quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

AS INDULGÊNCIAS


 De acordo com o  Catecismo da Igreja Católica Apostólica Romana, a indulgência é:

"(...) a remissão, diante de Deus, da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão) que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos santos."
"A indulgência é parcial ou plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados. Todos os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos defuntos”.

O auge dessa prática se deu durante o pontificado de João de Mediei, o Leão X (1513-1521), que lançou uma aberta política de venda de indulgências. Verdadeiros mascates percorreram a Europa vendendo "cartas de indulgência", quase bônus-Paraíso, que podiam ser comprados sem maiores formalidades, mas desconcertando muitos crentes genuínos.
Existe um documento chamado Taxa Camarae que foi e ainda é popular na Itália após a sua publicação no final do livro do espanhol anti-clerical Pepe Rodriguez, intitulado Mentiras fundamentales de la Iglesia Católica (título em português: verdades e mentiras da Igreja Católica).  A Taxa Camarae seria uma lista das indulgências previstas para os vários pecados, com um tarifário a elas referentes. Muitos críticos históricos a tem como uma falsificação, já que Pepe Rodriguez não cita as fontes documentais da lista. Mas vale a pena conhecê-la quer se trate de uma falsificação ou não, pois de fato existiram tabelas de preços pelo perdão. 
O texto  a seguir é uma reprodução em português:

                                            Taxa Camarae

1. O eclesiástico que incorrer em pecado carnal, seja com freiras, primas, sobrinhas, afilhadas ou, enfim, com outra mulher qualquer, será absolvido mediante o pagamento de 67 libras e 12 soldos.
2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, pedir para ser absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deverá pagar 219 libras e 15 soldos. Mas se tiver cometido pecado contra a natureza com crianças ou animais, e não com uma mulher, pagará apenas 131 libras e 15 soldos.
3. O sacerdote que deflorar uma virgem pagará 2 libras e 8 soldos.
4. A religiosa que quiser ser abadessa após ter se entregado a um ou mais homens simultânea ou sucessivamente, dentro ou fora do convento, pagará 131 libras e 15 soldos.
5. Os sacerdotes que quiserem viver em concubinato com seus parentes pagarão 76 libras e 1 soldo.
6. Para cada pecado de luxúria cometido por um leigo, a absolvição custará 27 libras e 1 soldo.
7. A mulher adúltera que pedir a absolvição para se ver livre de qualquer processo e ser dispensada para continuar com a relação ilícita pagará ao papa 87 libras e 3 soldos. Em um caso análogo, o marido pagará o mesmo montante; se tiverem cometido incesto com o próprio filho, acrescentar-se-ão 6 libras pela consciência.
8. A absolvição e a certeza de não ser perseguido por crime de roubo, furto ou incêndio custarão ao culpado 131 libras e 7 soldos.
9. A absolvição de homicídio simples cometido contra a pessoa de um leigo custará 15 libras, 4 soldos e 3 denários.
10. Se o assassino tiver matado dois ou mais homens em um único dia, pagará como se tivesse assassinado um só.
11. O marido que infligir maus-tratos à mulher pagará às caixas da chancelaria 3 libras e 4 soldos; se a mulher for morta, pagará 17 libras e 15 soldos; e se a tiver matado para se casar com outra, pagará mais 32 libras e 9 soldos.
Quem tiver ajudado o marido a perpetrar o crime será absolvido mediante o pagamento de 2 libras por cabeça.
12. Quem afogar o próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos (ou seja, 2 libras a mais que aquele que matar um desconhecido), e se pai e mãe o tiverem matado de comum acordo, pagarão 27 libras e 1 soldo pela absolvição.
13. A mulher que destruir o filho que carrega no ventre e o pai que contribuir para a realização do crime pagarão 17 libras e 15 soldos cada. Aquele que facilitar o aborto de uma criatura que não for seu filho pagará 1 libra a menos.
14. Pelo assassinato de um irmão, uma irmã, mãe ou pai, pagar-se-ão 17 libras e 5 soldos.
15. Aquele que matar um bispo ou prelado de hierarquia superior pagará 131 libras, 14 soldos e 6 denários.
16. Se o assassino tiver matado mais sacerdotes em várias ocasiões pagará 137 libras e 6 soldos pelo primeiro homicídio e a metade pelos seguintes.
17. O bispo ou abade que cometer homicídio por emboscada, acidente ou estado de necessidade pagará, para conseguir a absolvição, 179 libras e 14 soldos.
18. Aquele que quiser comprar antecipadamente a absolvição por qualquer homicídio acidental que possa vir a cometer no futuro pagará 168 libras e 15 soldos.
19. O herege que se converter pagará, pela absolvição, 269 libras. O filho do herege que tiver sido queimado, enforcado ou executado de qualquer outra forma poderá ser readmitido apenas mediante o pagamento de 218 libras, 16 soldos e 9 denários.
20. O eclesiástico que, não podendo pagar os próprios débitos, quiser se livrar de ser processado pelos credores entregará ao pontífice 17 libras, 8 soldos e 6 denários, e a dívida lhe será perdoada.
21. Será concedida a licença para a instalação de postos de venda de vários gêneros sob os pórticos das igrejas mediante o pagamento de 45 libras, 19 soldos e 3 denários.
22. O delito de contrabando e fraude aos direitos do príncipe custará 87 libras e 3 denários.
23. A cidade que quiser que seus habitantes ou sacerdotes, freis ou monjas obtenham licença para comer carne e laticínio em épocas em que é proibido pagará 781 libras e 10 soldos.
24. O mosteiro que quiser variar a regra e viver com menos abstinência do que a prescrita pagará 146 libras e 5 soldos.
25. O frade que, por conveniência própria ou gosto, quiser passar a vida em um ermitério com uma mulher dará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.
26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem obstáculos pagará igual quantia pela absolvição.
27. Igual montante pagarão os religiosos, sejam eles seculares ou regulares, que queiram viajar em trajes de leigo.
28. O filho bastardo de um sacerdote que queira preferência para suceder o pai na cúria pagará 27 libras e 1 soldo.
29. O bastardo que queira receber ordens sagradas e gozar de seus benefícios pagará 15 libras, 18 soldos e 6 denários.
30. O filho de pais desconhecidos que queira entrar para as ordens pagará ao tesouro pontifício 27 libras e 1 soldo.
31. Os leigos feios ou deformados que queiram receber ordenamentos sagrados e ter benefícios pagarão à chancelaria apostólica 58 libras e 2 soldos.
32. Igual quantia pagará o vesgo do olho direito, enquanto o vesgo do olho esquerdo pagará ao papa 10 libras e 7 soldos. Os estrábicos bilaterais pagarão 45 libras e 3 soldos.
33. Os eunucos que queiram entrar para as ordens pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.
34. Aquele que, por simonia, queira comprar um ou muitos benefícios se dirigirá aos tesoureiros do papa, que lhe venderão os direitos a preços módicos.
35. Aquele que, tendo descumprido um juramento, queira evitar qualquer perseguição e se livrar de qualquer tipo de infâmia pagará ao papa 131 libras e 15 soldos. Além disso, dará 3 libras para cada um que ouviu o juramento.

sábado, 27 de outubro de 2012

31 de Outubro - Dia da Reforma Protestante














Estátua de Martinho Lutero erigida na cidade de Dresden, Alemanha.


No dia 31 de Outubro de 1517, Martinho Lutero fixou as suas 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, Alemanha. Tinha início o grande movimento chamado de A Reforma Protestante. Lutero protestava contra a venda de indulgências pela Igreja Católica Apostólica Romana. Era a venda de perdão que trazia muito ouro aos cofres da igreja. Usavam inclusive uma frase que dizia mais ou menos o seguinte: “Quando as suas moedas tilintarem nos cofres da igreja, a sua alma terá saído do purgatório para o céu”. Esse dinheiro era usado para a construção da Basílica de São Pedro em Roma.
As 95 Teses de Lutero questionavam diversas doutrinas católicas e colocavam em cheque todo o poderio do catolicismo. Os princípios fundamentais da Reforma são conhecidos como os “Cinco Solas”:
1- Só as Escrituras;
2- Só Cristo;
3- Só a Graça;
4- Só a Fé;
5- Só a Deus toda glória!
Um ponto alto da Reforma Protestante foi a defesa do “Sacerdócio de Todos os Crentes”.
É bom relembrar essa data, principalmente na atualidade quando muitas igrejas ditas “evangélicas” fazem novenas, passam sal grosso, barganham a prosperidade, falam mais das coisas materiais do que do Reino de Deus.

