quarta-feira, 19 de junho de 2024

OS CINCO SOLAS DA REFORMA PROTESTANTE

 




A Reforma Protestante teve início em 1517 pelo monge alemão Martinho Lutero após fixar as 95 teses contra as indulgências na porta da Igreja de Wittenberg. A principal questão levantada era sobre o perdão dos pecados mediante um pagamento monetário (indulgências). Após Lutero, levantaram-se muitos outros reformadores como Martin Buccer, Ulrich Zwinglo, João Calvino e John Knox.
A partir deles construiu-se o pensamento protestante baseado na salvação pela graça, justificação pela fé, Jesus Cristo como único mediador entre Deus e os homens, a Bíblia como autoridade suprema da fé e prática cristã e o culto e a adoração somente a Deus. Esses pensamentos reunidos formaram o que os teólogos mais tarde definiram como os Cinco Solas da Reforma Protestante:
- Sola gratia; Sola fide; Solo Christus: Sola Scriptura; Soli Deo gloria.
A primeira menção de uma "sola" aparece em 1554 quando Felipe Melanchthon escreveu: "sola gratia justificamus et sola fide justificamur" ("só pela graça justificamos e só pela fé somos justificados").  Entretanto, não estava defendendo que fossem essas frases baluartes da reforma, mas sim sobre a dependência em Deus para a salvação humana.
Embora os reformadores do século XVI tenham escrito sobre todos os cinco solas em vários escritos de época, eles não são todos mencionados juntos em um só lugar e somente foram sistematicamente reunidos no século XX.
Os Cinco Solas da Reforma Protestante exprimem o seguinte:

Sola Fide (somente a fé): este princípio afirma que o homem é justificado única e exclusivamente pela fé, sem o acréscimo das obras do mérito humano e, por meio dele, a tradição reformada é sustentada (Atos 13:39; Romanos 5:1; Gálatas 2:16).

Sola Scriptura (somente a Escritura): A Escritura é a única regra de fé e prática da igreja e o protestantismo aceita doutrinas de sua inspiração, autoridade, inerrância, clareza, necessidade e suficiência. Somente as Escrituras são o fundamento da teologia reformada. Os reformadores defenderam que todo crente em Cristo tem o direito e o dever de examinar as Escrituras, não a livre interpretação, mas o livre exame das Escrituras (II Pedro 1:20-21; II Timóteo 3:16-17).

Solus Christus (somente Cristo): como forma de reação dos protestantes contra a Igreja Católica Romana secularizada e contra os sacerdotes que afirmavam ter uma posição especial e serem mediadores da graça e do perdão por meio dos sacramentos que ministravam. A reforma defendeu que tal mediação entre o homem e Deus é feita somente por Cristo, único capaz de salvar a humanidade e o tema central da reforma protestante  (João 14:6;  I Timóteo 2:5; Atos 4:11-12).

Sola Gratia (somente a Graça): Além de a graça ser um dos atributos de Deus é, também, o próprio Cristo (em sua encarnação) e é o Espírito Santo quem aplica a graça ao coração do pecador.  A graça comum é comunicada a todos os homens, indistintamente. Mas, graça especial é soteriológica (salvadora) e por meio dela que o homem é salvo, quando há a comunicação da salvação de Deus ao pecador. "Sola gratia" diz respeito a tudo que o homem possui (graça comum) e, em especial, à salvação que é dada pela graça somente. Graça especial somente, por meio da qual o homem é regenerado, justificado, santificado, glorificado, recebe dons espirituais, talentos para o serviço cristão e as bênçãos de Deus (Romanos 3:23-24; Romanos 5:15; Efésios 1:5-7; 2:8-9).

Soli Deo Gloria (somente a Deus a glória): este pilar da teologia reformada afirma que o homem foi criado para a glória de Deus e que tudo que ele fizer deve ser destinado a glorificar a Deus. Esta sola enfatiza que toda a glória deve ser dada somente a Deus, e não a qualquer ser humano, objeto, imagem, instituição ou intermediário religioso (Êxodo 20:3-5; Isaias 42:8; Romanos 11:36; I Coríntios 10:31).

