve essa discussão é a disputa de poder. Ninguém quer ser servo, ninguém quer adotar a premissa de Jesus de servir aos outros. Todos querem mandar, querem ser “cabeça” e não cauda. Todos querem brilhar, refletindo na verdade o contexto da sociedade contemporânea que só considera importante quem tem dinheiro ou fama.
O Cristianismo proposto por Jesus é subversivo, tem a intenção de subverter a ordem da sociedade e estabelecer a igualdade. Ninguém é mais importante do que ninguém, todos são importantes. O único critério de avaliação de uma pessoa é o seu caráter alicerçado no amor. O quanto ela dá de si aos outros é o que faz dela uma pessoa importante ou não dentro do cristianismo. Eu pessoalmente sou a favor do sistema congregacional, onde a assembléia é soberana e todos têm o direito de serem ouvidos, desde o maior ao menor, do mais jovem ao mais velho, tanto homem quanto mulher.
O Cristianismo autêntico diz:

“Destarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (Gálatas 3:28).

A atual luta pela ocupação da mulher em cargos de liderança na Igreja Protestante nada tem a ver com o Cristianismo, mas com a luta por poder encabeçado pelo movimento feminista. O movimento feminista mudou o seu discurso e seus objetivos e não luta mais pela igualdade da mulher, mas sim pela colocação da mulher no poder transformando a sociedade de um sistema patriarcal para um matriarcal, por isso muitos especialistas tem chamado esse movimento de “FEMISTA” numa clara alusão a MACHISTA. O que se busca é a inversão de poderes, mas o SEXISMO, a proeminência de um sexo sobre o outro, continuará.
Isto destoa do discurso do Cristianismo autêntico onde o maior de todos é Jesus Cristo diante de quem todo joelho se dobrará e toda língua confessará que é o SENHOR. E isso vale para homens e mulheres.

sábado, 20 de agosto de 2011

A DIFERENÇA ENTRE SABEDORIA E CONHECIMENTO

Eraldo Luis Pagani Gasparini


A diferença entre sabedoria e conhecimento é muito simples. O conhecimento consiste em ter noção de como as coisas são e funcionam. A sabedoria consiste em aplicar esse conhecimento à vida. A vida no seu sentido amplo, geral e irrestrito, não somente ao relacionado ao cotidiano, o trabalho, ao convívio social e familiar, também à saúde, a paz, a alegria, a mente, a alma, enfim a VIDA.
Ser sábio consiste em saber conduzir a vida. Conduzir a vida a fim de torná-la a melhor possível para si e para os outros. Ser sábio significa levar uma vida saudável, tranqüila, cheia de paz e alegria, em harmonia consigo mesmo, com os outros e com Deus.
No Projeto Manhattam que na década de 1940 produziu a bomba atômica havia vários cientistas com prêmio Nobel, com certeza foi uma grande concentração de pessoas inteligentes, mas sem sabedoria nenhuma. Com certeza construir a bomba atômica foi um grande empreendimento técnico e cientifico, mas não sábio. Se o arsenal nuclear, que ainda existe e está ativo, fosse usado daria para destruir a superfície do planeta Terra várias vezes.
Uma mãe semi-analfabeta que mora na periferia de uma cidade e faz com que os seus filhos se afastem da violência e das drogas, educa-os com carinho e disciplina e procura faze-los estudar, com certeza é uma mulher sábia, apesar da falta de conhecimento.
Ter o conhecimento de arar a terra em curvas de nível não evita a erosão, aplicar o conhecimento ao arar sim. O conhecimento sozinho não altera a realidade. Reconhecer o erro, se arrepender e deixar de praticá-lo é ser sábio, só ter o conhecimento de estar errado e continuar errando não nos faz sábio.
Dois homens moram num bairro perigoso, ambos tem o conhecimento que em determinada rua acontecem vários assaltos, um deles sempre evita essa rua ainda que tenha de andar mais e o outro passa por ela e é assaltado. Qual dos dois é o sábio?
Só o conhecimento não altera a nossa sorte, mas sim o bom uso que fazemos dele.
O homem tem um mapa, tem uma bússola, mas não consegue achar o caminho para a sua casa, porque não sabe usa-los; o sábio sabe como usa-los por isso consegue apontar o caminho ao que está perdido.
Na antiguidade havia o conceito de “ancião”. O ancião era a pessoa sábia pelo conhecimento e a experiência, não bastava entender e conhecer das coisas, era necessário tê-las vivenciado com a experiência, era necessário que tal pessoa tivesse um bom tempo de vida, por isso o “ancião” não poderia ser jovem. Geralmente o “sábio” é representado em ilustrações como uma pessoa idosa de cabelos e barba brancos. Essa representação faz parte do consciente coletivo da humanidade, demonstrando alguém que viveu as experiências humanas, que pode orientar os outros em seus caminhos por já tê-los trilhados. Assim era e deve ser um ancião.
O sábio olha pra trás, olha para os lados e olha para cima antes de apontar a direção certa. Olha para trás para ver o que já se passou, olha para os lados para ver o presente e consultar os seus semelhantes, olha para cima para consultar a Deus e receber Sua orientação e assim apontar o caminho certo aos que lhe consultam.