FAMÍLIA PÓS-MODERNA OU A FAMÍLIA DO SÉCULO XXI


Eraldo Luis P. Gasparini

O historiador Francês Georges Duby é o organizador de uma obra muito importante na historiografia: A História da Vida Privada. Esta obra é dividida em 5 volumes e trata justamente do cotidiano das pessoas na Europa, desde a época da antiguidade clássica até os dias atuais, mais precisamente o final do século XX.  É uma obra vigorosa e trata daquilo que há de mais trivial na vida das pessoas, o dia-a-dia. Mas esse olhar do cotidiano faz entender as transformações que ocorreram na forma de vida das pessoas, de igual forma no Brasil foi organizada uma obra, A História da Vida Privada no Brasil, que trata do cotidiano das pessoas no Brasil desde a época do descobrimento até o final do século XX.
No que essas obras nos ajudam? Ajudam a compreender as mudanças e transformações que ocorreram e que nos levaram a viver da maneira que vivemos nos dias de hoje. Tudo o que temos e que somos é produto do ontem, se hoje as mulheres podem ser chefes de família, se as pessoas podem ter um namoro “virtual” sem se tocarem ou se conhecerem pessoalmente, se os homens podem viver isolados em apartamentos, é porque o passado construiu esse presente, através das escolhas, adaptações, coligações, conhecimento, descobertas tecnológicas que ocorreram no passar do tempo.
E com essa breve introdução entro enfim no meu tema que é a família na atualidade, nesse começo de século XXI, a família por mim definida como pós-moderna. Uma coisa que reparamos na história é que a família no passado era um local de sobrevivência dos indvíduos que pode ser notado na declaração contida no Salmo 127:3-5: “Herança do SENHOR são os filhos; o fruto do ventre, seu galardão.  Como flechas na mão do guerreiro, assim os filhos da mocidade.  Feliz o homem que enche deles a sua aljava; não será envergonhado, quando pleitear com os inimigos à porta”.
Esse texto escrito provavelmente no 5º século a.C. mostra a importância de uma família grande, os filhos são comparados a flechas que são armas de longo alcance, o homem deve encher a sua aljava, o receptáculo levado as costas, ou seja, quanto mais filhos mais bem armado e protegido estava um homem. A família grande era o lugar de segurança e dentro disso, a unidade da família devia ser preservada, a fidelidade de seus membros era essencial. Aos homens cabia a defesa dessa unidade organizacional quer pelo trabalho, quer pelas armas, as mulheres cabia gerar os indivíduos dessa unidade, quanto mais ela tivesse melhor para a família, por isso, a maternidade era considerada sagrada, a mulher estava a incumbência de gerar, criar, desenvolver a prole. Não havia métodos anticoncepcionais, as mulheres geravam durante toda a sua vida fértil, de 10 a 12 filhos em média. E quanto mais cedo ela pudesse começar melhor para a família, os critérios para uma mulher poder casar eram os seios desenvolvidos e a menstruação, assim geralmente a partir dos 14 anos de idade as mulheres estavam casando. Dentro deste contexto a pior coisa que podia acontecer para uma mulher era ser estéril, infértil.
A vida era muito frágil, a picada de um inseto poderia com o tempo matar uma pessoa, não se sabia a causa das doenças, não se sabia com clareza as formas de contágio e uma simples infecção poderia levar a óbito, não havia antibióticos para combatê-las, o princípio da vacina não havia sido descoberto. A média de vida das pessoas ficava entre os 35 e 40 anos de idade. Assim a solidariedade entre os membros da família era essencial, todos tinham que cuidar uns dos outros.  É por isso que em I Samuel 17, Davi, o caçula da família de Jessé, vai levar pães e trigo tostado aos seus irmãos mais velhos. Este texto também mostra uma dura realidade que as famílias tinham que enfrentar: a guerra. A guerra era uma adversidade que batia as portas dos lares das maneiras mais cruéis, quando a mãe não  enviava os filhos para o combate, o combate chegava até os lares fazendo com que as mães fugissem as pressas carregando a criança de colo num braço e arrastando pela mão a criança pequena no outro. Isso quando, além do mais, ela não estava gestante. Por isso a mulher era considerada sexo frágil, dentro da união entre um homem e uma mulher, ela era a parte mais ameaçada neste contexto de dificuldades, precisando ser defendida e protegida.
