sexta-feira, 4 de março de 2011

MONOTEÍSMO PRIMITIVO

Eraldo Luis Pagani Gasparini

O objetivo deste artigo é de divulgar sobre uma teoria que tem sido muito pouco comentada e abordada no meio da História das Religiões, a teoria sobre o Monoteísmo Primitivo. Entre as inúmeras teorias da origem das religiões está a Teoria do Monoteísmo Primitivo desenvolvida por Wilhelm Schmidt. Esta teoria afirma que no inicio do fenômeno religioso o homem não era animista, nem totêmico e nem politeísta, mas sim monoteísta.

VIDA
Wilhelm Schmidt nasceu em Hörde, Alemanha, em 1868 e morreu em 1954, de causas naturais, na idade de 86 anos. Já como um jovem conheceu os missionários cristãos e dedicou sua vida ao serviço dos outros. Em 1890, entrou para a ordem Católica Romana da Sociedade do Verbo Divino e foi ordenado padre em 1892. Depois ele passou a estudar lingüística nas Universidades de Berlim e Viena.
Em 1906, Schmidt fundou a revista Anthropos e em 1931, o Instituto Anthropos, que dirigiu de 1932-1950. Em 1938, devido a sua forte oposição às idéias nazistas de Racismo Evolucionário, Schmidt teve que fugir da Áustria ocupada pelos nazistas para Friburgo, na Suíça. A revista Anthropos e o instituto foram juntos com ele. Após sua morte, ambos foram realocados em Sankt Augustin, perto de Bonn, na Alemanha, onde permanecem em operação.
Wilhelm Schmidt trabalhou como professor na Universidade de Viena, 1921-1938, e na Universidade de Freiburg , na Suíça, 1939-1951. Schmidt recebeu inúmeros prêmios e reconhecimentos, e foi nomeado presidente do IV Congresso Internacional de Ciências Antropológicas e Etnológicas. Ele estabeleceu o departamento etnológico do Museu Missionário Etnológico no Vaticano em 1925, servindo como seu diretor de 1927 a 1939. Schmidt publicou mais de seiscentos livros e artigos. Suas obras disponíveis em tradução Inglesa incluem: A origem e o crescimento da Religião (1931), Deuses Superiores na América do Norte (1933), O Método histórico cultural de Etnologia (1939) e Apocalipse Primitivo (1939).

A TEORIA DO MONOTEÍSMO PRIMITIVO
Em suas pesquisas Wilhelm Schmidt começou a colher o relato de vários missionários entre povos tribais. Nestes relatos havia uma singularidade, esses povos afirmavam já conhecer esse Deus que os missionários traziam e que na essência de suas religiões estava um deus, único, supremo, que habitava os céus.
De 1912 até sua morte em 1954, Schmidt publicou seus 12 volumes Der Ursprung der Gottesidee ( A Origem da Idéia de Deus ). Nesta obra ele explicou a sua teoria do monoteísmo primitivo de que a religião em quase todos os povos tribais começou com um conceito essencialmente monoteísta de um grande deus (geralmente um deus-céu), que era um criador benevolente. Ele argumentou que todas as culturas primitivas no mundo tem essa noção de um deus supremo. Eles adoram uma única divindade, superior, onisciente e essencialmente similar ao Deus do cristianismo. Aqui estão algumas crenças típicas que ele observou:
· Deus vive no, ou acima, do céu;
· Ele é como um homem, ou um pai;
· Ele é o criador de tudo;
· Ele é eterno;
· Ele é onisciente;
· Tudo que é bom fundamentalmente vem Dele e Ele é o doador da lei moral;
· Ele julga as pessoas após sua morte;
· As pessoas estão alienadas dele devido a algum delito no passado;
· Ele é muitas vezes suplantado pelos deuses nas religiões que são "mais acessíveis", mas muitas vezes as religiões carregam uma memória distante deste "Deus-Céu" com quem perderam contato.

Baseado em suas descobertas, Schmidt afirmou que todos os povos originalmente acreditavam em um deus único. No entanto, devido à rebelião contra Ele, essas pessoas alienaram-se dele e seu conhecimento de Deus foi perdido.
O que Wilhelm Schmidt estava propondo era que as religiões primitivas não eram politeístas, como se acreditava, mas que começou como monoteístas. Assim, de acordo com Schmidt, o monoteísmo é o mais antigo sistema religioso no mundo. Ele se opõe fortemente a Sigmund Freud na formulação do totemismo como a religião mais antiga, alegando que muitas culturas no mundo nunca passaram pela fase de totemismo. Freud, em contrapartida, criticou o trabalho de Schmidt.

A AUSÊNCIA ACADÊMICA
A teoria de Schmidt não tem sido muito aceita. Mas não somente isso, ela também não tem sido sequer analisada nos meios acadêmicos brasileiros. A única obra dele traduzida para o português foi Etnologia sul-americana: círculos culturais e extratos culturais na América do Sul, que fazia parte da Coleção Brasiliana publicada pela extinta Companhia Editora Nacional.
Uma das teorias mais comumente abordadas para o início da Religião é a teoria do antropólogo britânico Edward B. Tylor (1832-1917). Tylor influenciado pela Teoria da Evolução de Darwin vai afirmar que a partir de uma crença simples, o animismo, é que a Religião surgiu, assim de acordo com a evolução do gênero humano a religião também evoluiu. Sua teoria foi usada pelos nazistas durante a Segunda Mundial para justificar o Racismo Evolucionário. A teoria de Tylor não tem comprovação empírica, ela não se demonstra na realidade. Contudo sua teoria tem sido abordada e a de Schmidt não.
Questões ficam em aberto: Por que um pesquisador que deu tão grandes contribuições em lingüística, etnologia e religião não têm uma obra sequer publicada em português? Por que na História das Religiões, campo de pesquisa que tem se mostrado promissor, não aborda suas teorias? Ainda que discutíveis em suas conclusões, por que não aborda-la?
Rubem Alves faz uma crítica ao meio cientifico ao notar que muitas vezes este se comporta como o meio religioso com os seus “Index” estabelecendo uma espécie de “censura” intelectual de algumas obras. Não estaria a vítima se tornando como seus algozes do passado?


