quinta-feira, 16 de maio de 2013

A BÍBLIA POLITICAMENTE CORRETA

Eraldo Luis Pagani Gasparini

Há algum tempo ministrei uma aula sobre a “Bíblia politicamente correta” e achei por bem expressar a minha opinião sobre o assunto. Darei o meu parecer como historiador nesse caso, pois não sou teólogo.

A primeira coisa que devemos entender é que o termo “Politicamente Correto” surgiu em meados da década de 70 e 80 do século XX no Ocidente, ou seja, Europa e Estados Unidos da América. Este termo está relacionado aos movimentos sociais que buscavam combater a discriminação quer de raça, gênero ou orientação sexual. Isso é importante frisar, pois até então a Bíblia era considerado um livro sagrado pertencente a humanidade, bem como uma fonte histórica. Contudo na evolução desse movimento entendeu-se que a Bíblia era à base de muitas discriminações, principalmente de sexo. E partindo desse pressuposto começaram a combater tais citações, aparentemente, “politicamente incorretas” na Bíblia. Esse movimento tendo alcançado as instituições teológicas, principalmente na Europa e Estados Unidos começaram a produzir aquilo que foi denominado como “Bíblia politicamente correta”, com a alteração dos textos em que se havia a supremacia do sexo masculino ou de teor racista.

A Bíblia pode ser considerada um livro sagrado, mas também é uma fonte histórica, colocar uma tradução que se adapte ao mundo contemporâneo é um anacronismo. É como alterar a Odisseia de Homero ou Otelo de Willian Shakespeare. Esses livros contêm muitas passagens que podem ser consideradas politicamente incorretas. Todavia como fonte histórica demonstram a cultura, os medos, os anseios, os costumes, os valores, os ideais de uma parcela da humanidade em determinada época. Negar ou alterar isso é desconstruir o presente, passar que o que somos agora sempre fomos no passado, é negar as lutas de centenas de pessoas que passaram pela história para chegar onde chegamos.

A Bíblia é o que é, se uma pessoa quer seguir os ensinos contidos nela é uma opção desta pessoa. Alterar o conteúdo da Bíblia é uma ingerência de uma minoria intelectual sobre algo que não lhe diz respeito. O que se quer na verdade é construir uma nova realidade, uma nova sociedade pela manipulação de suas instituições, tradições e herança cultural. Se querem abandonar o Cristianismo que o abandonem, mas não o transformem naquilo que ele não é.