sábado, 30 de julho de 2011

O QUE É RELIGIÃO



Eraldo Luis Pagani Gasparini


Antigamente definir religião era fácil. Religião do latim religare que significa “religação”, ou seja, religação do homem com Deus (ou deuses). Mas o conhecimento aumentou e as especialidades como a sociologia, antropologia, psicologia, biologia, genética, neurologia produziram novas concepções da mesma ligadas ao homem.
Falar da religião é um assunto complicado e controverso, sempre inspira discussões acaloradas. Mas, afinal de contas, o que é esse sentimento que todos os seres humanos têm em maior ou menor grau?
Temos a concepção marxista de que religião é o elemento alienante da realidade, algo que produz alívio em meio ao sofrimento, a exploração social em que o homem está inserido sintetizado na frase “religião é o ópio do povo”.
Temos a concepção sociológica de Durkheim de que religião é a nomia, aquilo que dá sentido a sociedade, que estabelece as regras de convivência nas quais os indivíduos têm que se encaixar para que haja harmonia na mesma.
Temos a concepção psicológica de Carl Jung de que religião é a manifestação das estruturas psicológicas humanas e que se manifestam através dos símbolos e ritos no culto a Deus (ou aos deuses).
Temos a concepção antropológica de Mircea Eliade de que a religião é “Linguagem Mitica”, manifestações simbólicas de verdades do “ser” humano.
Temos a concepção biológica de que a religião é um aspecto da evolução do homo sapiens, os primatas que “criam” tinham maior chance de sobrevivência.
Temos a concepção neurológica, assim como amar, falar, alegrar, chorar, são funções cognitivas ligadas a áreas cerebrais, assim também “crer” está ligado à atividade de determinada área do cérebro. Essa concepção é uma continuação da anterior.
Para outros há a definição de religião como a percepção humana do além, do que é supranatural, ou seja, do que está além do aqui e o agora, do que está além da matéria, do que está além do natural. Essa percepção vai se formar, porém, de acordo com as estruturas mentais, culturais, sociais de cada indivíduo, de cada grupo. E a consolidação dessa percepção vai depender de cada grupo, de cada época e de cada local. A partir dessa percepção intuitiva os seres humanos constroem mecanismo para entrar em contato com essa outra realidade. A primeira constatação que os seres humanos fazem é de que se sentem parte dessa realidade, mas que estão excluídos dela. É uma espécie de saudade, de nostalgia inexplicável de algo desconhecido, de se perceber cidadão de uma outra pátria em um algum outro lugar, de se sentir exilado. O nirvana dos budistas, a interrupção do ciclo de encarnações e a integração com Bhraman dos hindus, o paraíso celeste dos cristãos, o valhala dos cultos nórdicos, tudo isso é uma construção mental, cultural desse sentimento, a de poder fazer uma viagem de retorno a sua terra de origem.
O ser humano desde tempos primordiais percebe-se diferente em meio à natureza, por isso as construções, as cidades. A maioria dos seres humanos tem dificuldade de se relacionar com a natureza. Poucos vivem em harmonia com a natureza como os índios da Amazônia ou os aborígines da Nova Guiné. Por isso entre outras coisas, o homem se vê como “filho dos deuses” ou criado a “imagem e semelhança de Deus”. O homem se percebe como uma criatura “sobrenatural”.
Mas, então fica a pergunta existe o além, existe o sobrenatural?
O escritor C. S. Lewis respondeu essa pergunta, partindo de outra pergunta:
- Como definimos natureza?
A definição da natureza parte da razão humana, aquilo que é “natureza” é um conceito criado pela razão, logo, a razão está antes da natureza, por conseguinte a razão é sobrenatural. É um raciocínio profundamente filosófico, mas parte do pressuposto de que havendo algo antes da natureza para ela ser enunciada como a mesma, esse “algo” é sobrenatural, sendo esse algo a razão logo a razão é sobrenatural.
Nas ciências atuais é proibido citar Deus, anjos, espíritos, demônios ou forças sobrenaturais para explicar qualquer coisa. Peter Berger vai dizer que a ciência moderna padece de um “ateísmo metodológico”. Assim falar no sobrenatural é uma “heresia” no meio acadêmico. Os “cânones” da academia com seus “clérigos” (pós-doutores, doutores e mestres) baniram para o “limbo” qualquer citação religiosa, falar em Deus é “pecado”, a religião é tratada como um ensinamento “ímpio e pernicioso” que desvia os “crentes” (acadêmicos) da verdadeira e pura fé, digo, ciência.
Você pode citar Deus na antropologia, sociologia, psicologia, história, em qualquer ciência humana, mas somente como algo fenomenológico. Em química, física, matemática, nem pensar, ainda que as partículas subatômicas se comportem de maneira sobrenatural. Isso acontece porque na moderna ciência moderna o pressuposto filosófico adotado é o aristotélico que leva em conta somente o universo perceptível aos sentidos e passível de ser mensurável.
O que temos da presença dos seres humanos superior a 10.000 anos atrás, são somente vestígios, pistas, peças de um grande quebra cabeça incompleto. Muito do que tem sido dito e divulgado não passa, em grande parte, de especulação (imagine um quebra-cabeça de mil peças onde faltam 600). Os arqueólogos recolhem as peças num sítio arqueológico, unem as partes quebradas e reconstroem os artefatos usados pelos homens no passado. A interpretação do que eram esses artefatos passa por uma série de especialistas que “reconstroem” o passado, este passado reconstruído é “interpretado” pelo profissional gabaritado, ou seja, o historiador. A interpretação do historiador vai depender da metodologia por ele adotada, bem como seus axiomas.
No final das contas qual será a história contada?
Como foi dito isto vai depender do historiador, o que faz com que a lógica da História seja como disse Edward Thompson, uma lógica elástica sujeita a controvérsias e a contestação. Assim chegamos ao principal problema da História a de que a verdade objetiva nunca pode ser alcançada, somente a sua representação.
E assim a definição de religião fica em aberto em duas correntes:

- Uma que defende a existência de algo “além”, imanente, espiritual, metafísico, ainda que não plenamente compreensível;

- Outra que defende a religião como uma manifestação única e puramente humana, sem nada “além”.

Qual a verdadeira definição de religião, então???
Isso vai depender do pressuposto filosófico adotado ou como direi da fé de cada um.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ALVES, Rubem. O que é Religião. 9. ed. São Paulo: Vozes, 2008.

ELIADE, Mircea. Tratado de História das Religiões. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

LEWIS, C. S. Milagres. Tradução: Ana Schäffer. São Paulo: Editora Vida, 2006.

QUINTANEIRO, Tânia (org.). Um toque de clássicos: Marx, Durkheim, Weber. 2 ed. rev. amp. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO (E O NORTE-AMERICANO)

THE FALL OF THE ROMAN EMPIRE (AND THE AMERICAN)


 
RESUMO: Esse pequeno artigo tenta ser uma reflexão histórica sobre os últimos acontecimentos ocorridos atualmente em relação as Estados Unidos da América, usando como referencial o antigo Império Romano.


ABSTRACT: This short article tries to be a historical reflection on recent events regarding the current United States of America, using as reference the old Roman Empire.


Eraldo Luis Pagani Gasparini




No ano de 476 o último imperador romano foi deposto pelo rei bárbaro Odoacro. Após inúmeras incursões dos povos bárbaros que começaram a ocorrer a partir do Século III, crises econômicas, golpes de estado, corrupção com aumento de imposto, falhas na administração de um vasto território e enfim todas as mazelas que contribuem para a derrocada de um grande império.

Junto a isso tem também o fator religioso. Os romanos, povo politeísta, via uma pequena religião contaminando o seu glorioso império e trazendo a ira dos deuses sobre o mesmo. Esse grupo religioso foi acusado de praticar o incesto, de ateísmo, de canibalismo em rituais secretos. Seus principais líderes foram decapitados ou crucificados. Estou com isso me referindo aos cristãos, os líderes mortos, ao Apóstolo Paulo decapitado e a Pedro crucificado de cabeça para baixo na colina do vaticano. O Império Romano combalido por problemas externos e internos colocava a culpa de suas desgraças a um pequeno grupo que não se enquadrava nos seus moldes. “Estes que têm transtornado o mundo chegaram também aqui” (Atos 17:6) assim eram acusados os apóstolos. E uma perseguição após a outra foi desferida contra esse grupo religioso.
Mas as acusações contra o império romano também eram consistentes:

“Ai! Ai! Tu, grande cidade, Babilônia, tu, poderosa cidade! Pois, em uma só hora, chegou o teu juízo. E, sobre ela, choram e pranteiam os mercadores da terra, porque já ninguém compra a sua mercadoria, mercadoria de ouro, de prata, de pedras preciosas, de pérolas, de linho finíssimo, de púrpura, de seda, de escarlata; e toda espécie de madeira odorífera, todo gênero de objeto de marfim, toda qualidade de móvel de madeira preciosíssima, de bronze, de ferro e de mármore; e canela de cheiro, especiarias, incenso, ungüento, bálsamo, vinho, azeite, flor de farinha, trigo, gado e ovelhas; e de cavalos, de carros, de escravos e até almas humanas” (Apocalipse 18: 10-13).

Era um império escravista que vivia das benesses de outros povos que haviam sido escravizados sob o seu jugo. E ainda justificava seus atos dizendo-se “civilizador”, pois levavam a gloriosa civilização greco-romana a povos imersos na ignorância e na barbárie.
A perseguição dos cristãos começou no reinado de Nero no ano 64 d.C. e continuou de maneira intermitente até o reinado de Juliano, o apóstata, em 361 d.C. Contudo no ano 380 foi proclamada a religião oficial do Império Romano pelo Imperador Teodósio I e em 391 as religiões pagãs foram proibidas. Na colina em que o Apóstolo Pedro foi crucificado de cabeça para baixo foi erguida uma igreja e atualmente nela está a Basílica de São Pedro sede do Vaticano.
Comparo o antigo Império Romano ao atual Estados Unidos da América. Os Estados Unidos da América espalharam pelo mundo sua cultura e suas empresas, onde os seu interesses foram ameaçados, eles intervieram com força e violência. A política do “big Stick” ou grande porrete. Invadiram o México, a Nicarágua, Porto Rico, Haiti, Cuba, o Panamá no começo do século XX. Também invadiu o Vietnã, a Ilha de Granada, a Somália, o Iraque, o Afeganistão. Como se não bastasse isso contribui para a implantação de um Estado judeu, Israel, no meio de nações árabes e muçulmanas. Financiou guerras, armou opositores de regimes contrários aos seus interesses. Tem a maior indústria bélica do mundo com fuzis, mísseis, tanques, aviões, navios e tudo mais que possa matar a vida humana.
Agora surge um grupo religioso, baseado no islã, onde seu líder foi treinado pelos próprios Estados Unidos em combates de guerrilha e sabotagem. Esse grupo colocou em prática o desejo de muitos povos oprimidos pela potência norte-americana, o desejo de retaliação as injustiças sofridas. Recentemente esse líder foi morto pela ação de forças especiais, seu corpo jogado no mar sem paradeiro conhecido.
Contudo essa nação sofre de uma série de crises econômicas, aumento do desemprego, da dívida externa, perca de influência mundial. E uma outra potência despontando vinda do extremo oriente, a China.
De acordo com o historiador Arnold Toynbee, os impérios e as civilizações, nascem, crescem, se desenvolvem e caem. O império egípcio caiu, o babilônico caiu, o romano caiu, o império britânico, o “império onde o sol nunca se põem”, caiu. E o império dos Estados Unidos da América cairá. Não sei quando e nem como, mas ele também se encerrará.