Os Cinco Solas da Reforma Protestante expressam a essência da fé protestante e evangélica, essência essa que precisa ser relembrada nos dias de hoje, pois quem esquece o passado corre o risco de cometer os mesmos erros no presente.

 


quarta-feira, 15 de fevereiro de 2023

O CRISTÃO E A POLÍTICA NO BRASIL

 Eraldo Luis P. Gasparini


Quando jovem ouvi uma palestra do Pastor Robinson Cavalcanti da Igreja Episcopal sobre Cristianismo e política, posteriormente li o seu livro: Cristianismo e Política: teoria bíblica e prática histórica.
Em parte, influenciado pela sua leitura e pelo contexto vivido na época, adentrei na política e fiquei filiado a um partido político de 1999 a 2005, sendo que nesse período fiquei 4 anos na diretoria municipal do mesmo. Então tive grande experiência política, tive reuniões com o então governador do Estado de Mato Grosso do Sul, conheci deputados estaduais, federais e senadores. Ou seja, me envolvi grandemente com a política.
Num determinado momento vi e presenciei a corrupção que era divulgada nos jornais e noticiários do Brasil, bem como percebi a minha total incapacidade e impossibilidade de combate-la, pois, todo o sistema político estava corrompido de alto a baixo. Não havia a quem recorrer ou denunciar, pois até os meios de comunicação estavam mancomunados com o sistema político.
Então comecei a me questionar: - O que estou fazendo aqui???
E enojado com tudo que vi, resolvi sair da política, me tornar apartidário e a votar em nulo nas eleições.
Percebi que para aqueles que entram na política no Brasil só restam três atitudes:
- Se posicionar contra a corrupção estrutural e ser anulado pelo meio político, tornando-se inócuo;
- Não se corromper, mas ser conivente e “fazer vistas grossas” para a corrupção;
- Se aliar a corrupção e tornar-se mais um dos corruptos.

Percebi que a corrupção política no Brasil é sistêmica e estrutural, não distingue partidos, não distingue alas ideológicas, esquerda, direita ou centro. Ela está desde a Câmara de Vereadores até o Senado Federal; desde a Prefeitura Municipal até o Palácio do Planalto. E ela começou lá atrás em 1808 com a vinda da família real portuguesa. Com o passar do tempo ela foi se adaptando aos regimes políticos e aos tempos.
Aqueles que acreditam que há políticos honestos no Brasil ou são ingênuos, ou são tolos, ou dissimulados.
Vejo algumas pessoas falando que o problema é à esquerda e sua política progressista de Estado, mas o problema não é de ordem econômica, não importa o regime econômico adotado, pois a grande e real questão é a corrupção. Este é o real fator que emperra o crescimento do Brasil. Enquanto isto não for tratado de forma séria, não adiantará nada. O Brasil tem uma cultura de corrupção, de exaltação a aquele que burla as regras, de louvor a malandragem, de dar um “jeitinho”, de levar vantagem em tudo. E isto está entranhado no povo brasileiro, não só na classe política. Enquanto houver o “gato” para a luz, pra água, pra TV a cabo; enquanto houver posto que adulterada gasolina; enquanto houver farmácia que compra remédio roubado; condutor que compra CNH; empreiteira que entrega prédio mal feito; bombeiro que vende laudo para boate irregular; universitário que paga para fazerem seu TCC; o Brasil não vai mudar!!
No dia que o povo brasileiro e os seus governantes tomarem vergonha na cara e praticarem uma ética séria nas suas relações econômicas, será esse o dia que o Brasil começara a mudar.
E o cristão e a política, como fica então?
Bem! Vou dar a minha resposta particular: a ala evangélica no congresso é a ala mais corrupta e fisiológica do congresso (vide como exemplo o ex-deputado Eduardo Cunha). Penso eu que o cristão não deve se envolver com a política partidária no Brasil. Ele pode fazer política de outras maneiras, com a sua associação de moradores, seu sindicato, participando de uma ONG, fazendo parte dos projetos sociais de sua igreja. Porque isso também é política.
Na minha opinião, aqueles que decidem por esse caminho se metem em muitas artimanhas, fazer política partidária no Brasil é o mesmo que vender a alma para o diabo.


quarta-feira, 16 de novembro de 2022

Separação entre Igreja e Estado e a política brasileira

 

Durante a Reforma Protestante, os reformadores lutaram pela separação entre Igreja e Estado, entre política e religião. Calvino, por exemplo, ensinou que, embora ambos os regimes fossem de origem divina, se deveria preservar a distinção entre eles. A Igreja não deveria se misturar ao Estado. A Igreja não poderia se intrometer nos assuntos do Estado, nem este se intrometer nos assuntos daquela.