Da antiguidade até a era moderna pouca coisa mudou, a mudança mais significativa vai acontecer no século XIX com as transformações econômicas da sociedade. Tem início a Revolução Industrial e as pessoas saem do campo e vão para as cidades, deixam de trabalhar a terra e vão trabalhar nas fábricas e no comércio. A vida é controlada pelo relógio agora, não mais o nascer e o pôr do sol e sem pausas para a sesta. As famílias vivem confinadas nas casas. Dentro desse sistema ainda é essencial que a família seja grande, para que a mesma possa oferecer mais mão de obra àqueles que controlam as riquezas, os donos das fábricas, os comerciantes, os grandes proprietários.  Agora as famílias estão em um novo ambiente, o urbano, por isso, essas famílias são modernas. A modernidade exige que as famílias eduquem os filhos, porque agora é necessário o domínio de novas técnicas, a matemática, a gramática, a lógica. Quem mais e melhor educa os seus filhos, melhor possibilidade cria para a sua ascensão. Assim temos a família moderna.
Durante o século XX, a ciência aflora enormemente, temos a invenção do avião, do rádio, da televisão, da bomba atômica. A medicina descobre o princípio da vacina, a descoberta da penicilina e dos antibióticos, o que torna a saúde das pessoas melhor. Os alimentos desidratados, as comidas instantâneas tornam a alimentação mais fácil e prática. A água potável e encanada, a eletricidade gerando luz e fornecendo energia para um enorme número de aparelhos. A comodidade acessível a todos, claro que não de graça. Porém a grande inovação que mudará a vida das famílias são os métodos contraceptivos, para antes do ato sexual a pílula anticoncepcional, durante o ato sexual o preservativo ou camisinha, após o ato sexual a pílula do dia-seguinte e se por algum deslize ou descuido acontecer à gravidez, o aborto. Agora o casal, mais especificamente a mulher, tem o poder de controlar a gravidez. Os seres humanos ao final do século XX têm um controle até antes inimaginável sobre o ambiente em que vive.
E surge então o que defino de família pós-moderna. Essa família não é mais como antigamente formada pelo pai, pela mãe e pelos filhos do casal. O casamento antes indissolúvel se transforma com a possibilidade da separação, primeiro através do desquite e depois através do divórcio. Nada mais é sólido, tudo é fluído e fluidificável. Essa família pode ser mono parental formada somente por um dos pais e os filhos; pode ser a família mosaica formada pelo homem, a mulher, os filhos da união anterior e os filhos da nova união; o casal sem filhos; o casal de união homoafetiva; os solteiros sozinhos, o single person no termo inglês ou lares unipessoais.
As pessoas dentro dessa nova realidade não precisam mais uma das outras, a sobrevivência que provocava a necessidade da solidariedade não mais existe. Se uma pessoa não sabe cozinhar há os fast foods, a comida congelada, os marmitex; há as maquinas de lavar ou as lavanderias para as roupas sujas; há as diaristas para limparem a casa uma ou duas vezes por semana; a companhia vem nos sites de relacionamentos, nos chats. O individualismo é a marca dessa nova realidade. A liberdade sacrifica o companheirismo. Nesses tempos pós-modernos as pessoas não pensam duas vezes em se separar quando se sentem incomodadas, desconfortáveis, infelizes com o relacionamento. Provavelmente não há frase mais egoísta do que “Eu tenho o direito de ser feliz” e não há justificativa religiosa mais deturpada do que “Deus não me fez pra sofrer, Deus me fez pra vencer e ser feliz”. A própria fé se curva aos novos tempos.
Esta é a principal característica da família pós-moderna ela se centra no individuo e não no grupo, as associações visam o prazer e a felicidade das partes e não do todo, se esse objetivo não é alcançado à associação se desfaz.  A frase síntese da pós-modernidade “tudo o que é solido se desvanece no ar” também se aplica a família.

SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS:
ARIES, Philipe; DUBY, Georges (orgs.). HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA. 5 Volumes. Companhia das Letras, São Paulo, 1990.
 SEVCENKO, Nicolau (org.). HISTÓRIA DA VIDA PRIVADA NO BRASIL. 4 Volumes. Companhia das Letras, São Paulo, 1998.

domingo, 11 de março de 2012

John Knox: A fé transformando a História.












John Knox, fundador da Igreja Presbiteriana e líder da Reforma Protestante na Escócia no século XVI.





Calvino, um dos pais da Reforma Protestante, dizia que o cristão é salvo para fazer boas obras e que a verdadeira fé é demonstrada através de ações que transformem a sociedade e manifestem o Reino de Deus.
Foi pensando assim que John Knox, inspirado nas idéias de calvino, resolveu transformar a sociedade de seu tempo. O seu país, a Escócia, passava por um período conturbado no século XVI, conflitos religiosos de um lado e disputas políticas entre a Inglaterra e a França colocavam-na no meio de um indesejável conflito.
A falta de um rei capaz na Escócia determinaram que muitas regiões fossem controladas pelas chefias de clãs fortes. Numa situação, vista por alguns estudiosos como anárquica e negativa, a moral e a religião se deterioraram. O concubinato, a embriaguez, a ganância por dinheiro e o desprezo pelo povo caracterizavam os líderes da Igreja Católica Romana na Escócia. O povo escocês queria mudanças.
John Knox formou-se pela Universidade de Glasgow e foi ordenado ministro no ano de 1530, tendo ido trabalhar com os soldados do Castelo de Saint Andrews, foi capturado pelos franceses. Passou 19 meses como escravo nas galés francesas (espécie de navio) até ser libertado em uma troca de prisioneiros.
Durante certo tempo, ele ficou exilado na cidade de Genebra, Suíça. Nesse período de exílio foi que John Knox desenvolveu em teologia de resistência a tirania. Começou contrabandeando panfletos para a Inglaterra. O mais significativo destes foi "Admoestação à Inglaterra", publicado em julho de 1554. Com essa mudança ele entrou em um território novo, indo além do que qualquer reformador fizera antes. John Knox chocara o mundo com sua "Admoestação à Inglaterra", mas também fora convincente.
Em 1555, após vários anos fora da Escócia, ele retornou e se aliou a cristãos de origem nobre (barões, duques e condes) e começou a pregar e escrever poderosamente. Dessa maneira, com seus aliados, ele implantou a Igreja Presbiteriana e a Reforma Protestante na Escócia e transformando a, em poucos anos, num país de maioria protestante.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A FÉ PROTESTANTE NO BRASIL NO PERÍODO REPUBLICANO

ERALDO LUIS PAGANI GASPARINI

A proclamação da República em 1889 trouxe transformações no campo religioso do Brasil. Em 1891 foi promulgada uma nova constituição que estabelecia a divisão entre a Igreja (Católica) e o Estado, bem como assegurava direitos iguais para todas as religiões. Os cemitérios foram entregues para as prefeituras; o casamento civil foi instituído; o ensino religioso foi abolido das escolas públicas. A constituição elaborada foi fortemente influenciada pela filosofia positivista e o liberalismo.

Fonte: Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro.
Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro no final do século XIX.


