sexta-feira, 4 de março de 2011

A FÉ PROTESTANTE NO PERÌODO COLONIAL - Parte 2

Eraldo Luis P. Gasparini


O BRASIL HOLANDÊS

Não só os franceses, mas também os holandeses também quiseram se estabelecer no Brasil e procuraram no século XVII formarem uma colônia. A motivação econômica destes, diferentemente dos franceses, foi o açúcar e política foi uma rivalidade com os espanhóis. Portugal e Espanha de 1580 a 1640 foram uma só nação, a União Ibérica. Para garantir seu comércio de açúcar, produto muito cobiçado na Europa naquela época, os holandeses criaram a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. E para fazer isso decidem invadir as áreas produtoras de açúcar na América, em especial o Brasil.

Após várias tentativas no Rio de Janeiro e Salvador, tropas holandesas ocuparam, em fevereiro de 1630, o Pernambuco e criaram no nordeste brasileiro a Nova Holanda. Eles chegaram em cerca de 67 navios com 3.700 tripulantes, 3.500 soldados e 1.170 canhões. Após muitas batalhas as cidades de Olinda e Recife ficaram sob domínio holandês.

Dentro deste trabalho o ponto importante é quando chega o conde alemão João Maurício de Nassau-Siegen. Entre 1637 e 1644 o conde João Maurício de Nassau-Siegen governou o domínio holandês, realizou melhoramentos urbanos no Recife e desenvolveu uma política de entendimento com proprietários de engenhos e comerciantes portugueses. Simultaneamente, a Companhia ampliava seus investimentos nos engenhos pernambucanos, emprestava dinheiro aos senhores de engenho e avançava militarmente sobre outras regiões. Com estas medidas Maurício de Nassau ganhou a simpatia dos proprietários de terra. Durante os sete anos em que governou o Brasil holandês em Pernambuco, entre outras obras, construiu pontes, drenou alagados e criou um jardim zoológico. Preocupado com o abastecimento, incentivou o plantio da mandioca e das frutas (como o caju). Cercou-se de intelectuais e artistas, destacando-se os pintores Franz Post e Albert Eckhout que retrataram em suas telas a flora e os costumes do Brasil.

Não são poucos os estudiosos que tecem elogios a esta figura da história brasileira por seu espírito renovador, incentivador das artes e da cultura e tolerante nos campos político e religioso. Ao contrário de Villegaignon, Maurício de Nassau era um calvinista convicto. Nos meses de agosto e setembro de 1640 Maurício de Nassau convocou um parlamento para criar uma legislação para o Brasil holandês. Durante este parlamento foi fixado o princípio de tolerância religiosa entre protestantes, católicos e judeus. Por causa deste espírito tolerante, muitos judeus e protestantes se fixaram no Brasil holandês.

A Holanda havia se tornado um país protestante e era prática naquela época enviar um pastor acompanhar seus soldados para atende-los em suas necessidades espirituais, da mesma maneira como junto aos soldados portugueses era enviado um padre. A Igreja Cristã Reformada era o nome da igreja protestante na Holanda, esta era uma igreja estatal, ou seja, mantida pelo estado. De acordo com Frans Leonard Schalkwijk durante os anos de ocupação holandesa foram organizadas cerca de 22 igrejas protestantes no nordeste. Além de atender as necessidades espirituais dos holandeses, a Igreja Cristã Reformada desenvolveu um trabalho missionário junto aos índios, enviou pregadores, bem como professores para trabalhar com eles; apesar disso, poucos deles foram convertidos .

A Igreja Cristã Reformada na cidade de Recife também instalou congregações de língua inglesa e francesa. Devido à caótica situação matrimonial em que se encontrava a colônia, ela emitiu o primeiro parecer judicial sobre o divórcio no Brasil; os líderes da igreja sugeriram que depois de determinado tempo, a parte abandonada deveria ser considerada livre da parte desertora, o que deveria ser reconhecido pelo magistrado, dando assim oportunidade a um novo matrimônio.

Em maio de 1644, devido a desavenças com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, Maurício de Nassau deixa o cargo de governador e parte de volta para a Europa. No ano seguinte os proprietários de terra se rebelam contra o domínio holandês, com a Insurreição Pernambucana. A luta vai até 1654, quando os holandeses deixam a região. Como observou Frans Leonard Schalkwijk: “a Igreja Cristã Reformada veio para o Brasil sob a bandeira holandesa e foi expulsa junto com a mesma” .

E desta maneira termina as incursões da fé protestante no Brasil durante o período colonial. Somente no século XIX, é que a mesma vai se fazer presente novamente no Brasil.
 

REFERÊNCIA:
SCHALKWIJK, Frans Leonard. Índios protestantes no Brasil Holandês. História Viva. São Paulo: Duetto Editorial, Ano I, n° 4, 2004.