Me vejo decepcionado com o meio cristão evangélico nestas últimas eleições presidenciais (2022) onde pastores falaram de púlpito que quem vota em Lula é do diabo. Os pastores sendo candidatos a cargo públicos já é coisa de praxe, porém nesta última eleição as coisas extrapolaram o limite do bom senso, inflamaram uma espécie de “guerra santa” a todos que não votassem em Bolsonaro.

Isto é terrível, pois contrasta com o espírito da Reforma Protestante que buscou aquele mesmo sentimento contido nos evangelhos “daí a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22:21).

Historicamente falando toda vez que a Igreja de Cristo se envolveu em política dois fatos aconteceram, primeiro ela caiu em descrédito, segundo ela apostatou da fé. Os Monges se retirando para os desertos e montanhas foi uma reação a Igreja que havia se aliado ao Império Romano. Os Menonitas com suas comunidades rurais apartadas foi uma tentativa de manter puro o evangelho. É lógico que muitas ações podem ser contestadas, mas o espírito é o de que a religião não deve se meter na política.

O que estou querendo dizer não é que o cristão não pode participar da política. O cristão como cidadão deve participar da política, mas o que não deve ser feito é usar o púlpito como palanque eleitoral para promover este ou aquele candidato. Se o cristão evangélico quiser fazer política partidária, o deve fazer fora das cercanias da Igreja.

Culto não é comício, púlpito não é palanque, pregação não é discurso político.

Porém um espírito mundano se apoderou dos rincões evangélicos, um sentimento faccioso e intolerante se fez surgir no meio cristão evangélico.

E eu vejo isso com muita lástima e tristeza, percebendo também que não posso fazer nada, pois os ânimos estão inflamados e as pessoas tomadas pela emoção. A única coisa que posso fazer é escrever estas palavras e orar a Deus para que Ele tenha misericórdia de nós.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

SEMELHANÇAS ENTRE A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL E DO REINO DE PORTUGAL

Eraldo Luis Pagani Gasparini 

Neste ano de 2022, o Brasil faz 200 anos de proclamação da independência. E como tal deveria de ser há várias comemorações sendo realizadas. Tive a oportunidade de conhecer Portugal em 2011, visitei o Castelo de São Jorge, o Castelo dos Mouros, fui a Belém no Monumento aos Descobrimentos e pude conhecer a história de Portugal de perto, bem como ganhei de um “gajo” português dois grandes livros sobre a história de Portugal. Fiquei conhecendo a história de Dom Afonso Henriques, fundador do Reino de Portugal e pude notar as grandes semelhanças entre a independência do Brasil e do Reino de Portugal. 
No caso de Portugal, começa com o Condado de Portucale recebido em 1096 pela mão de Henrique de Borgonha como oferta do rei Afonso VI de Leão pelo auxílio na Reconquista de terras aos mouros. O Condado de Portucale pertencia ao Reino de Leão (que junto com o Reino de Castela viria a formar a Espanha). Dom Henrique morre e D. Teresa assume o condado em 1112, contudo o Condado está repleto de conflitos internos e então em 1125, o “infante” (pois ele só tinha 16 anos) Afonso Henriques é consagrado cavaleiro com o apoio da nobreza portuguesa. Dom Afonso Henriques trava uma batalha com os exércitos de sua mãe e os derrota na Batalha de São Mamede em 1128, expulsa sua mãe de Portucale e o transforma em um reino independente e se proclama rei. Mas o rei de Leão, Afonso VII, não gosta disso. Todavia há uma batalha contra os Mouros (muçulmanos) em 1139, a Batalha de Ourique, onde Dom Afonso Henriques ganha a batalha e fica com a moral elevada e é reconhecido como rei com o Tratado de Zamorra em 1143. Ou seja, através de uma briga de família, Dom Afonso Henriques vira rei e transforma Portugal em Reino. O Rei Afonso VII e Dom Afonso Henriques eram primos, ambos netos do Rei Afonso VI. 
O que é que acontece com Brasil, porque quem proclama a independência é o filho do rei de Portugal, sucessor ao trono. Ou seja, tudo fica em família. 
Dom Pedro proclamou a independência do Brasil seguindo um conselho de seu pai Dom João VI feita em 1821: "Pedro, se o Brasil se separar, antes seja para ti, que hás de me respeitar, do que para algum aventureiro".  Ele proclama a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822, mas em 1826 abdica ao trono do Brasil para ser rei em Portugal, posição que ocupa até 1834, quando abdica a favor de sua filha D. Maria II e por fim falecer de tuberculose no mesmo ano. Mas antes disso se torna herói ao vencer a guerra civil em Portugal contra seu irmão Dom Miguel, o que faz com que receba a alcunha de “O Libertador”. 
Assim, se um dia o leitor, for a Portugal e visitar Lisboa encontrará no centro da mesma a Praça do Rossio, onde verá erguida sobre um pináculo a estátua de Dom Pedro IV, O Libertador, herói português, que é também o nosso Imperador Dom Pedro I. E se andar mais um pouco chegará no Castelo de São Jorge onde está a estátua de Dom Afonso Henriques e perceberá as semelhanças entre a independência de Brasil e Portugal.