terça-feira, 5 de abril de 2011

SOBRE SANTO AGOSTINHO

Eraldo Luis Pagani Gasparini
“Cambaleando a fé, o amor, por sua vez, enfraquecer-se-á. Pois diminuir a fé necessariamente é diminuir também o amor. Realmente, ninguém pode amar o que não crê que exista. Ao contrário, se ao mesmo tempo, ele crê e ama, fazendo o bem e conformando-se aos preceitos e bons costumes, sente nascer em si a esperança de chegar ao que ama” (Santo Agostinho in: A Doutrina Cristã).
Descobri esse irmão mais velho em Cristo na maturidade, aos meus 39 anos de idade. E não poderia ser em outra época, pois só agora tenho mente para entender e coração aberto para ouvi-lo. Agostinho, o Bispo de Hipona no norte da África, canonizado pela Igreja Católica Apostólica Romana; reverenciado pelos Protestantes, já que Lutero foi um monge agostiniano e Calvino construiu seu pensamento teológico baseado nele. Esse irmão mais velho fez me ver coisas na fé cristã que eu não tinha visto e entender complexidades que eu achava difícil alcançar. E me fez perceber que eu não estou só nas minhas indagações sobre Deus, a vida e o universo. E que só pensar, racionalizar não me leva a nada, só me faz manco enquanto ser humano, é necessário sentir também. É necessário amar, ter esperança, acreditar no imponderável.
Em determinado ponto de sua obra A Doutrina Cristã, Santo Agostinho vai discorrer sobre os Princípios Básicos de Exegese e ele vai acentuar que o Amor é a plenitude das Escrituras. Ele ensina que temos que interpretar o texto bíblico a partir do amor. Sem o amor não podemos ter uma fé verdadeira e a nossa esperança é vã. Onde há a fé, há o amor, havendo amor e fé há esperança.
É preciso crer para amar, pois só crendo temos a esperança de encontrar a Quem amamos. Quando encontrarmos a Quem amamos, a nossa espera terá acabado e não precisaremos mais crer, pois estaremos face a face diante do nosso Amor. Por isso o amor é maior, pois ele continuará quando não mais precisarmos de fé e de esperança.  
“Tarde Vos amei, ó Beleza tão antiga e tão nova, tarde Vos amei! Eis que habitáveis dentro de mim, e eu lá fora a procurar-Vos! Disforme, lançava-me sobre estas formosuras que criastes. Estáveis comigo, e eu não estava convosco! Retinha-me longe de Vós aquilo que não existiria se não existisse em Vós. Porém chamastes-me com uma voz tão forte que rompestes a minha surdez! Brilhastes, cintilastes e logo afugentastes a minha cegueira! Exalastes perfume: respirei-o, suspirando por Vós. Saboreei-Vos, e agora tenho fome e sede de Vós. Tocastes-me e ardi no desejo da vossa paz” (Santo Agostinho in: Confissões).  


sexta-feira, 4 de março de 2011

MONOTEÍSMO PRIMITIVO

Eraldo Luis Pagani Gasparini

O objetivo deste artigo é de divulgar sobre uma teoria que tem sido muito pouco comentada e abordada no meio da História das Religiões, a teoria sobre o Monoteísmo Primitivo. Entre as inúmeras teorias da origem das religiões está a Teoria do Monoteísmo Primitivo desenvolvida por Wilhelm Schmidt. Esta teoria afirma que no inicio do fenômeno religioso o homem não era animista, nem totêmico e nem politeísta, mas sim monoteísta.

VIDA
Wilhelm Schmidt nasceu em Hörde, Alemanha, em 1868 e morreu em 1954, de causas naturais, na idade de 86 anos. Já como um jovem conheceu os missionários cristãos e dedicou sua vida ao serviço dos outros. Em 1890, entrou para a ordem Católica Romana da Sociedade do Verbo Divino e foi ordenado padre em 1892. Depois ele passou a estudar lingüística nas Universidades de Berlim e Viena.
Em 1906, Schmidt fundou a revista Anthropos e em 1931, o Instituto Anthropos, que dirigiu de 1932-1950. Em 1938, devido a sua forte oposição às idéias nazistas de Racismo Evolucionário, Schmidt teve que fugir da Áustria ocupada pelos nazistas para Friburgo, na Suíça. A revista Anthropos e o instituto foram juntos com ele. Após sua morte, ambos foram realocados em Sankt Augustin, perto de Bonn, na Alemanha, onde permanecem em operação.
Wilhelm Schmidt trabalhou como professor na Universidade de Viena, 1921-1938, e na Universidade de Freiburg , na Suíça, 1939-1951. Schmidt recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, e foi nomeado presidente do IV Congresso Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas. Ele estabeleceu o departamento etnológico do Museu Missionário Etnológico no Vaticano em 1925, servindo como seu diretor de 1927 a 1939. Schmidt publicou mais de seiscentos livros e artigos. Suas obras disponíveis em tradução Inglesa incluem: A origem e o crescimento da Religião (1931), Deuses Superiores na América do Norte (1933), O Método histórico cultural de Etnologia (1939) e Apocalipse Primitivo (1939).