Como tudo no Brasil, embora tendo os direitos assegurados no papel, na prática a realidade para os protestantes era outra; os mesmos sofriam discriminações e eram perseguidos.
Nas atas de muitas igrejas protestantes, bem como em memórias escritas por pastores da época estão narradas a oposição oferecida pela Igreja Católica com tumulto a cultos, queima de bíblias em praça pública, ameaça e agressão física aos seguidores da fé protestante. Em alguns Estados da União, como o Mato Grosso, foram formadas “ligas anti-protestantes”.
Em 1910, um novo movimento protestante desembarca no Brasil, o “Pentecostalismo”. Este se inicia em Igrejas Metodistas de negros nos Estados Unidos ligadas ao movimento holiness (santidade), no início do século XX e chega aos grandes centros urbanos norteamericanos, com especial destaque para as cidades de Los Angeles, onde em 1906 eclode o “Avivamento da rua Azuza” e Chicago. O Pastor William Seymour, negro e filho de ex-escravos, foi quem iniciou o movimento pentecostal em Los Angeles. A característica do movimento era a ênfase, e ainda hoje é, na pessoa do Espírito Santo e pela experiência de “orar em línguas”. No Brasil o movimento pentecostal foi trazido por Louis Francescon, missionário de origem italiana, que iniciando um trabalho evangelístico com imigrantes italianos em São Paulo fundou a
Congregação Cristã em 1910; Daniel Berg e Gunnar Vingren, missionários de origem sueca, que iniciando o trabalho em Belém (PA) fundaram a Assembléia de Deus em 1911. Estes tiveram contato com o movimento pentecostal em Chicago, durante o período que estiveram nos Estados Unidos. Os Protestantes Pentecostais não foram bem recebidos pelos Protestantes Históricos, devido as suas doutrinas e a forma de culto espontânea, emotiva e barulhenta, todavia eles tiveram grande aceitação entre as classes mais pobres da população brasileira. Em grande parte estas igrejas pentecostais foram organizadas a partir de cisões provocadas dentro de igrejas protestantes históricas.
A vitória da Revolução de 1930 pôs Getúlio Vargas no controle da nação e fez surgir uma oportunidade de reaproximação entre a Igreja Católica Romana e o Estado Brasileiro.
Embora Getúlio não fosse um católico praticante, ele notou que essa reaproximação seria vantajosa.  Assim o ensino religioso é admitido nas escolas públicas; o casamento religioso passa a ter validade civil; a assistência religiosa é consentida para as organizações militares. Pela constituição continua existindo a separação de igreja e estado, todavia a Igreja Católica Romana se tornou uma espécie de igreja “oficiosa”. Isto gerou temeridade no meio protestante e, ainda que em expansão, fez com que o mesmo se tornasse voltado para dentro de si mesmo. De acordo com Robison Cavalcanti, quando Getúlio Vargas caiu do poder em 1945 e houve a redemocratização, setores protestantes saudaram com esperança estas transformações.
Organizou-se, em 1948, no Rio de Janeiro a Sociedade Bíblica do Brasil, cujo objetivo é promover e intensificar, sem escopo lucrativo, a difusão das Escrituras Sagradas como meio de elevação moral, social e espiritual do povo brasileiro.
A partir da década de 50 começou a chegar no Brasil organizações interdenominacionais evangélicas como a MPC (Mocidade Para Cristo), a Cruzada Estudantil e Profissional para Cristo e a IFES (Intervasity Felowship of Evangelical Students) que organizou a ABU (Aliança Bíblica Universitária). Estas instituições caracterizam-se pelo trabalho cooperativo entre as diversas denominações protestantes com o objetivo de propagar o evangelho de Jesus Cristo. Harold Williams juntamente com Raymond Boatright organizam no ano de 1951, em São João da Boa Vista (SP) a primeira Igreja do Evangelho Quadrangular do Brasil, também pentecostal. Em 1955, o pernambucano Manoel de Mello, de 26 anos, organiza em São Paulo a
primeira igreja pentecostal brasileira, com o nome de Igreja Evangélica Pentecostal O Brasil para Cristo. Um evento importante que marcou o final da década foi a realização no Brasil do X Congresso da Aliança Batista Mundial, realizado no Rio de Janeiro entre os dias 26 de junho a 3 de julho de 1960 e conseguiu reunir, aproximadamente, cerca de 200 mil pessoas no estádio do Maracanã no culto de encerramento que teve a participação do evangelista norte-americano Billy Graham. Este evento atraiu a atenção da impressa brasileira e demonstrou o fortalecimento dos protestantes na sociedade brasileira.
Na década de 60 do século XX eclodiu uma nova onda de pentecostalismo que atingiu as igrejas protestantes históricas e fez surgir novas denominações como a Igreja Batista Nacional, a Presbiteriana Renovada e a Metodista Wesleyana, entre outras. O Golpe de 64, que instaurou a  ditadura militar no Brasil, não recebeu resistência por parte dos protestantes. Os protestantes, também vulgarmente chamados “crentes”, de classe média tinham no momento como seu maior embate, a luta contra a discriminação para se afirmarem socialmente.
Durante as décadas de 70 e 80 do século XX os protestantes crescem a taxas altas e constantes. Fatos interessantes que aconteceram no meio evangélico nessas décadas foram os congressos Geração 79 e o Congresso Brasileiro de Evangelização ocorrido em 1983, realizado por diversas igrejas protestantes históricas e pentecostais, que serviram de diálogo para a fundação da AEVB (Associação Evangélica Brasileira) em setembro de 1991. Também neste período surge uma nova vertente no meio protestante, os “neopentecostais”. As igrejas dessa vertente têm sua origem no pentecostalismo e incorporam conceitos e práticas típicas desse movimento como curas, exorcismos e cultos emotivos, contudo seus usos e costumes são mais liberais. O carro motor delas é a Teologia da Prosperidade que diz que o sucesso e a felicidade devem ser alcançados nesta vida por meio da fé. Esta se confirma pelas doações nos dízimos e ofertas alçadas à igreja. A principal igreja neopentecostal fundada nessa época foi a Igreja Universal do Reino de Deus pelo Bispo Edir Macedo no ano de 1977, seguida pela Igreja Internacional da Graça fundada em 1980 por Romildo R. Soares, cunhado de Edir Macedo. Uma dissidência formada por jovens de igrejas protestantes históricas e que participavam da MPC de Goiânia, fundou a Comunidade Evangélica de Goiânia, que posteriormente, após sua expansão pelo território nacional, se tornou a Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. Em 1986, na cidade de São Paulo, foi fundada a Igreja Renascer em Cristo pelo pastor Estevan Hernandes (atualmente “apóstolo”) e sua esposa Sônia, com grande ênfase no trabalho com jovens e música.
Atualmente as principais bandas de rock gospel, como Oficina G3 e Resgate fazem parte dessa igreja.
O número de protestantes, comumente designados evangélicos, tem crescido muito no Brasil, principalmente os da vertente neopentecostal. O gráfico abaixo descreve o crescimento vertiginoso ocorrido na ultima década do século XX em termos percentuais.


