Quando poder, política e religião se misturam
Eraldo Luis P. Gasparini
Quando poder, política e religião se misturam
Eraldo Luis P. Gasparini
Sola Fide
(somente a fé): este princípio afirma que o homem é justificado única e
exclusivamente pela fé, sem o acréscimo das obras do mérito humano e, por meio
dele, a tradição reformada é sustentada (Atos 13:39; Romanos 5:1; Gálatas 2:16).
Sola Scriptura (somente a Escritura): A Escritura é a única regra de fé e prática da
igreja e o protestantismo aceita doutrinas de sua inspiração, autoridade,
inerrância, clareza, necessidade e suficiência. Somente as Escrituras são o fundamento
da teologia reformada. Os reformadores defenderam que todo crente em Cristo tem
o direito e o dever de examinar as Escrituras, não a livre interpretação, mas o
livre exame das Escrituras (II Pedro 1:20-21; II Timóteo 3:16-17).
Solus Christus (somente Cristo): como forma de reação dos protestantes contra a Igreja
Católica Romana secularizada e contra os sacerdotes que afirmavam ter uma
posição especial e serem mediadores da graça e do perdão por meio dos
sacramentos que ministravam. A reforma defendeu que tal mediação entre o homem
e Deus é feita somente por Cristo, único capaz de salvar a humanidade e o tema
central da reforma protestante (João
14:6; I Timóteo 2:5; Atos 4:11-12).
Sola Gratia
(somente a Graça): Além de a graça ser um dos atributos de Deus é, também, o
próprio Cristo (em sua encarnação) e é o Espírito Santo quem aplica a graça ao
coração do pecador. A graça comum é
comunicada a todos os homens, indistintamente. Mas, graça especial é
soteriológica (salvadora) e por meio dela que o homem é salvo, quando há a
comunicação da salvação de Deus ao pecador. "Sola
gratia" diz respeito a tudo que o homem possui (graça comum) e, em
especial, à salvação que é dada pela graça somente. Graça especial somente, por
meio da qual o homem é regenerado, justificado, santificado, glorificado,
recebe dons espirituais, talentos para o serviço cristão e as bênçãos de Deus
(Romanos 3:23-24; Romanos 5:15; Efésios 1:5-7; 2:8-9).
Soli Deo Gloria (somente a Deus a glória): este pilar da teologia reformada afirma que o
homem foi criado para a glória de Deus e que tudo que ele fizer deve ser
destinado a glorificar a Deus. Esta sola enfatiza que toda a glória deve ser
dada somente a Deus, e não a qualquer ser humano, objeto, imagem, instituição
ou intermediário religioso (Êxodo 20:3-5; Isaias 42:8; Romanos 11:36; I
Coríntios 10:31).
Os
Cinco Solas da Reforma Protestante expressam a essência da fé protestante e
evangélica, essência essa que precisa ser relembrada nos dias de hoje, pois
quem esquece o passado corre o risco de cometer os mesmos erros no presente.
Eraldo Luis P. Gasparini
Durante a Reforma
Protestante, os reformadores lutaram pela separação entre Igreja e Estado,
entre política e religião. Calvino, por exemplo, ensinou que, embora ambos os
regimes fossem de origem divina, se deveria preservar a distinção entre eles. A
Igreja não deveria se misturar ao Estado. A Igreja não poderia se intrometer nos
assuntos do Estado, nem este se intrometer nos assuntos daquela.
Me vejo decepcionado
com o meio cristão evangélico nestas últimas eleições presidenciais (2022) onde
pastores falaram de púlpito que quem vota em Lula é do diabo. Os pastores sendo
candidatos a cargo públicos já é coisa de praxe, porém nesta última eleição as
coisas extrapolaram o limite do bom senso, inflamaram uma espécie de “guerra
santa” a todos que não votassem em Bolsonaro.
Isto é terrível,
pois contrasta com o espírito da Reforma Protestante que buscou aquele mesmo
sentimento contido nos evangelhos “daí a César o que é de César e a Deus o que
é de Deus” (Mateus 22:21).
Historicamente
falando toda vez que a Igreja de Cristo se envolveu em política dois fatos
aconteceram, primeiro ela caiu em descrédito, segundo ela apostatou da fé. Os
Monges se retirando para os desertos e montanhas foi uma reação a Igreja que
havia se aliado ao Império Romano. Os Menonitas com suas comunidades rurais apartadas
foi uma tentativa de manter puro o evangelho. É lógico que muitas ações podem ser
contestadas, mas o espírito é o de que a religião não deve se meter na
política.
O que estou querendo dizer não é que o cristão não pode participar da política. O cristão como cidadão deve participar da política, mas o que não deve ser feito é usar o púlpito como palanque eleitoral para promover este ou aquele candidato. Se o cristão evangélico quiser fazer política partidária, o deve fazer fora das cercanias da Igreja.
Culto não é comício, púlpito não é palanque, pregação não é discurso político.
Porém um espírito mundano se apoderou dos rincões evangélicos, um sentimento faccioso e intolerante se fez surgir no meio cristão evangélico.
E eu vejo isso com
muita lástima e tristeza, percebendo também que não posso fazer nada, pois os ânimos
estão inflamados e as pessoas tomadas pela emoção. A única coisa que posso
fazer é escrever estas palavras e orar a Deus para que Ele tenha misericórdia
de nós.