A TEORIA DO MONOTEÍSMO PRIMITIVO
Em suas pesquisas Wilhelm Schmidt começou a colher o relato de vários missionários entre povos tribais. Nestes relatos havia uma singularidade, esses povos afirmavam já conhecer esse Deus que os missionários traziam e que na essência de suas religiões estava um deus, único, supremo, que habitava os céus.
De 1912 até sua morte em 1954, Schmidt publicou seus 12 volumes Der Ursprung der Gottesidee ( A Origem da Idéia de Deus ). Nesta obra ele explicou a sua teoria do monoteísmo primitivo de que a religião em quase todos os povos tribais começou com um conceito essencialmente monoteísta de um grande deus (geralmente um deus-céu), que era um criador benevolente. Ele argumentou que todas as culturas primitivas no mundo tem essa noção de um deus supremo. Eles adoram uma única divindade, superior, onisciente e essencialmente similar ao Deus do cristianismo. Aqui estão algumas crenças típicas que ele observou:
· Deus vive no, ou acima, do céu;
· Ele é como um homem, ou um pai;
· Ele é o criador de tudo;
· Ele é eterno;
· Ele é onisciente;
· Tudo que é bom fundamentalmente vem Dele e Ele é o doador da lei moral;
· Ele julga as pessoas após sua morte;
· As pessoas estão alienadas dele devido a algum delito no passado;
· Ele é muitas vezes suplantado pelos deuses nas religiões que são "mais acessíveis", mas muitas vezes as religiões carregam uma memória distante deste "Deus-Céu" com quem perderam contato.

Baseado em suas descobertas, Schmidt afirmou que todos os povos originalmente acreditavam em um deus único. No entanto, devido à rebelião contra Ele, essas pessoas alienaram-se dele e seu conhecimento de Deus foi perdido.
O que Wilhelm Schmidt estava propondo era que as religiões primitivas não eram politeístas, como se acreditava, mas que começou como monoteístas. Assim, de acordo com Schmidt, o monoteísmo é o mais antigo sistema religioso no mundo. Ele se opõe fortemente a Sigmund Freud na formulação do totemismo como a religião mais antiga, alegando que muitas culturas no mundo nunca passaram pela fase de totemismo. Freud, em contrapartida, criticou o trabalho de Schmidt.

A AUSÊNCIA ACADÊMICA
A teoria de Schmidt não tem sido muito aceita. Mas não somente isso, ela também não tem sido sequer analisada nos meios acadêmicos brasileiros. A única obra dele traduzida para o português foi Etnologia sul-americana: círculos culturais e extratos culturais na América do Sul, que fazia parte da Coleção Brasiliana publicada pela extinta Companhia Editora Nacional.
Uma das teorias mais comumente abordadas para o início da Religião é a teoria do antropólogo britânico Edward B. Tylor (1832-1917). Tylor influenciado pela Teoria da Evolução de Darwin vai afirmar que a partir de uma crença simples, o animismo, é que a Religião surgiu, assim de acordo com a evolução do gênero humano a religião também evoluiu. Sua teoria foi usada pelos nazistas durante a Segunda Mundial para justificar o Racismo Evolucionário. A teoria de Tylor não tem comprovação empírica, ela não se demonstra na realidade. Contudo sua teoria tem sido abordada e a de Schmidt não.
Questões ficam em aberto: Por que um pesquisador que deu tão grandes contribuições em lingüística, etnologia e religião não têm uma obra sequer publicada em português? Por que na História das Religiões, campo de pesquisa que tem se mostrado promissor, não aborda suas teorias? Ainda que discutíveis em suas conclusões, por que não aborda-la?
Rubem Alves faz uma crítica ao meio cientifico ao notar que muitas vezes este se comporta como o meio religioso com os seus “Index” estabelecendo uma espécie de “censura” intelectual de algumas obras. Não estaria a vítima se tornando como seus algozes do passado?


Referências:
RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque. São Paulo: Editora Vida Nova, 1986.
SCHMIDT, Wilhelm. “The Origin of the Idea of God". New York: Ernest Brandewie - Worldcat Librarie, 1912.
SCHMIDT, WILHELM. Disponível em:
http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Wilhelm_Schmidt&oldid=36332032 (original em inglês). Data de acesso: 27 fev. 2011.

A FÉ PROTESTANTE NO PERÌODO COLONIAL - Parte 2

Eraldo Luis P. Gasparini


O BRASIL HOLANDÊS

Não só os franceses, mas também os holandeses também quiseram se estabelecer no Brasil e procuraram no século XVII formarem uma colônia. A motivação econômica destes, diferentemente dos franceses, foi o açúcar e política foi uma rivalidade com os espanhóis. Portugal e Espanha de 1580 a 1640 foram uma só nação, a União Ibérica. Para garantir seu comércio de açúcar, produto muito cobiçado na Europa naquela época, os holandeses criaram a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. E para fazer isso decidem invadir as áreas produtoras de açúcar na América, em especial o Brasil.

