quarta-feira, 15 de agosto de 2018

VIVENDO SÓ - A Solidão no século XXI



O futuro chegou! 
Na verdade essa realidade de pessoas morando sozinhas chegou a muito tempo na Europa, lá isto já é uma realidade há mais de 25 anos. Isso começou por lá no final da década de 80 do século 20.
No Brasil esta realidade começou a se formar a partir do início do século 21 e hoje (IBGE - censo de 2010) os lares de pessoas sozinhas já correspondem a 12% da população.
E não me refiro aqui a jovens que saíram de seus lares e foram morar sozinhos para estudar, mas sim a pessoas de idade com mais de 40 anos, formados, com emprego (ou, pelo menos, trabalho) e que vivem sozinhas. 
Eu sou uma dessas pessoas. Tenho mais de 45 e vivo só há pelos menos 10 anos (com um breve interregno de 10 meses). E essa é uma realidade muito comum na Europa. Quando fui visitar um casal de amigos em Portugal, eles moravam num prédio onde havia um senhor com mais de 50 anos de idade e que vivia sozinho; nas ruas de Lisboa é muito comum encontrar mulheres idosas andando com seus cachorros nas ruas ou nas praças; também é muito comum ler nas folhas de jornais lusitanos o relato de algum idoso que foi encontrado morto sozinho em seu apartamento, isto após vários dias do óbito.
Nas grandes cidades do mundo, seja São Paulo ou Londres, Rio de Janeiro ou Lisboa, uma cena muito comum é a de um idoso passeando com seu cão. Lá está o idoso tendo como única fonte de afeto e carinho um animal irracional, tendo como único companheiro para aplacar a sua solidão um cachorro. Desde 2015 no Brasil, os “pets” (animais pequenos de estimação) ultrapassaram o número de crianças num lar, ou seja, uma família tem mais cachorros ou gatos do que filhos. 
Na Suécia o percentual de pessoas morando ou vivendo sozinhas é um dos mais altos do mundo, cerca de 45% da população vive sozinha. Na maioria dos países escandinavos este percentual é bem alto. Os estudiosos apontam como fatores favoráveis a este estilo de vida, a facilidade em alugar apartamentos pequenos, a renda que permite a subsistência individual, a cultura individualista dos países ocidentais ricos.
O sistema capitalista surgiu valorizando as realizações individuais. Alguns manifestos pré-revolução francesa destacavam o direito do indivíduo. É no sistema capitalista que surge a exaltação de grandes personalidades que contribuíram com suas invenções, seu empreendedorismo. Sem a individualidade não há o empreendedorismo que permite a criação de novos produtos e a formação de novos mercados. É importante para o sistema capitalista que haja o individualismo, pois este estimula a competitividade, que estimula o lucro fim principal do capitalismo. 

Os discursos atuais estão carregados de individualismo:
- “Você deve correr atrás de seus sonhos”;
- “Você só deve prestar contas a si mesmo”;
- “Você é a pessoa mais importante que há para você mesmo”.

Há até uma quadrinha musical que reflete bem o espírito individualista atual:
“Ado, ado, ado, cada um no seu quadrado
Ema, ema, ema, cada um com os seus problemas”.


Contudo estes aparente “avanços”, criaram novos problemas como a solidão; a falta de empatia uns para com os outros; a falta de solidariedade; o aborto; os casais sem filhos; a depressão; o suicídio; os idosos morrendo sozinhos.
Não há convivência em grupo que não exija sacrifícios da individualidade. É necessário dizer não para si mesmo para se viver em um grupo, uma família. E isso fere o espírito da época atual que é baseado no individualismo.
Essa é a realidade do século XXI no ocidente; no oriente, em grande parte da Ásia e a África como um todo ainda prevalecem os laços familiares e as relações sociais de solidariedade. Assim a Igreja, o corpo de Cristo, é chamada a agir diante dessa nova realidade que surge e se tornar de fato “família de Deus” num sentido prático diante dessas pessoas que vivem só.



(Texto publicado aos 15 dias do mês de agosto do ano 2018 de Nosso Senhor Jesus Cristo).