A BÍBLIA POLITICAMENTE CORRETA
Eraldo Luis Pagani Gasparini
Há algum tempo ministrei uma aula
sobre a “Bíblia politicamente correta” e achei por bem expressar a minha
opinião sobre o assunto. Darei o meu parecer como historiador nesse caso, pois
não sou teólogo.
A primeira coisa que devemos
entender é que o termo “Politicamente Correto” surgiu em meados da década de 70
e 80 do século XX no Ocidente, ou seja, Europa e Estados Unidos da América. Este
termo está relacionado aos movimentos sociais que buscavam combater a
discriminação quer de raça, gênero ou orientação sexual. Isso é importante
frisar, pois até então a Bíblia era considerado um livro sagrado pertencente a
humanidade, bem como uma fonte histórica. Contudo na evolução desse movimento
entendeu-se que a Bíblia era à base de muitas discriminações, principalmente de
sexo. E partindo desse pressuposto começaram a combater tais citações,
aparentemente, “politicamente incorretas” na Bíblia. Esse movimento tendo
alcançado as instituições teológicas, principalmente na Europa e Estados Unidos
começaram a produzir aquilo que foi denominado como “Bíblia politicamente
correta”, com a alteração dos textos em que se havia a supremacia do sexo
masculino ou de teor racista.
A Bíblia pode ser considerada um
livro sagrado, mas também é uma fonte histórica, colocar uma tradução que se
adapte ao mundo contemporâneo é um anacronismo. É como alterar a Odisseia de
Homero ou Otelo de Willian Shakespeare. Esses livros contêm muitas passagens
que podem ser consideradas politicamente incorretas. Todavia como fonte
histórica demonstram a cultura, os medos, os anseios, os costumes, os valores,
os ideais de uma parcela da humanidade em determinada época. Negar ou alterar
isso é desconstruir o presente, passar que o que somos agora sempre fomos no
passado, é negar as lutas de centenas de pessoas que passaram pela história
para chegar onde chegamos.
A Bíblia é o que é, se uma pessoa
quer seguir os ensinos contidos nela é uma opção desta pessoa. Alterar o
conteúdo da Bíblia é uma ingerência de uma minoria intelectual sobre algo que
não lhe diz respeito. O que se quer na verdade é construir uma nova realidade,
uma nova sociedade pela manipulação de suas instituições, tradições e herança
cultural. Se querem abandonar o Cristianismo que o abandonem, mas não o transformem
naquilo que ele não é.