Estátua de Dom Pedro IV na Praça do Rossio, centro de Lisboa.

quarta-feira, 11 de maio de 2022

AVIVAMENTO METODISTA E AÇÃO SOCIAL



Quando falamos do avivamento metodista com John Wesley, Charles Wesley e George Whitefield, o que vem à mente dos conhecedores do assunto é de grandes reuniões ao ar livre, pessoas caindo ao chão, chorando durante a pregação, manifestações do Espírito Santo e hinos de louvor a Deus.
Mas no avivamento metodista houve muito mais que isto. No século XVIII estava acontecendo a chamada Revolução Industrial, a sociedade inglesa estava mudando, deixando de ser rural e se tornando urbana, as pessoas deixando a atividade agrária e se tornando operárias e com isso as mazelas que a acompanham como a exploração do trabalhador, baixos salários, muitas horas de trabalho. E no Avivamento Metodista, eles lutaram contra isso. 
John Wesley enfatizou princípios divinos que deveriam ser respeitados, como por exemplo: a valorização de todo ser humano como digno e igual, inclusive quanto ao sexo, raça, nível socioeconômico; o amor ao próximo, a renúncia pessoal, a denúncia da injustiça, a honestidade. Em Wesley, vemos uma preocupação com a totalidade do ser humano, incluindo também a dimensão social.
Os Metodistas ingleses entenderam que não bastava a pregação da Palavra, mas também a ação social era necessária. Como mostrado na epístola de Tiago:

“Meus irmãos, qual é o proveito, se alguém disser que tem fé, mas não tiver obras? Pode, acaso, semelhante fé salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã estiverem carecidos de roupa e necessitados do alimento cotidiano, e qualquer dentre vós lhes disser: Ide em paz, aquecei-vos e fartai-vos, sem, contudo, lhes dar o necessário para o corpo, qual é o proveito disso? ” (Tiago 2:14-16). 

Movido por estes valores, Wesley envolveu-se na luta contra muitos problemas sociais do seu tempo, como a imoralidade, o crime, a pobreza, a enfermidade, a educação, a escravidão, as questões trabalhistas, etc.
Como resultado do envolvimento social de Wesley e dos metodistas primitivos, podemos apontar pelo menos quatro grandes consequências na Inglaterra: Abolição da Escravatura, Reforma Carcerária, Reforma Educacional e Reforma Trabalhista.
O movimento wesleyano reveste-se assim de uma relevância enorme, ao desvendar não somente aspectos teológicos do relacionamento íntimo com Deus, mas também do relacionamento do cristão com a sociedade na qual está envolvido. Exatamente por estas características, gerou-se a grande reforma na sociedade inglesa, e na sequência, essa influência religiosa e social pode ser associada com o avivamento inglês e americano do século XIX, o qual propagou-se depois por todo o mundo.