Eraldo Luis P. Gasparini
O presente trabalho tem por objetivo demonstrar que a Realidade não pode ser obtida se fazendo uso exclusivo da razão, mas pode ser obtida se, e somente se, também se fizer uso da intuição. Por intuição, eu defino o processo não lógico e não racional para se chegar ao conhecimento de algo.
Durante muitos anos os cientistas acharam que mediante o uso da razão, os seres humanos poderiam chegar ao pleno conhecimento da realidade. O seu principal instrumento de interpretação era a matemática, que muitos achavam ser “a linguagem da natureza”. Contudo a realidade se mostrou mais complexa quando em 1905, Albert Einstein publicou sua Teoria da Relatividade e começou a esfacelar essa “crença” na razão. A Teoria da Relatividade de Einstein possibilitou compreender fenômenos da natureza até então envoltos em mistério. Principalmente os fenômenos subatômicos, que levaram Heisenberg a formular o Princípio da Incerteza que afirma ser impossível medir simultaneamente de forma precisa a posição e a velocidade de uma partícula, como um elétron, por exemplo. Está percepção aumento quando o matemático Kurt Gödel expôs sua Teoria da Incompletude.
O Teorema da incompletude de Gödel:
· Teorema 1: “Qualquer teoria axiomática recursivamente enumerável e capaz de expressar algumas verdades básicas de aritmética não pode ser, ao mesmo tempo, completa e consistente. Ou seja, sempre há em uma teoria consistente proposições verdadeiras que não podem ser demonstradas nem negadas.”
· Teorema 2: “Uma teoria, recursivamente enumerável e capaz de expressar verdades básicas da aritmética e algumas verdades de probabilidade formal, pode provar sua própria consistência se, e somente se, for inconsistente.”
Se em uma teoria matemática há consistência, haverá sentenças que não poderão ser demonstradas. Só é consistente a teoria se a mesma for inconsistente.
De acordo com o físico e cosmólogo Stephen Hawking, o Teorema da Incompletude “afirma que, dentro de qualquer sistema formal de axiomas, como a matemática atual, sempre persistem questões que não podem ser provadas nem refutadas com base nos axiomas que definem o sistema” (HAWKING, 2001, p. 139). Ou seja, os próprios axiomas limitam a obtenção do conhecimento.
O matemático e físico francês Blaise Pascal, já havia exposto tal limitação em sua obra “Pensamentos”. Nela ele contesta o racionalismo com a seguinte frase: “A última tentativa da razão é reconhecer que há uma infinidade de coisas que a ultrapassam. Revelar-se-á fraca se não chegar a percebê-lo” (PASCAL, 1999, p. 103).
“Conhecemos a verdade não só pela razão como também pelo coração” (PASCAL, 1999, p. 104).
O que o matemático Blaise Pascal sabia por intuição, o matemático Kurt Gödel demonstrou racionalmente pelo seu teorema.
A Teoria da Relatividade de Einstein demonstra através de uma analise das propriedades da luz que não somente o espaço é relativo, mas o tempo também. Numa experiência muito conhecida da Física a velocidade de um facho de luz é medida em relação a três referenciais. Em todos os casos a velocidade da luz é a mesma, ou seja, 300.000 km/s. O que se depreende que há um absoluto no Universo, a velocidade da luz, que não varia, mas é constante não importa o referencial. A Teoria da Relatividade demonstrou que não somente o espaço é relativo, mas o tempo também, de acordo com a circunscrição em que este se encontra no Universo. O que para nós situados no planeta Terra pode ser um dia, em determinado ponto da Constelação de Andrômeda poder ser um minuto. Assim Einstein demonstrou ser o tempo uma componente de nosso Universo. O nosso Universo se baseia num tripé formado pelo espaço, a matéria e o tempo. Isso leva-nos a afirmar que antes da existência do universo não havia tempo.
Santo Agostinho chegou a mesma conclusão, embora não tivesse o conhecimento de cálculo e física necessário para chegar a esta conclusão. Eis como ele responde a uma indagação feita sobre o tempo em seu livro Confissões:
Perguntam: "Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?" Ou também: "Como lhe veio à mente a idéia de fazer alguma coisa, já que antes nunca fizera nada?" Concedei-lhes, Senhor, a graça de pensarem bem no que dizem e de saberem que não se emprega o advérbio "nunca", onde não existe o tempo. Por conseguinte, dizer que "Deus nunca fizera nada" não é o mesmo que afirmar que Deus, em nenhum tempo, criara coisa alguma? Que eles vejam que nenhum tempo pode existir sem a criação, e deixem essa linguagem oca. Que estendam também o pensamento por aquelas coisas que estão antes, e entendam que Vós sois, antes de todos os tempos, o eterno Criador de todos os tempos.
Pela intuição, baseada unicamente em seu conhecimento sobre Deus, Santo Agostinho pode afirmar que o tempo também era um elemento do nosso Universo, concordando com a moderna teoria do Cosmos.
O postulado do Cristianismo é de que a realidade só pode ser entendida levando em consideração a existência de Deus, a existência de Deus não pode ser percebida racionalmente, embora pela razão possa se observar o Seu rastro. A existência de Deus, bem como a sua presença só poder ser percebida pela intuição, ou mais especificamente pela fé. Racionalmente falando a existência de Deus não pode ser demonstrada, o que concorda com a Teoria da Incompletude de Gödel, numa teoria matemática SEMPRE haverá sentenças que não poderão ser demonstradas. E se é irracional o uso da fé, recordemos que só é consistente a teoria, se a mesma for inconsistente.
Termino aqui com uma citação de Santo Agostinho que sintetiza bem:
“Intellige ut credas, crede ut intelligas" (É necessário compreender para crer e crer para compreender).
Para compreendermos a realidade razão e fé, lógica e intuição precisam estar unidas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
COLEÇÃO OS PENSADORES: PASCAL. São Paulo: Nova Cultural, 1999.
COLEÇÃO OS PENSADORES: SANTO AGOSTINHO. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1980.
HAWKING, Stephen. O universo numa casca de noz. São Paulo: Arx, 2001.
TEOREMA DA INCOMPLETUDE DE GÖDEL. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_da_incompletude_de_G%C3%B6del. Data de acesso: 14 jun. 2010.