A Igreja Universal do Reino de Deus é a igreja neopentecostal que mais cresce e contava com cerca de 2,1 milhões de membros segundo o Censo de 2000. Além disso, ela é proprietária da Rede Record de  televisão, da Cremo empreendimentos, do jornal Folha Universal, de uma fábrica de móveis, possui uma gravadora a Line Records, e ainda detém o controle acionário do Banco de Crédito Metropolitano. Chego a me perguntar se é uma igreja ou um holding.
Este crescimento vertiginoso tem preocupado alguns setores da sociedade brasileira, em especial a Igreja Católica Apostólica Romana que tem mudado de estratégia para manter os seus fiéis, com especial destaque para a Renovação Carismática Católica. Esta, de uma certa maneira, aproxima-se em suas práticas e ações aos pentecostais e neopentecostais. Esta preocupação se acentuou quando em 1995, em pleno 12 de outubro, o pastor Sérgio von Helder, da Igreja Universal do Reino de Deus, agride a socos e pontapés uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, considerada a padroeira do Brasil pelos católicos, em programa da TV Record.
Também tem despertado interesse junto aos estudiosos e são temas de mestrado e doutorado pelo Brasil afora. Alguns consideram este fenômeno como a maior revolução do cristianismo desde os tempos de Martinho Lutero.
De acordo com o último censo estatístico realizado peloo IBGE, os protestantes ou evangélicos são, atualmente (2010), cerca de 1/5 da população brasileira.