De acordo com o Catecismo da
Igreja Católica Apostólica Romana, a indulgência é:
"(...) a remissão, diante de Deus,
da pena temporal devida pelos pecados já perdoados quanto à culpa, (remissão)
que o fiel bem-disposto obtém, em condições determinadas, pela intervenção da
Igreja que, como dispensadora da redenção, distribui e aplica por sua
autoridade o tesouro das satisfações (isto é, dos méritos) de Cristo e dos
santos."
"A indulgência é parcial ou
plenária, conforme liberar parcial totalmente da pena devida pelos pecados. Todos
os fiéis podem adquirir indulgências (...) para si mesmos ou aplicá-las aos
defuntos”.
O auge dessa
prática se deu durante o pontificado de João de Mediei, o Leão X (1513-1521),
que lançou uma aberta política de venda de indulgências. Verdadeiros
mascates percorreram a Europa vendendo "cartas de indulgência", quase
bônus-Paraíso, que podiam ser comprados sem maiores formalidades, mas
desconcertando muitos crentes genuínos.
Existe um documento chamado Taxa Camarae que foi e ainda é popular na Itália
após a sua publicação no final do livro do espanhol anti-clerical Pepe
Rodriguez, intitulado Mentiras fundamentales de la Iglesia Católica (título em português: verdades e mentiras da Igreja Católica). A Taxa Camarae seria uma lista das indulgências
previstas para os vários pecados, com um tarifário a elas referentes. Muitos críticos históricos a tem como uma falsificação, já que Pepe Rodriguez não cita as fontes documentais da lista. Mas vale a pena conhecê-la quer se trate de uma falsificação ou não, pois de fato existiram tabelas de preços pelo perdão.
O texto a seguir é uma reprodução em português:
O texto a seguir é uma reprodução em português:
Taxa Camarae
1. O eclesiástico que incorrer em pecado carnal, seja com freiras,
primas, sobrinhas, afilhadas ou, enfim, com outra mulher qualquer, será
absolvido mediante o pagamento de 67 libras e 12 soldos.
2. Se o eclesiástico, além do pecado de fornicação, pedir para ser
absolvido do pecado contra a natureza ou de bestialidade, deverá pagar 219 libras e 15 soldos.
Mas se tiver cometido pecado contra a natureza com crianças ou animais, e não
com uma mulher, pagará apenas 131 libras e 15 soldos.
3. O sacerdote que deflorar uma virgem pagará 2 libras e 8 soldos.
5. Os sacerdotes que quiserem viver em concubinato com seus parentes
pagarão 76 libras
e 1 soldo.
6. Para cada pecado de luxúria cometido por um leigo, a absolvição
custará 27 libras
e 1 soldo.
10. Se o assassino tiver matado dois ou mais homens em um único dia,
pagará como se tivesse assassinado um só.
11. O marido que infligir maus-tratos à mulher pagará às caixas da
chancelaria 3 libras
e 4 soldos; se a mulher for morta, pagará 17 libras e 15 soldos; e
se a tiver matado para se casar com outra, pagará mais 32 libras e 9 soldos.
Quem tiver ajudado o marido a perpetrar o crime será absolvido mediante
o pagamento de 2 libras
por cabeça.
12. Quem afogar o próprio filho pagará 17 libras e 15 soldos (ou
seja, 2 libras
a mais que aquele que matar um desconhecido), e se pai e mãe o tiverem matado
de comum acordo, pagarão 27
libras e 1 soldo pela absolvição.
14. Pelo assassinato de um irmão, uma irmã, mãe ou pai, pagar-se-ão 17 libras e 5 soldos.
15. Aquele que matar um bispo ou prelado de hierarquia superior pagará 131 libras , 14 soldos e
6 denários.
16. Se o assassino tiver matado mais sacerdotes em várias ocasiões
pagará 137 libras
e 6 soldos pelo primeiro homicídio e a metade pelos seguintes.
17. O bispo ou abade que cometer homicídio por emboscada, acidente ou
estado de necessidade pagará, para conseguir a absolvição, 179 libras e 14 soldos.
18. Aquele que quiser comprar antecipadamente a absolvição por qualquer
homicídio acidental que possa vir a cometer no futuro pagará 168 libras e 15 soldos.
19. O herege que se converter pagará, pela
absolvição, 269 libras .
O filho do herege que tiver sido queimado, enforcado ou executado de qualquer
outra forma poderá ser readmitido apenas mediante o pagamento de 218 libras , 16 soldos e
9 denários.
20. O eclesiástico que, não podendo pagar os próprios débitos, quiser se
livrar de ser processado pelos credores entregará ao pontífice 17 libras , 8 soldos e 6
denários, e a dívida lhe será perdoada.
21. Será concedida a licença para a instalação de postos de venda de vários
gêneros sob os pórticos das igrejas mediante o pagamento de 45 libras , 19 soldos e 3
denários.
22. O delito de contrabando e fraude aos direitos do príncipe custará 87 libras e 3 denários.
24. O mosteiro que quiser variar a regra e viver com menos abstinência
do que a prescrita pagará 146
libras e 5 soldos.
25. O frade que, por conveniência própria ou gosto, quiser passar a vida
em um ermitério com uma mulher dará ao tesouro pontifício 45 libras e 19 soldos.
26. O apóstata vagabundo que quiser viver sem obstáculos pagará igual
quantia pela absolvição.
27. Igual montante pagarão os religiosos, sejam eles seculares ou
regulares, que queiram viajar em trajes de leigo.
28. O filho bastardo de um sacerdote que queira preferência para suceder
o pai na cúria pagará 27
libras e 1 soldo.
29. O bastardo que queira receber ordens sagradas e gozar de seus
benefícios pagará 15
libras , 18 soldos e 6 denários.
30. O filho de pais desconhecidos que queira entrar para as ordens
pagará ao tesouro pontifício 27
libras e 1 soldo.
31. Os leigos feios ou deformados que queiram receber ordenamentos sagrados
e ter benefícios pagarão à chancelaria apostólica 58 libras e 2 soldos.
32. Igual quantia pagará o vesgo do olho direito, enquanto o vesgo do
olho esquerdo pagará ao papa 10
libras e 7 soldos. Os estrábicos bilaterais pagarão 45 libras e 3 soldos.
33. Os eunucos que queiram entrar para as ordens pagarão a quantia de 310 libras e 15 soldos.
34. Aquele que, por simonia, queira comprar um ou muitos benefícios se
dirigirá aos tesoureiros do papa, que lhe venderão os direitos a preços
módicos.
35. Aquele que, tendo descumprido um juramento, queira evitar qualquer
perseguição e se livrar de qualquer tipo de infâmia pagará ao papa 131 libras e 15 soldos.
Além disso, dará 3 libras
para cada um que ouviu o juramento.