Referências:
RICHARDSON, Don. O Fator Melquisedeque. São Paulo: Editora Vida Nova, 1986.
SCHMIDT, Wilhelm. “The Origin of the Idea of God". New York: Ernest Brandewie - Worldcat Librarie, 1912.
SCHMIDT, WILHELM. Disponível em:
http://en.wikipedia.org/w/index.php?title=Wilhelm_Schmidt&oldid=36332032 (original em inglês). Data de acesso: 27 fev. 2011.

A FÉ PROTESTANTE NO PERÌODO COLONIAL - Parte 2

Eraldo Luis P. Gasparini


O BRASIL HOLANDÊS

Não só os franceses, mas também os holandeses também quiseram se estabelecer no Brasil e procuraram no século XVII formarem uma colônia. A motivação econômica destes, diferentemente dos franceses, foi o açúcar e política foi uma rivalidade com os espanhóis. Portugal e Espanha de 1580 a 1640 foram uma só nação, a União Ibérica. Para garantir seu comércio de açúcar, produto muito cobiçado na Europa naquela época, os holandeses criaram a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. E para fazer isso decidem invadir as áreas produtoras de açúcar na América, em especial o Brasil.

Após várias tentativas no Rio de Janeiro e Salvador, tropas holandesas ocuparam, em fevereiro de 1630, o Pernambuco e criaram no nordeste brasileiro a Nova Holanda. Eles chegaram em cerca de 67 navios com 3.700 tripulantes, 3.500 soldados e 1.170 canhões. Após muitas batalhas as cidades de Olinda e Recife ficaram sob domínio holandês.

Dentro deste trabalho o ponto importante é quando chega o conde alemão João Maurício de Nassau-Siegen. Entre 1637 e 1644 o conde João Maurício de Nassau-Siegen governou o domínio holandês, realizou melhoramentos urbanos no Recife e desenvolveu uma política de entendimento com proprietários de engenhos e comerciantes portugueses. Simultaneamente, a Companhia ampliava seus investimentos nos engenhos pernambucanos, emprestava dinheiro aos senhores de engenho e avançava militarmente sobre outras regiões. Com estas medidas Maurício de Nassau ganhou a simpatia dos proprietários de terra. Durante os sete anos em que governou o Brasil holandês em Pernambuco, entre outras obras, construiu pontes, drenou alagados e criou um jardim zoológico. Preocupado com o abastecimento, incentivou o plantio da mandioca e das frutas (como o caju). Cercou-se de intelectuais e artistas, destacando-se os pintores Franz Post e Albert Eckhout que retrataram em suas telas a flora e os costumes do Brasil.

Não são poucos os estudiosos que tecem elogios a esta figura da história brasileira por seu espírito renovador, incentivador das artes e da cultura e tolerante nos campos político e religioso. Ao contrário de Villegaignon, Maurício de Nassau era um calvinista convicto. Nos meses de agosto e setembro de 1640 Maurício de Nassau convocou um parlamento para criar uma legislação para o Brasil holandês. Durante este parlamento foi fixado o princípio de tolerância religiosa entre protestantes, católicos e judeus. Por causa deste espírito tolerante, muitos judeus e protestantes se fixaram no Brasil holandês.

A Holanda havia se tornado um país protestante e era prática naquela época enviar um pastor acompanhar seus soldados para atende-los em suas necessidades espirituais, da mesma maneira como junto aos soldados portugueses era enviado um padre. A Igreja Cristã Reformada era o nome da igreja protestante na Holanda, esta era uma igreja estatal, ou seja, mantida pelo estado. De acordo com Frans Leonard Schalkwijk durante os anos de ocupação holandesa foram organizadas cerca de 22 igrejas protestantes no nordeste. Além de atender as necessidades espirituais dos holandeses, a Igreja Cristã Reformada desenvolveu um trabalho missionário junto aos índios, enviou pregadores, bem como professores para trabalhar com eles; apesar disso, poucos deles foram convertidos .

A Igreja Cristã Reformada na cidade de Recife também instalou congregações de língua inglesa e francesa. Devido à caótica situação matrimonial em que se encontrava a colônia, ela emitiu o primeiro parecer judicial sobre o divórcio no Brasil; os líderes da igreja sugeriram que depois de determinado tempo, a parte abandonada deveria ser considerada livre da parte desertora, o que deveria ser reconhecido pelo magistrado, dando assim oportunidade a um novo matrimônio.

Em maio de 1644, devido a desavenças com a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, Maurício de Nassau deixa o cargo de governador e parte de volta para a Europa. No ano seguinte os proprietários de terra se rebelam contra o domínio holandês, com a Insurreição Pernambucana. A luta vai até 1654, quando os holandeses deixam a região. Como observou Frans Leonard Schalkwijk: “a Igreja Cristã Reformada veio para o Brasil sob a bandeira holandesa e foi expulsa junto com a mesma” .

E desta maneira termina as incursões da fé protestante no Brasil durante o período colonial. Somente no século XIX, é que a mesma vai se fazer presente novamente no Brasil.
 

REFERÊNCIA:
SCHALKWIJK, Frans Leonard. Índios protestantes no Brasil Holandês. História Viva. São Paulo: Duetto Editorial, Ano I, n° 4, 2004.