Após várias tentativas no Rio de Janeiro e Salvador, tropas holandesas ocuparam, em fevereiro de 1630, o Pernambuco e criaram no nordeste brasileiro a Nova Holanda. Eles chegaram em cerca de 67 navios com 3.700 tripulantes, 3.500 soldados e 1.170 canhões. Após muitas batalhas as cidades de Olinda e Recife ficaram sob domínio holandês.

Dentro deste trabalho o ponto importante é quando chega o conde alemão João Maurício de Nassau-Siegen. Entre 1637 e 1644 o conde João Maurício de Nassau-Siegen governou o domínio holandês, realizou melhoramentos urbanos no Recife e desenvolveu uma política de entendimento com proprietários de engenhos e comerciantes portugueses. Simultaneamente, a Companhia ampliava seus investimentos nos engenhos pernambucanos, emprestava dinheiro aos senhores de engenho e avançava militarmente sobre outras regiões. Com estas medidas Maurício de Nassau ganhou a simpatia dos proprietários de terra. Durante os sete anos em que governou o Brasil holandês em Pernambuco, entre outras obras, construiu pontes, drenou alagados e criou um jardim zoológico. Preocupado com o abastecimento, incentivou o plantio da mandioca e das frutas (como o caju). Cercou-se de intelectuais e artistas, destacando-se os pintores Franz Post e Albert Eckhout que retrataram em suas telas a flora e os costumes do Brasil.

Não são poucos os estudiosos que tecem elogios a esta figura da história brasileira por seu espírito renovador, incentivador das artes e da cultura e tolerante nos campos político e religioso. Ao contrário de Villegaignon, Maurício de Nassau era um calvinista convicto. Nos meses de agosto e setembro de 1640 Maurício de Nassau convocou um parlamento para criar uma legislação para o Brasil holandês. Durante este parlamento foi fixado o princípio de tolerância religiosa entre protestantes, católicos e judeus. Por causa deste espírito tolerante, muitos judeus e protestantes se fixaram no Brasil holandês.

A Holanda havia se tornado um país protestante e era prática naquela época enviar um pastor acompanhar seus soldados para atende-los em suas necessidades espirituais, da mesma maneira como junto aos soldados portugueses era enviado um padre. A Igreja Cristã Reformada era o nome da igreja protestante na Holanda, esta era uma igreja estatal, ou seja, mantida pelo estado. De acordo com Frans Leonard Schalkwijk durante os anos de ocupação holandesa foram organizadas cerca de 22 igrejas protestantes no nordeste. Além de atender as necessidades espirituais dos holandeses, a Igreja Cristã Reformada desenvolveu um trabalho missionário junto aos índios, enviou pregadores, bem como professores para trabalhar com eles; apesar disso, poucos deles foram convertidos .

A Igreja Cristã Reformada na cidade de Recife também instalou congregações de língua inglesa e francesa. Devido à caótica situação matrimonial em que se encontrava a colônia, ela emitiu o primeiro parecer judicial sobre o divórcio no Brasil; os líderes da igreja sugeriram que depois de determinado tempo, a parte abandonada deveria ser considerada livre da parte desertora, o que deveria ser reconhecido pelo magistrado, dando assim oportunidade a um novo matrimônio.

Em maio de 1644, devido a desavenças com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, Maurício de Nassau deixa o cargo de governador e parte de volta para a Europa. No ano seguinte os proprietários de terra se rebelam contra o domínio holandês, com a Insurreição Pernambucana. A luta vai até 1654, quando os holandeses deixam a região. Como observou Frans Leonard Schalkwijk: “a Igreja Cristã Reformada veio para o Brasil sob a bandeira holandesa e foi expulsa junto com a mesma” .

E desta maneira termina as incursões da fé protestante no Brasil durante o período colonial. Somente no século XIX, é que a mesma vai se fazer presente novamente no Brasil.
 

REFERÊNCIA:
SCHALKWIJK, Frans Leonard. Índios protestantes no Brasil Holandês. História Viva. São Paulo: Duetto Editorial, Ano I, n° 4, 2004.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A FÉ PROTESTANTE NO PERÍODO COLONIAL

Eraldo Luis Pagani Gaparini

O Brasil como colônia de um país católico, também era oficialmente católico. Tanto era assim que nenhuma pessoa poderia estabelecer-se no Brasil se professasse outra fé. Embora isso não fosse problema para as nações indígenas, já que há muito tempo estavam estabelecidas aqui e professassem outra fé (ou nenhuma). Mas, o fato de o natural da terra, o indígena, não ter a fé católica fez dele alvo das investidas portuguesas, que através dos jesuítas buscaram catequiza-lo.
Gilberto Freire comenta:

“O perigo não estava no estrangeiro, nem no indivíduo disgênico ou cacogênico, mas no herege. Soubesse rezar o Padre-Nosso e a Ave-Maria, dizer o Creio-em-Deus-Padre, fazer o Pelo-Sinal–da-Santa-Cruz e o estranho era bem vindo no Brasil colonial. O frade ia a bordo indagar da ortodoxia do indivíduo como hoje se indaga da sua saúde e da sua raça” [1] (FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 2. ed. Rio de Janeiro: Schimidt, 1936, p. 29).
Embora, mesmo com a proibição, a fé protestante fez suas incursões em terras brasileiras no período colonial. Isto se deu inicialmente com as invasões francesas e posteriormente com as invasões holandesas.


Mapa da Baía de Guanabara no século XVI.

A FRANÇA ANTÁRTICA

Os franceses contestando a posse das terras recém “descobertas” somente para espanhóis e portugueses, também quiseram seu quinhão na América. E assim, ainda no século XVI, a França tenta fundar colônias no Brasil. Dentro dessas tentativas, vamos nos ater a primeira que foi a formação da França Antártica, pois é nela que aparece pela primeira vez a presença da fé protestante no Brasil.
Oficial da marinha francesa, Nicolau Durand de Villegaignon, teve a iniciativa de fundar uma colônia no Brasil e obteve, para isto, o apoio dos huguenotes, partido protestante da nobreza francesa, na pessoa de seu líder o Almirante Gaspar de Coligny que conseguiu patrocínio do rei Henrique II. Tendo partido do porto de Havre com três navios, chega na Baía de Guanabara e estabelece na ilha de Serigipe (atual Villegaignon) uma colônia francesa, a França Antártica. Os colonos constroem uma fortificação que recebe o nome de Forte Coligny. Villegaignon era católico e suas intenções eram estritamente comerciais e seu objetivo principal era a exploração de pau-brasil através dos índios, embora a colônia fosse destinada a abrigar os protestantes fugitivos das perseguições religiosas na Europa.
A colônia francesa era formada por homens de todos os tipos: membros da nobreza, padres, artesões, soldados, agricultores, criminosos arrebanhados nas prisões, quer protestantes quer católicos. Uma das propostas da colônia era que houvesse tolerância religiosa.
Porém, Villegaignon era um homem de caráter autoritário e logo estabeleceu uma disciplina rígida, proibindo a relação entre os colonos franceses e as mulheres indígenas. Imaginem um bando de homens no fim do mundo sem mulheres e vendo, ao alcance das mãos, um monte de índias nuas. É para abalar o bom humor de qualquer um. Logo em seguida problemas de ordem administrativa e de cunho religioso começaram a abalar a unidade da colônia.
Em março de 1557, chegou uma segunda leva de colonos protestantes oriundos da cidade de Genebra, uma república cuja religião oficial era protestante, estes vieram sob a intervenção de Coligny e de Calvino (um dos líderes da Reforma). Nela haviam 12 pastores comissionados por Calvino. Em 10 de março de 1557 foi celebrado o primeiro culto protestante no Brasil.
Não tardou e surgiram sérias divergências religiosas entre Villegaignon e os protestantes calvinistas. Por seu caráter, ele não conseguia aceitar as pessoas que tinham idéias próprias e não se submetiam à sua autoridade. Na colônia, que foi formada para ser um abrigo a fé protestante, surgiu a perseguição religiosa. E em outubro de 1557, os protestantes foram obrigados a sair da ilha e se retiraram para o continente, onde permaneceram num lugar denominado La Briqueterie (Olaria) aguardando uma embarcação que os levasse de volta a França. Tendo retornado em fevereiro de 1558, eles relataram suas experiências chamando Villegaignon de o “Caim da América”.
Em 1560, os portugueses atacaram a colônia que resistiu até 1565, quando foi derrotada e os seus habitantes dispersos. Os portugueses fundaram a cidade do Rio de Janeiro. Os franceses que haviam se refugiado nas regiões circunvizinhas foram expulsos definitivamente em 1567. Terminou assim a França Antártica.


Fonte: The Bridgeman Art Library/KEYSTONE.
 Ilha de Serigipe sob ataque da Armada Portuguesa, 1560
 
 
 
Referências Bibliográficas:
ALMANAQUE ABRIL 2005. ano 31. São Paulo: Editora Abril, 2005.
CAIRNS, Earle E. O Cristianismo através dos séculos. 2. ed. São Paulo: Vida Nova, 1988.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande e Senzala. 2. ed. Rio de Janeiro: Schimidt, 1936.